Mais uma vez, autoridades de 138 países juntaram forças para deflagrar uma operação global contra o tráfico de animais silvestres e madeira. Coordenada pela Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol), em parceria com a Organização Mundial das Alfândegas (WCO), a Operation Thunder (Trovão, em português) foi realizada nos meses de novembro e dezembro de 2024 e teve seus resultados divulgados há poucos dias: cerca de 20 mil animais vivos, todos de espécies ameaçadas ou protegidas, foram apreendidos.
Durante as três semanas da operação, 365 pessoas foram presas, suspeitas de envolvimento com o tráfico, e foram identificadas seis organizações criminosas transnacionais, que atendem a demandas específicas do mercado ilegal, seja para a produção de alimentos, remédios para a medicina tradicional asiática, acessórios de moda ou ainda, colecionadores de espécies exóticas de animais, bichos de estimação e de competição.
Entre os animais apreendidos estão grandes felinos, pássaros, pangolins, primatas e répteis, muitos transportados vivos, dentro de bagagens, como é possível ver pelas imagens inacreditáveis de raio-x abaixo. Aves representam a imensa maioria das apreensões, contando com mais de 12 mil delas. Em seguida aparecem tartarugas (5.877).
Além de animais vivos, a operação apreendeu milhares de partes e derivados de espécies protegidas da fauna e da flora. Só de madeira e toras, encontradas em carregamentos de navio, foram mais de 200 toneladas. Em apenas três semanas!
“A Operação Thunder continua a lançar luz sobre um crime que muitas vezes não é uma prioridade para os agentes da lei. Por meio de nossos esforços conjuntos, estabelecemos mecanismos de cooperação que facilitam a troca de informações e inteligência, e refinamos nossas estratégias de execução”, diz Ian Saunders, secretário-geral da WCO.
Sempre que possível, especialistas forenses em vida selvagem fazem a coleta de amostras de DNA antes de transferir os animais para centros de conservação, pois assim conseguem confirmar o tipo de espécie e sua origem ou distribuição, esclarecendo novas rotas de tráfico e tendências emergentes. A ferramenta ajuda ainda a possível repatriação dos animais a seus habitats originais.
“Redes de crime organizado estão lucrando com a demanda por plantas e animais raros, explorando a natureza para alimentar a ganância humana. Isso tem consequências de longo alcance: provoca perda de biodiversidade, destrói comunidades, contribui para as mudanças climáticas e até alimenta conflitos e instabilidade”, destaca Valdecy Urquiza, secretário-geral da Interpol.
Entre as instituições que financiaram a realização da Operação Thunder está a USAID, organização dos Estados Unidos que o presidente Donald Trump e Elon Musk anunciaram o fechamento na semana passada.
Principais apreensões da operação em 2024
Indonésia: 134 toneladas de madeira enviadas para a Ásia via frete marítimo;
Quênia: 41 toneladas de madeira exótica enviadas para a Ásia via frete marítimo;
Nigéria: 4.472 kg de escamas de pangolins;
Turquia: 6.500 pássaros canoros vivos descobertos durante uma inspeção de veículo na fronteira com a Síria;
Índia: 5.193 tartarugas ornamentais de orelhas vermelhas vivas escondidas em malas de passageiros chegando da Malásia no Aeroporto de Chennai;
Peru: 3.700 plantas protegidas interceptadas na rota do Equador;
Catar: oito chifres de rinoceronte encontrados na bagagem de um suspeito durante o trânsito de Moçambique para a Tailândia;
Estados Unidos: uma tonelada de pepinos-do-mar, considerados uma iguaria de frutos do mar, contrabandeada da Nicarágua;
Hong Kong, China: 973 kg de barbatanas de tubarão secas originárias do Marrocos apreendidas no aeroporto;
República Tcheca: oito tigres, com idades entre dois meses e dois anos, descobertos em um suposto centro de criação ilegal;
Indonésia: 846 pedaços de pele reticulada de píton, a maior espécie de cobra do mundo, escondidos a bordo de um navio;
Austrália e Reino Unido relataram apreensões de bílis de urso, frequentemente usada na medicina tradicional.
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Foto de abertura: divulgação World Customs Organization (WCO)