Uma área do tamanho do estado inteiro do Acre foi devastada pelo fogo entre janeiro e dezembro do ano passado. Foram 16,3 milhões de hectares queimados por incêndios em 2022, segundo dados divulgados pelo Monitor do Fogo, uma iniciativa do MapBiomas Fogo em parceria com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM). É um aumento de 14% em comparação ao ano anterior – 2 milhões de hectares a mais.
Segundo o levantamento divulgado há poucos dias, os biomas Amazônia e Cerrado concentram 95% dessa destruição. Agosto, setembro e outubro foram os meses em que mais áreas foram queimadas. No primeiro foram 7,9 milhões de hectares queimados (49%) e no segundo, 7,4 milhões de hectares (45%).
São analisados os diferentes tipos de áreas afetadas pelo fogo. No caso de florestas, por exemplo, houve um aumento de 93% nos incêndios em relação a 2021 – e desse total, 85% ocorreu na Amazônia. O Pará é o estado que aparece no topo do ranking daqueles atingidos pelo fogo, da mesma maneira que foi o número 1 no desmatamento (leia mais aqui).
“Podemos constatar que as florestas do Brasil, principalmente as da Amazônia, estão sendo altamente impactadas por incêndios. Em condições naturais isso não deveria estar acontecendo, o que indica um claro impacto da ação humana no aumento do fogo e da degradação dessas florestas”, alerta Ane Alencar, diretora de Ciência no IPAM e coordenadora do MapBiomas Fogo.
Especialistas apontam que 95% do fogo na Amazônia é provocado pelo homem e não causas naturais. A agricultura ainda usa a queimada como prática rotineira. Além disso, áreas desmatadas estão muito mais propensas a pegar fogo. Como pano de fundo, as mudanças climáticas têm feito com o que o bioma fique cada vez mais seco. Nas últimas duas décadas, foram registrados quatro grandes episódios de seca extrema na região.
“O fogo na Amazônia está diretamente relacionado ao desmatamento no bioma, pois a prática do uso do fogo é frequentemente utilizada para remover a vegetação densa e preparar o solo para atividades agrícolas ou pecuárias”, ressalta Luiz Felipe Martenexen, pesquisador no IPAM. “A falta de medidas de proteção eficazes contribuiu para a intensificação dos incêndios e tem provocado graves prejuízos para o meio ambiente, incluindo a emissão de gases de efeito estufa, perda da biodiversidade, além de comprometer a qualidade do ar”.
O que mais choca é saber que 70% de tudo o que foi queimado era coberto por vegetação nativa, em maior extensão, as formações savânicas e campestres, encontradas no Cerrado. Os estados mais impactados pelo fogo neste bioma em 2022 foram Mato Grosso, Tocantins e Maranhão.
“Apesar de o fogo fazer parte da dinâmica do Cerrado, a ação humana é prejudicial para o bom funcionamento do ecossistema. Com as queimadas cada vez mais frequentes, a vegetação vai perdendo sua capacidade de recuperação. A situação se agrava com as mudanças climáticas, que fazem com que o Cerrado fique cada vez mais quente e seco, tornando-o mais suscetível a eventos de fogo em grande escala”, diz Vera Laísa Arruda, pesquisadora no IPAM responsável pelo Monitor do Fogo.
Dados divulgados pelo Monitor do Fogo
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Foto de abertura: Victor Moriyama/Greenpeace, em Altamira, Pará