
2024 foi o ano mais quente da história e os impactos sobre o meio ambiente foram catastróficos. A Amazônia enfrentou um período de estiagem extrema, com rios secando e a fumaça das queimadas se espalhando por todo o bioma. Foram registrados quase 140 mil incêndios, um aumento de 43% em relação a 2023, mesmo com o desmatamento em queda.
O resultado disso se espelha no relatório Global Forest Watch*, divulgado nesta quarta-feira (21/05) pelo World Resources Institute (WRI), que aponta uma perda recorde de florestas tropicais primárias no mundo, o pior resultado das últimas duas décadas. E o Brasil, que abriga o maior volume dessas florestas do que qualquer outro país, representou 42% de toda essa perda.
Florestas tropicais primárias são áreas de florestas maduras, importantíssimas para a conservação da biodiversidade, fornecimento de água e o armazenamento de carbono. A análise divulgada pelo WRI, baseada em dados do laboratório GLAD da Universidade de Maryland (EUA), só leva em conta a perda de árvores que tenham, no mínimo, 5 metros de altura.
De acordo com o levantamento, em 2024 os trópicos perderam 6,7 milhões de hectares de florestas primárias, uma área quase do tamanho do Panamá – é como se 18 campos de futebol tivessem desaparecido por minuto, quase o dobro da taxa registrada em 2023.
O que mais chamou a atenção dos especialistas envolvidos na elaboração do relatório foi o papel dos incêndios nessa devastação. Eles representaram quase 50% das causas das perdas, e afetaram regiões de florestas boreais também, como no Canadá e na Rússia, que sofreram o impacto do fogo.
Entre os países citados como aqueles que conseguiram obter avanços no combate ao desmatamento a Indonésia e a Malásia, que registraram menos perda de floresta primária do que em 2023, “com taxas significativamente inferiores às de uma década atrás”, revela o levantamento do WRI.
Brasil precisa fazer mais
O estudo do World Resources Institute ressalta que, embora o governo atual do presidente Lula tenha conseguido reduzir o desmatamento, a expansão agropecuária ainda é um grande desafio. “Em nível estadual, tanto Mato Grosso quanto Rondônia propuseram ou aprovaram a legislação para enfraquecer moratórias históricas destinadas a reduzir o desmatamento. Essas leis podem ter efeitos negativos, uma vez que o próprio desmatamento induz mudanças nas chuvas que podem reduzir a produção agrícola, exigindo ainda mais terras agrícolas”, alerta o relatório.
Abaixo alguns dos pontos levantados pela análise:
- O bioma amazônico teve a maior perda desde o recorde em 2016, saltando 110% de 2023 a 2024. 60% foi devido a incêndios. A expansão agrícola é uma grande causa, com a grande maioria do desmatamento recente considerada ilegal;
- O Pantanal teve o maior percentual de queda de cobertura arbórea de qualquer bioma, perdendo 1,6% de sua cobertura arbórea (mais do que o dobro da taxa de 0,83% para todo o Brasil). 57% foi devido a incêndios. Pesquisas mostram que incêndios no bioma agora estão 40% mais intensos do que estariam sem as mudanças climáticas;
- A perda de cobertura arbórea diminuiu em outros biomas, com exceção da Mata Atlântica. Nas savanas do Cerrado brasileiro, toda a perda de cobertura arbórea diminuiu 14% de 2023 a 2024, embora isso esteja dentro das flutuações anuais normais.
Em 2023, o Brasil teve a menor perda de florestas tropicais primárias desde 2015, com uma redução de 36%.
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*O Global Forest Watch se difere do Prodes, o sistema de monitoramento do desmatamento da Amazônia do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), por ter metodologia e período de análise diferentes. O primeiro, por exemplo, faz um levantamento entre janeiro a dezembro de cada ano, enquanto o Prodes abrange de agosto de um ano a julho do ano seguinte
Foto de abertura: Ricardo Stuckert / PR / Fotos Públicas