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Solo da Serra Gaúcha perdeu mais de 85% de carbono com enchentes de 2024

Solo da Serra Gaúcha perdeu mais de 85% de carbono com enchentes de 2024

Por Luiz Cláudio Ferreira*

Por causa das enchentes de abril e maio em 2024 no Rio Grande do Sul, a Serra Gaúcha perdeu mais de 85% do estoque de carbono no solo de pomares da região. A reposição desse importante nutriente pode demorar de 14 a 40 anos. 

As informações são resultado de um estudo divulgado pelo professor de agronomia Gustavo Brunetto, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no seminário RS Resiliência e Sustentabilidade, realizado recentemente na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O evento discutiu temas relativos aos impactos da enchente do ano passado, aspectos das mudanças climáticas e alternativas de soluções para encarar o cenário preocupante.

Brunetto explica que as inundações devem comprometer a fertilidade nas plantações. As cidades da Serra Gaúcha ficaram entre as regiões mais afetadas pela chuva em curto espaço de tempo. “Isso estimulou o escoamento da água na superfície, a transferência de solo de partes mais altas para partes mais baixas e, com isso, nós tivemos importantes consequências e danos”, diz.

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Brunetto revela que o primeiro dano foi a perda de solo, especialmente da camada superficial, já que nem toda a água conseguiu infiltrar. “Por isso, nós tivemos perda de nutrientes que normalmente estão no solo e que são fontes para as plantas, para que elas consigam crescer, produzir e ter um produto de qualidade”. 

Parte da matéria orgânica e dos nutrientes foram para partes baixas do relevo e também, em alguns casos, em águas superficiais. “No futuro, isso poderá gerar contaminação da água. Esse dano ocorreu em virtude do excesso de precipitação. Tivemos perda de solo em áreas não cultivadas e também em áreas cultivadas”. 

Segundo o estudo feito na cidade de Bento Gonçalves, houve também a diminuição dos teores de fósforo nas áreas de deslizamento. “Se as áreas que foram degradadas pelo excesso de chuva forem incorporadas novamente à agricultura, o produtor vai ter que comprar mais fertilizante. Com isso ele vai ter um aumento, provavelmente, do seu custo na propriedade”. 

A perda de fósforo, ressalta Brunetto, pode gerar a contaminação da água. “Nós tivemos uma perda da matéria orgânica do solo. Com isso nós perdemos uma fonte importante que vai disponibilizar nutrientes para as plantas”

Impacto social das enchentes

O professor da UFSM identifica que, para repor nutrientes, é necessário conhecimento e investimento. Ele diz que são necessárias estratégias para que, no futuro, quando isso acontecer novamente, haja possibilidade de minimizar esse problema. Inclusive, aponta ser necessário haver o nivelamento do solo para que o produtor consiga novamente cultivar a sua área. 

O pesquisador reitera que o caminho é utilizar técnicas reconhecidas e aceitas na área da agronomia, como a calagem (prática para corrigir a acidez, neutralizar o alumínio e fornecer cálcio e magnésio) e adubação. “É preciso executarmos o uso de plantas de cobertura que podem ser utilizadas”

Brunetto defende práticas de manejo chamadas de conservacionistas. Além do uso de plantas de cobertura, uso de terraços em áreas, por exemplo, de culturas frutíferas perenes. “É uma forma de reter a água, estimular a infiltração da água, diminuir a perda de água e de solo

Solo da Serra Gaúcha perdeu mais de 85% de carbono com enchentes de 2024
A cidade gaúcha de Eldorado do Sul tomada pela água em maio de 2024
Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Além do diagnóstico sobre o solo, o evento apontou outros impactos, como o social. O professor de economia Gibran Teixeira, da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), explicou que as enchentes no Estado deixaram um desastre que requer políticas públicas diante das perdas de postos de trabalho e queda de arrecadação

Para se ter uma ideia, ele exemplificou que, nos municípios com apenas 10% da população afetada, houve uma perda de quatro empregos a cada mil habitantes, além de queda salarial e de assistência de saúde. “Quanto maior for a exposição do município à área de inundação, mais há perdas de emprego formal, queda na arrecadação municipal, aumento de casos de leptospirose, redução de visitas e toda assistência básica em saúde”, diz o professor.  

Nas cidades com maior nível de exposição (com mais de 50% da população afetada), houve o maior volume de queda de empregos formal, de admissões, e, por consequência, maior diminuição de ICMS. “Paralisou praticamente a economia do estado e principalmente esses municípios que tiveram um maior nível de exposição à inundação”, ressaltou.

*Texto publicado originalmente pela Agência Brasil em 15/03/25

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Foto de abertura: Raffa Neddermeyer/Agência Brasil

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