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Com descoberta de novas espécies de margaridas, pesquisador brasileiro mostra superação de barreiras e preconceitos

Com descoberta de novas espécies de margaridas, pesquisador brasileiro mostra superação de barreiras e preconceitos

Recentemente foram descritas três novas espécies de margaridas na região da Serra do Espinhaço, em Minas Gerais. O que faz essa descoberta ser tão especial é o autor principal por trás desse trabalho científico, o doutor em botânica Vinícius Bueno, que ao longo das últimas décadas, esteve envolvido na descrição de 20 novas espécies de plantas brasileiras para a ciência. Para poder se dedicar à sua grande paixão, o pesquisador da Fundação de Parques e Zoobotânica de Belo Horizonte já enfrentou muito preconceito e superou diversas barreiras, por ser uma pessoa com deficiência.

Há cerca de 20 anos, o cientista foi diagnosticado com a Síndrome de Charcot-Marie-Tooth, uma doença neurológica degenerativa que afeta os nervos periféricos do corpo, causando fraqueza muscular e por vezes, muitas dores, e comprometendo sua mobilidade.

Para poder conviver com a doença, o pesquisador toma remédios controlados três vezes por dia e faz exercícios físicos, como pilates e natação. “Isso me gerou uma limitação dentro da minha carreira. Quase não faço estudos de campo, só algo bem pontual, sem muitas caminhadas. E mesmo as atividades laboratoriais precisam ser adaptadas para não provocar um esforço muito grande no corpo”, revela. “Mesmo assim, eu sou uma pessoa muito ativa. Eu tenho que lidar com a forma que sou, respeitando meus limites.”

Com descoberta de novas espécies de margaridas, pesquisador brasileiro mostra superação de barreiras e preconceitos
Vinícius trabalhando no laboratório, analisando uma planta coletada em campo
Foto: arquivo pessoal

A paixão pela botânica falou mais alto

Vinícius conta que se interessou inicialmente pela biologia porque sonhava em estudar genética, por causa de sua síndrome.

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“Entretanto eu gostei muito da área da botânica. Desde o primeiro dia lembro de já estudar a família do girassol, e ela me encantou. E também o mundo da botânica e todos os preceitos da existência das plantas, do mecanismo de fotossíntese, de como elas vivem paradas e precisam resistir ao calor, ao sol, à chuva e aos predadores, e diferente dos animais, elas não podem se esconder. Então, toda essa perspectiva me interessou muito. De como elas ocorrem em diversos lugares, sem saírem do lugar. Fazem isso através de seus frutos, de suas sementes. Todos os cenários foram me despertando interesse, me cativando.”

Logo no segundo semestre da graduação, o mineiro já começou a fazer estágio na área da botânica. Depois seguiu para o mestrado e doutorado nessa mesma especialização e agora está no pós-doutorado.

Com descoberta de novas espécies de margaridas, pesquisador brasileiro mostra superação de barreiras e preconceitos
Uma das três novas espécies de margaridas descritas pelo pesquisador
Foto: Danilo Alvarenga Zavatin

Obstinação e teimosia para enfrentar o preconceito

Apesar das dificuldades, Vinícius nunca desistiu. Sempre contou com o apoio incondicional da família, que o estimulou a lutar por seus sonhos.

“As limitações são inerentes à minha existência, sempre vou conviver com elas”, afirma. “E eu tive o privilégio de ter meus pais como pais e minha família, que apesar da presença do capacitismo na sociedade, eu nunca ouvi em casa que algo não era para mim. ‘Ah, você quer estudar, fazer mestrado? Então, estuda e boa-sorte!’ Ao passo que muitas pessoas com deficiência ouvem que aquilo não é para elas.”

Aos 31 anos, Vinícius reconhece que também teve muita obstinação e nunca foi freado pelo preconceito. Mas embora tenha sido determinado, o pesquisador revela que precisou superar muitas barreiras e discriminação.

Em sua trajetória acadêmica, não apenas se deparou com problemas de infraestrutura nas instituições em que frequentou, como falta de acessibilidade, por exemplo, como recebeu avaliações negativas de professores, que acreditavam que sua limitação física o impediria de realizar suas pesquisas.

“Durante o meu mestrado tive uma avaliação de que meu trabalho teria um menor impacto e mérito devido a eu não ter feito as atividades de campo. E o avaliador tinha conhecimento da minha deficiência”, recorda. “Obviamente quando eu defendi a minha tese não houve nenhum demérito por causa dessa questão.”

O botânico em uma de suas pontuais visitas de campo
Foto: arquivo pessoal

Vale ressaltar que, atualmente, muitos botânicos do mundo todo fazem descobertas de novas espécies da flora somente fazendo a comparação de amostras contidas em coleções de museus ou de jardim botânicos, ou ainda, com a ajuda da ciência cidadã ou em parceria com outros colegas, como é o caso de Vinícius.

Assim como a habilidade das plantas que fascinou tanto o pesquisador, de conseguir se reproduzir e ter suas sementes levadas para novos lugares, mesmo sem sair do lugar, Vinícius também propaga e dissemina seu conhecimento para muito além do laboratório onde faz suas pesquisas. Sua limitação é unicamente física e nunca o impossibilitou de fazer novas contribuições para a botânica.

“Talvez eu também tenha tido uma teimosia de insistir e pensar que o que precisa ser consertado é o mundo ao redor e não eu desistir de fazer o que eu gosto e o que eu sei fazer”, diz ele.

Os autores do artigo em que as novas espécies de margaridas são descritas (da esquerda para a direita:
Danilo Alvarenga Zavatin, Marina Soares Bentes, Ananda Prata Silveira, Vinícius e Renato Ramos)
Foto: arquivo pessoal

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Fotos de abertura: arquivo pessoal

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