Em dois dias, castores constroem barragem em parque natural da República Tcheca, planejada pelo governo há sete anos

Castores são roedores hábeis, que com seus enormes dentes afiados e seu rabo batedor são capazes de modificar uma paisagem, inclusive construir uma barragem, como fizeram no Parque Natural de Brdy – que se estende por cerca de 60 km a sudoeste de Praga, na República Tcheca – e viraram notícia.

Portanto, o feito não é novidade nem algo surreal para esses animais. Eles fizeram em Brdy o que costumam fazer em qualquer lugar que escolham como lar: roeram e derrubaram árvores, cortaram galhos e troncos com seus grandes dentes afiados e os arrastaram por terra e pela água (inclusive debaixo dela), formando uma barragem natural. 

A BBC Earth publicou episódio que revela como eles são astutos e rápidos nessa missão, que visa a proteção e a sobrevivência de colônias de castores (assista no final deste post). 

Em 2020, na região de Holnicote, à oeste da Grã-Bretanha, dois pares de castores foram soltos. Sem a presença deles, o rio Aller, que enfrentou forte seca em 2022, teria se transformado em uma grande poça de lama, contou o site Um Só Planeta em 3022. Já na região de Minehead, os canais de águas correntes criados por um casal de castores atraíram de volta muitos anfíbios e libélulas.

Sem custo, nem burocracia

A questão em Brdy, é que um projeto de construção de uma represa no mesmo local aguarda a aprovação de licenças ambientais – porque a área é protegida – desde 2018. E foi resolvido em apenas dois dias por estes engenheiros peludos. Sem custo, nem burocracia. 

Vale destacar que, desde 1925, nenhuma obra para desenvolvimento ocorreu na região, o que garantiu que a flora e a fauna crescessem sem perturbações. Daí, tanto cuidado com sua preservação. 

O projeto da barragem foi elaborado para transformar diversas áreas secas do parque em regiões úmidas. Para isso, um rio precisaria ser restaurado e corrigido (há um desvio construído originalmente para drenar a área) nessa região que já foi usada como base militar, hoje abandonada. 

No entanto, diversos entraves burocráticos têm atrasado o início da obra, que ainda está longe de ser destravado. E agora parece que se tornou obsoleto, podendo ser arquivado. 

“Os castores podem construir uma represa em apenas uma noite, ou no máximo duas”, contou o zoólogo Jiri à Radio Prague International. “Uma represa feita por humanos levaria pelo menos uma semana para ser concluída, com licenças e escavadeiras no cronograma”, arrematou.

Levaria uma semana e, no caso da barragem de Brdy, custaria cerca de 30 milhões coroas tchecas ou 7,1 milhões de reais. Que economia!

Bohumil Fišer, chefe da Agência de Gerenciamento da Paisagem Protegida das Montanhas Brdy, celebrou: “Os castores construíram a represa de graça, sem elaborar qualquer documentação para o projeto”. E informou que os engenheiros tão eficientes são, na verdade, uma família de roedores constituída por um casal e quatro filhotes. 

“Há seis animais no local, mas acreditamos que o número não aumentará. O provável é que os filhotes deixem os pais para buscarem seu próprio território”, comentou o especialista.

Nem sempre bem-vindos, mas protegidos

Apesar da alegria ter tomado conta da cidade e do governo tcheco, não é sempre que castores – animais silvestres comuns no país – são bem-vindos com suas obras eficientes e rápidas. 

Com sua rapidez e obsessão, os roedores semi-aquáticos usam pedras, lama e madeira para represar riachos, criando pântanos conhecidos como “lagos de castores”, que servem como fonte de alimento, bem como proteção contra predadores. 

Mas essas obras que, a princípio, parecem inofensivas, podem causar problemas aos humanos, quando redirecionam um curso d’água para um local indesejado ou criam pântanos que oferecem riscos à saúde humana ou, ainda, causar estragos em propriedades e plantações ao buscarem materiais para as construções.

Em 2021, por exemplo, foi registrado em Tumbler Ridge, pequeno município do Canadá, um caso complicado envolvendo castores: eles deixaram a cidade sem sinal de internet porque destruíram o conduíte subterrâneo, que abrigava os cabos de fibra óptica e, em seguida, destruíram os cabos, utilizando-os na construção de uma barragem. 

Por isso – e, também, devido à especulação imobiliária e outros mercados, que podem não gostar das atividades destes engenheiros peludos -, em 2013 foi criado um programa de proteção ao castor no país.

E aqui vale uma observação: segundo O Globo a República Tcheca é dividida em três zonas, mas apenas em 1% delas o castor é protegido. Na maior zona, que cobre 83% da área do país, vale o meio-termo entre interesses econômicos e a presença de castores. E, na última, a caça ao castor é permitida em benefício da proteção dos lagos da Boêmia do Sul. 

Por que os castores criam barragens?

Além de integrarem a biodiversidade local, os castores são muito eficientes em suas construções, capazes de erguer represas que podem durar décadas. E o fazem não para viverem nelas e, sim, para criarem uma zona segura para viver.

Com seus dentes enormes e afiados, esses roedores mastigam troncos, galhos e lama e os empilham na beira e no meio de rios, formando a barragem, que diminui o fluxo de água. Assim, eles criam um novo ecossistema com águas profundas, com muitos esconderijosonde podem se abrigar, se proteger de predadores e estocar alimentos. 

Em geral, as barragens construídas pelos castores podem chegar a 5 metros de altura, com comprimento variável, conforme o local. E “os pântanos recém-criados [por eles] e as poças d’água proporcionam habitats ideais para lagostins raros, sapos e outras plantas e animais”, contou Jaroslav Obermajer, da Agência de Conservação da Natureza da República Checa (Nature Conservation Agency of the Czech Republic – NCA) , ao jornal O Globo.

“Os castores sempre conhecem os melhores lugares. Os locais onde eles constroem suas represas são sempre perfeitos”.

A maior “barragem de castor” do mundo – com quase 800 metros de comprimento – fica no Wood Buffalo National Park, o maior do Canadá, em Alberta, e retém a água escoada das Montanhas Birch. 

O perímetro inteiro da área dessa represa é de quase 2 mil metros. A área da superfície é de aproximadamente 70 mil m². O lago formado pela barragem tem provavelmente um metro de profundidade, o que significa que conteria cerca de 70 mil m³ de água. 

Dado o tamanho da estrutura, os pesquisadores do parque acreditam que é claramente o trabalho de várias gerações de castores, refletindo a alta qualidade do habitat que os animais encontraram no local.

A barragem pode ser vista do espaço em imagens de satélite. A foto abaixo foi tirada de helicóptero. 

A seguir, assista ao vídeo produzido pela BBC Earth, que mostra a performance, passo-a-passo, de castores ao construirem uma barragem. Da derrubada de árvores com os dentes, ao transporte de troncos e folhagens para a obra, para protegerem e abastecerem suas tocas subaquáticas. O vídeo é narrado em inglês e é possível ativar as legendas em inglês para acompanhar a narração.

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