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Garça com ‘copo plástico no pescoço’ é finalmente resgatada!

Após onze dias de mobilização e muita angústia, hoje, sexta-feira 13, finalmente a garça avistada pelo biólogo e veterinário Jeferson Pires, do CRAS (Centro de Recuperação de Animais Silvestre) da Universidade Estácio de Sá, em 2/12, foi capturada por ele à margem do Canal de Sernambetiba – popularmente conhecido como Rio Morto -, no Recreio dos Bandeirantes, Rio de Janeiro. 

“Isso só foi possível devido ao total apoio e esforço da Patrulha Ambiental Municipal, do INEA e do Ibama, que se revezaram ao longo destes dias”, conta Jeferson. “Montamos uma ceva para planejar uma captura tranquila, segura e confiável para o animal, afinal, sua saúde e integridade física estavam em primeiro lugar”.

A felicidade de Jeferson após a captura da garça: agora faltava
pouco para ela ficar livre do copo que a afligia
Foto: reprodução Instagram

A captura demorou – muita gente questionou -, mas o veterinário destacou que a ação exigia muita organização e planejamento para dar certo. E deu! O momento da captura foi emocionante, mas Jeferson pediu que o vídeo que registrou a ação não seja disseminado. “Peço encarecidamente para que ninguém divulgue imagens do momento da captura. Pois, esse tipo de vídeo ensina a pessoas leigas formas de caçar aves e não é nosso objetivo provocar um desserviço como esse à fauna”.

O veterinário e a garça na companhia dos agentes ambientais que ajudaram na captura
Foto: reprodução Instagram

Mas, afinal, como o copo foi parar no pescoço da garça?

Quando divulgou as imagens da garça, Jefferson disse que parecia que ela havia engolido um copo plástico e que ele estava entalado em seu pescoço. Depois conjecturou-se que o copo estaria dentro de um saco plástico enrolado no pescoço da ave. Mas o que aconteceu realmente foi bem diferente e complexo. Jeferson explica:

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“O bico dela havia atravessado o copo pelo meio. O mesmo desceu pela cabeça até a base do pescoço e se posicionou como se fosse um colar”.

Após a captura, a garça foi levada para o CRAS – Centro de Reabilitação de Animais Silvestres da Faculdade de Veterinária da Universidade Estácio de Sá, em Vargem Pequena, onde passou por cirurgia.

Detalhe do pescoço no momento da retirada do copo
Foto: reprodução do Instagram

“Ela foi anestesiada, já que a remoção com o animal acordado poderia colocá-lo em risco”, diz Jeferson. “Não sabíamos se o copo estava contendo um sangramento de grandes vasos ou algo do gênero e a sua remoção abrupta poderia gerar o óbito imediato”.

A ave após a cirurgia: tudo correu bem
Foto: reprodução do Instagram

Como se pode ver pela foto abaixo, a garça já está bem – como é linda! Assim que estiver recuperada, será devolvida à natureza por especialistas de órgão ambiental.

Garça-moura, já recuperada da anestesia: que ave magnífica!
Foto: reprodução do Instagram

Uma sexta-feira 13 de sorte!

Desde que tomou conhecimento do estado da garça, Isabelle publica notícias todos os dias, cobrando as autoridades. Irritada com a inércia, chegou a ameaçar entrar na Justiça contra o poder público caso nada fosse feito com urgência. E lançou uma plataforma de monitoramento – Salvem a garça do copo -, onde registra cada passo dado em relação à sua sobrevivência e ao resgate.

A ambientalista também reivindicou uma força-tarefa para tentar resgatar a ave, o que se concretizou apenas no último domingo (8), com a ajuda do amigo e jornalista André Trigueiro, que levou o caso ao ar na TV Globo, no sábado.

A partir daí, órgãos ambientais das três esferas – municipal, estadual e federal – passaram a frequentar o local. Mas, mesmo assim, Isabelle não sossegou um dia, incentivando (e conseguindo) que o público participasse. 

“A mobilização em torno deste caso mostra que somos uma ferramenta de mudança, para o que for. E esta garça é um símbolo marcante de como foi a união dos órgãos ambientais,  que conseguiram fazer um trabalho em conjunto, sem nenhum tipo de presunção, foi imprescindível. O foco era resgatar a garça”, destaca.

“A sociedade civil se empenhou. Mobilizei muita gente que me segue, pedi para que quem passasse pela estrada do Rio Morto e visse a garça e os agentes, avisasse. Ou seja, “monitore o monitoramento!”. Meu medo era que, depois de uma ou duas semanas, o caso esfriasse, como às vezes acontece aqui: começa e cai no esquecimento. E é por isso que eu fui lá todos os dias, de manhã cedo, pra ver se ela ainda estava lá”. 

Lembrando que hoje é uma sexta-feira 13 – um dia de superstições infundadas, comentou: “Com o resgate, nos mostra que não é uma sexta-feira 13 para algo ruim, mas sim, uma coisa boa, uma notícia boa, uma ação positiva”.

Mutirão de limpeza

A ambientalista também conta que, devido ao estado de abandono do rio, deu a ideia de um mutirão de limpeza no Canal de Sernambetiba, para mostrar o problema do lixo de perto, porque, ali, não é só a garça que vive. “Você tem capivaras, jacarés-de-papo-amarelo, frangos d’água, animais que estão padecendo literalmente com uma quantidade de resíduos absurda, que poderia estar sendo descartada corretamente e vale dinheiro”.  

Falou da urgência de um programa de Logística Reversa, que seja cumprido de fato, no país. “Isso é fundamental! Se assim fosse, não estaríamos passando por tudo isso. O Brasil recicla muito pouco. E falta educação ambiental para que as pessoas tenham mais consciência na hora de consumir, de escolher produtos e, principalmente, na hora do descarte”. 

E finalizou: “Que a garça seja um símbolo realmente, como foi o cavalo Caramelo no Rio Grande do Sul. A garça-moura nos traz uma reflexão importante em relação ao impacto que estamos provocando no nosso planeta”. 

Sim, a garça é um símbolo de resiliência num cenário inóspito – o rio Morto está tomado por lixo! Jeferson contou que recebe animais impactados por plástico e outros resíduos, todos os dias: “Uma vez, tirei a cabeça de uma ‘Pepa Pig’ da boca de um jacaré!”. 

E está mais do que na hora de acabar com a circulação dos plásticos de uso único – que sequestraram a tranquilidade e a saúde da garça-moura, a maior espécie do Brasil, por tantos dias -, como já fizeram alguns vizinhos nossos, na América Latina: Chile (foi o primeiro, em 2018), Costa Rica (2021) e México (32 dos 27 estados), além de países da África e Europa e da Califórnia, nos EUA.

A garça do rio Morto, ‘do copo plástico no pescoço’, poderia ser protagonista de uma campanha nacional pelo banimento dos plásticos descartáveis e de uso único.

Mas sabemos que o lobby do plástico no mundo é forte: vide o fiasco da Cúpula da ONU sobre poluição por plásticos, no início de dezembro, que não chegou a qualquer acordo apesar de a maioria dos países-membro apoiar medidas ambiciosas. A luta tem dimensões oceânicas.
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Foto (destaque): reprodução do Instagram de Jeferson Pires

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Carmen Lucia Aguiar
Carmen Lucia Aguiar
5 horas atrás

Que esse fato tão triste possa se transformar em iniciativas que resultem em uma maior consciência da população desta cidade e do país em relação ao meio ambiente.
Educação ambiental, campanhas esclarecedoras sobre descarte e reciclagem do lixo, saneamento básico, limpeza e dragagem dos rios, precisamos que a sociedade civil se envolva ativamente nas soluções dessa verdadeira tragédia ambiental que estamos vivendo. E não apenas esperar que o poder público faça a sua parte, é preciso pressioná-lo para que isso aconteça.
Parabéns a todos os que agiram e lutaram para salvar a nossa querida garça, e tantos animais resgatados graças àqueles que não desistem da preservação ambiental! Obrigada, Isabelle e Dr. Jeferson!

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