Antonia, a linda furão-de-patas-pretas (Mustela nigripes) da foto, foi clonada em 2020, no Zoológico Nacional e Instituto de Biologia da Conservação (NZCBI) do Smithsonian, a partir do DNA de Willa, fêmea mantida em cativeiro em Wyoming, que morreu na década de 1980.
Mas ela não é a única. Duas outras furões da mesma espécie – Noreen e Elizabeth Ann – também são clones de Willa e, portanto, pode-se dizer que são “gêmeas genéticas” de Antonia. Ela e Noreen nasceram em maio de 2023, mas o fato só foi divulgado em abril deste ano (sobre o nascimento de Elizabeth, contamos aqui).
Quando atingiu a maturidade, Antonia acasalou com Urchin, furão-de-patas-pretas de três anos, que também vive no NZCBI do Smithsonian. Em junho, ela deu à luz a três filhotes.
Embora um deles tenha morrido, os outros dois – fêmea e macho, batizados de Sibert e Red Cloud, respectivamente – são saudáveis e, segundo o NZCBI, têm atingido os marcos de desenvolvimento esperados pelos pesquisadores, que não têm intenção de soltá-los na natureza.
Conservação de animais ameaçados
Esta é a primeira vez na história da conservação no mundo que um furão clonado dá à luz. Trata-se de uma grande vitória no uso da clonagem para preservar a diversidade genética em espécies em risco de extinção e em recuperação.
“A reprodução bem-sucedida e o nascimento subsequente dos filhotes de Antonia marcam um marco importante na conservação de espécies ameaçadas de extinção”, declarou Paul Marinari, curador sênior do NZCBI do Smithsonian, em nota.
“Os muitos parceiros do Black-footed Ferret Recovery Program (Programa de Recuperação de Furões-de-patas-pretas) continuam seus esforços inspiradores para salvar esta espécie e ser um modelo para outros programas de conservação em todo o mundo”, completou.
Ryan Phelan, cofundador e diretor executivo da Revive & Restore, parceira no projeto de clonagem declarou: “Pela primeira vez, podemos dizer definitivamente que a clonagem contribuiu com variação genética significativa de volta para uma população reprodutora. E, à medida que esses kits avançam no programa de reprodução, o impacto desse trabalho se multiplicará, construindo uma população mais robusta e resiliente ao longo do tempo”.
Com os nascimentos de seus filhotes, Antonia é a primeira furão a restaurar a diversidade genética histórica de Willa de volta à população de furões-de-patas-pretas. Isso demonstra o potencial da tecnologia de clonagem na conservação de animais ameaçados.
Linha do tempo
Também conhecidos como doninhas americanas, os furões-de-patas-pretas são uma das espécies de mamíferos mais ameaçadas da América do Norte devido à perda de habitat, a doenças e ao declínio na população de cães-da-pradaria, sua principal presa.
No final dos anos 1800, cerca de um milhão de furões-de-patas-pretas viviam no continente, mas, no final dos anos 1950, a espécie foi considerada extinta.
Em 1964, cientistas descobriram uma população de furões selvagens, que morreu e, mesmo um esforço de reprodução em cativeiro não deu certo.
Uma segunda redescoberta foi registrada em 1981 e, desde então, conservacionistas têm se dedicado arduamente a conservar a espécie, lançando mão de programas de reprodução tradicionais, como também de tecnologias mais inovadoras como congelamento de sêmen e clonagem.
Um dos maiores desafios enfrentados na recuperação de uma espécie à beira da extinção é diversidade genética limitada, que resulta em endogamia, o que pode tornar a prole mais vulnerável a anormalidades hereditárias, baixa eficiência reprodutiva e aumento nas taxas de mortalidade.
De acordo com Megan Owen, vice-presidente de ciência da conservação da San Diego Zoo Wildlife Alliance, uma das parceiras no esforço de clonagem, “a diversidade genética é crítica para a resiliência às mudanças ambientais”. E completou em entrevista ao Washington Post: “É basicamente a matéria-prima da evolução adaptativa”.
Atualmente, a população de furões-de-patas-pretas (milhares deles foram reintroduzidos no oeste dos EUA desde os anos 1990) descende de apenas sete indivíduos, exceto alguns clones e os filhotes de Antonia!
O futuro e os descendentes de Willa
E, aqui, voltamos à Willa. Em 1988, quando ela morreu, cientistas coletaram amostras de tecido e preservaram o material no Frozen Zoo na San Diego Zoo Wildlife Alliance.
Como ela nunca se reproduziu, seu material genético não foi incluído na população moderna de furões. Seus genes preservados contêm três vezes mais diversidade genética do que os furões-de-patas-pretas que vivem na natureza.
Doze anos depois, em 2020, os cientistas desenvolveram o primeiro clone de Willa por meio de transferência nuclear de células somáticas. A técnica consistiu em injetar material genético de Willa no óvulo de uma fêmea furão criada em cativeiro, que se tornou “mãe de aluguel” e deu à luz Elizabeth Ann, o primeiro furão clonado do mundo! Mas, infelizmente, Elizabeth Ann não conseguiu se reproduzir.
Segundo especialistas, a prova de que animais clonados, como Antonia, podem se reproduzir com segurança é essencial não só para a restauração saudável dos furões, como para outras espécies gravemente ameaçadas. E isso “aumenta a confiança que cientistas conservacionistas precisam ter para tentar salvar outras espécies da extinção no futuro, como o rinoceronte branco do Norte, ao tentar cloná-los”, revela
Quem sabe Noreen, Sibert e Red Cloud darão continuidade ao legado iniciado por Antonia e seus descendentes ainda poderão ser soltos na natureza.
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Foto (destaque): Roshan Patel / Smithsonian Conservation Biology Institute under CC BY 4.0
Com informações de Good News Network e Smithsonian Magazine