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Em celebração pelo retorno do manto sagrado, Tupinambás cobram de Lula demarcação e desintrusão das terras indígenas

Em celebração pelo retorno do manto sagrado, Tupinambás cobram de Lula demarcaçã e desintrusão das terras indígenas

Por Rafael Cardoso*

No evento final de recepção do manto sagrado Tupinambá, indígenas cobraram ações para demarcação de terras e retirada de intrusos (desintrusão) de territórios dos povos originários.

A celebração aconteceu esta semana (12) no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, onde o manto está abrigado, e contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, e outros representantes dos governos federal, estadual e municipal.

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A anciã Yakuy Tupinambá criticou os trâmites de devolução do manto e defendeu que seja alocado oficialmente no território tupinambá, na Bahia, e não no museu. Ela também criticou a tese do marco temporal e cobrou mais medidas de demarcação de terras indígenas.

Em celebração pelo retorno do manto sagrado, Tupinambás cobram de Lula demarcaçã e desintrusão das terras indígenas
Presidente Lula e ministra Sonia Guajajara acompanham visitação de
lideranças do povo Tupinambá ao manto sagrado no Museu Nacional
Foto: Ricardo Stuckert/PR

“Reiteramos nossa insatisfação com a postura colonizadora personificada pelo Estado brasileiro, através das autarquias representativas que, mais uma vez dilaceram nossos direitos originários e, muito mais que isso, ferem profundamente o que mais prezamos: a nossa crença e a nossa fé”, disse Yakuy.

“Nossas reivindicações são: retorno do manto para aldeia mãe Olivença [município no litoral baiano], construindo um museu de arte Tupinambá; exigimos respeito e a garantia dos nossos direitos; autonomia do Ministério dos Povos Indígenas, reestruturação da Funai; anistia e reparação aos povos indígenas e africanos; não ao marco temporal, demarcação já!”, complementou.

Ao se pronunciar, Lula destacou que as pessoas podem reclamar na frente do presidente da República, do governo federal, o que não ocorria em governos anteriores, quando os indígenas sequer eram recebidos pelo presidente. Segundo ele, existe uma luta política difícil para avançar nos direitos dos povos originários e criticou a tese do marco temporal.

“Eu também sou contra a tese do marco temporal. Fiz questão de vetar esse atentado aos povos indígenas. Mas o Congresso Nacional, usando prerrogativa respaldada por lei, derrubou meu veto”, disse. “A maioria dos congressistas não tem compromisso com os povos indígenas. O compromisso deles é com grandes fazendas e grande proprietários”.

O presidente também afirmou que o governo tem colocado as questões indígenas como prioritárias e citou a criação do Ministério dos Povos Indígenas.

“Fizemos e continuamos a fazer a desintrusão de territórios ocupados por não indígenas. Homologamos novas terras e temos certeza que faremos muito mais. Sempre enfrentando desafios, que são muitos e precisam ser tratados de forma negociada, com diálogo e transparência”, afirmou.

Sobre o manto tupinambá, Lula defendeu que o Museu Nacional seja considerado como um abrigo temporário, e que sejam criadas condições para a transferência do objeto sagrado ao território indígena na Bahia.

“O manto está no Museu Nacional, mas espero que todos compreendam que o lugar dele não é aqui. Espero que todos compreendam, e eu tenho certeza que vamos ter a compreensão do nosso governador da Bahia [presente ao evento], que disse que é Tupinambá também. Ele tem a obrigação e o compromisso histórico de construir na Bahia um lugar que possa receber esse manto e preservá-lo”, declarou.

Em celebração pelo retorno do manto sagrado, Tupinambás cobram de Lula demarcaçã e desintrusão das terras indígenas
Povo tupinambá de Olivença, na Bahia, participa da celebração do retorno
do manto sagrado ao Brasil, no Museu Nacional, no RJ
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Cacica Jamopoty Tupinambá é uma das lideranças indígenas
que se reencontraram com o manto sagrado
Foto: Fernando Frazão/Arquivo/Agência Brasil

Manto Tupinambá

O manto sagrado dos Tupinambá tem 1,80 metros de altura e milhares de penas vermelhas de pássaros guará. Estava guardado ao lado de outros quatro mantos no Museu Nacional da Dinamarca. Chegou a Copenhague em 1689, mas foi provavelmente produzido quase um século antes.

Artefatos tupis foram levados à Europa desde a primeira viagem portuguesa ao Brasil e o processo continuou ao longo das décadas seguintes, como evidências da “descoberta” do novo território e como itens valiosos para coleções europeias.

Em celebração pelo retorno do manto sagrado, Tupinambás cobram de Lula demarcaçã e desintrusão das terras indígenas
Foto: Roberto Fortuna/Museu Nacional da Dinamarca/divulgação

Outros dez mantos semelhantes, também confeccionados com penas de guará, continuam expatriados em museus europeus, segundo levantamento feito pela pesquisadora norte-americana Amy Buono, da Universidade de Chapman.

Apenas no Museu Nacional da Dinamarca, existem outros quatro além do que foi devolvido ao Brasil. No Museu de História Natural da Universidade de Florença (na Itália), existem outros dois. Há também mantos Tupinambá guardados no Museu das Culturas, em Basileia (Suíça); no Museu Real de Arte e História, em Bruxelas (Bélgica); Museu du Quai Branly, em Paris (França); e na Biblioteca Ambrosiana de Milão (Itália).

A “doação” do manto foi anunciada em junho de 2023, depois de cerca de um ano de negociações entre as instituições do Brasil e da Dinamarca. A peça chegou ao Brasil em 11 de julho deste ano (veja aqui).

Cronograma de celebrações foi organizado para o retorno do manto. Lideranças espirituais tupinambás e pajés fizeram atividades de acolhimento, proteção e bênçãos ao manto sagrado. Durante três dias, os indígenas ficaram em vigília nos arredores do Museu Nacional.

* Este texto foi originalmente publicado no site da Agência Brasil em 12/9/2024
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Foto (destaque): Ricardo Stuckert/PR

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