Parece até que a onça está olhando diretamente para as lentes da câmera do fotógrafo. Com suas garras poderosas ela segura o corpo do jacaré, imóvel, e com a força descomunal de sua mandíbula ela dá o bote final no pescoço de sua presa. O flagrante sensacional foi feito pelo britânico Ian Ford aqui no Brasil, mais especificamente, no Pantanal, o lugar no planeta que concentra a maior população desses felinos.
A foto impressionante, que em março deste ano esteve entre as vencedoras do Sony World Photography Awards, acaba de aparecer também na lista das “Highly Commended” da edição deste ano do Wildlife Photographer of the Year, o mais famoso concurso de fotografia de vida selvagem do mundo, promovido há 60 anos pelo Museu de História Natural de Londres.
“Uma chamada pelo rádio nos alertou que uma onça-pintada havia sido avistada rondando as margens de um tributário do rio São Lourenço. Ajoelhado no barco, eu fiquei perfeitamente posicionado quando o a onça deu a mordida esmagadora no crânio no jacaré desavisado”, relembra Ford.
A divulgação dessa imagem memorável acontece no mesmo momento em que o Pantanal sofre novamente com terríveis incêndios e mais uma vez, as onças-pintadas estão entre os milhares de animais vítimas do fogo.
Há poucas semanas, uma delas, conhecida pelo nome de Gaia, não conseguiu escapar das chamas e foi encontrada carbonizada. Ela era uma das onças monitoradas, desde seu nascimento, pela equipe de biólogos da associação Onçafari, que trabalha pela preservação dessa espécie, o maior felino das Américas.
Desde então, outras onças já foram resgatadas, com queimaduras graves nas patas, e agora passam por tratamento para que, se tudo der certo, possam se recuperar e ser devolvidas à vida selvagem.
A onça-pintada (Panthera onca) é um dos maiores símbolos da diversidade da fauna do Pantanal brasileiro, a maior planície alagável de água doce da Terra. Por ironia do destino e culpa do ser humano, esse título parece não caber mais no bioma que enfrenta uma das piores secas de sua história. E se nada for feito para impedir que tragédias ambientais como essas se tornem cada vez mais frequentes, fotos como a feita por Ian Ford se tornarão cada vez mais raras.
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