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Peixe com chifre está entre as mais de 200 espécies de água doce descobertas em 2023

Peixe com chifre está entre as mais de 200 espécies de água doce descobertas em 2023

Nada menos do que 243 novas espécies de peixe de água doce foram descritas no ano passado, ou seja, animais que até então eram desconhecidos pela ciência ou então identificados erroneamente como outras espécies. E sem um conhecimento preciso de suas características, comportamento e habitat, estratégias de conservação ficariam bastante limitadas.

Mas graças ao trabalho de biólogos e pesquisadores do mundo todo, essas mais de 200 novas espécies de peixes agora podem ser protegidas. O nome de todas elas e informações sobre algumas, que ganharam atenção especial, fazem parte do relatório “Novas Espécies 2023”, produzido pela a iniciativa internacional Shoal, uma parceria entre diversas instituições de pesquisa e conservação, entre elas a Academia de Ciências da Califórnia e a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

Entre as espécies destacadas no levantamento estão esse peixinho bizarro que aparece na imagem mais acima. Batizado com o nome científico de Sinocyclocheilus longicornus, ele tem uma protuberância atrás do topo da cabeça, que faz lembrar um chifre. Descoberto no ano passado em cavernas da China, como vive em habitat com pouca luz, o peixinho cego, de cerca de 14 centímetros, não possui pigmentos, então aparenta uma coloração esbranquiçada.

Pesquisadores responsável pela descrição do peixe ‘chifrudo’ não sabem qual é a função dessa estrutura, mas suspeitam de duas hipóteses.

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“Acreditamos que pode estar relacionada à percepção do fluxo da água e é usada para proteger o cérebro, porque a grande quantidade de chuvas ness região, que se acumula em rios subterrâneos, pode fazer com que esses peixes se choquem contra as rochas das cavernas com frequência”, diz Tao Luo, cientista da Universidade de Guizhou. “A segunda hipótese é que o ‘chifre’ pode estar relacionado a uma característica secundária da sexualidade”.

Peixe com chifre está entre as mais de 200 espécies de água doce descobertas em 2023

O peixe com chifre das cavernas escuras da China
(Foto: © Jia-Jun Zhou / Shoal)

Outro peixe descrito em 2023 e que aparece no relatório da Shoal é um cascudo do rio Xingu, batizado com o nome do cacique Raoni. A espécie que tem grandes bolas amarelas sobre o corpo escuro vive numa região muito impactada pela construção de Belo Monte. E o líder indígena foi um daqueles que lutou contra a obra da usina.

O Scobinancistrus raonii pode chegar a medir até 17 cm de comprimento
(Foto: Leandro M. Sousa)

Há ainda outro peixinho descoberto no Brasil no ano passado, que também vive na região Norte do país, mais especificamente no Rio Braço, na Bacia do Rio Tapajós, no Pará. Por causa de sua coloração amarelo-dourado, o Moenkhausia guaruba recebeu esse nome por causa do papagaio amazônico, guaruba, conhecido também como ararajuba.

“O nome faz alusão ao amarelo intenso presente em todas as nadadeiras da espécie”, explica o pesquisador Murilo Pestana, curador de peixes do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo.

Peixe com chifre está entre as mais de 200 espécies de água doce descobertas em 2023

O guaruba mede cerca de 96 mm, o que o faz ser uma das maiores espécies do gênero Moenkhausia
(Foto: Murilo Pestana / Shoal)

O levantamento da Shoal acontece poucos meses depois da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) divulgar o resultado do primeiro monitoramento já feito sobre a situação dos peixes de água doce do planeta. O estudo apontou que, das quase 15 mil espécies analisadas, 25% estão ameaçadas de extinção. Pelo menos 17% desses peixes com o risco de desaparecer são afetados pela crise climática, sofrendo com consequência como a redução do nível de rios e lagos, mudanças bruscas e atípicas de estações ou ainda, um aumento na salinidade desses corpos d’água. O impacto do aquecimento global se soma a outras ameaças já conhecidas, entre elas, a poluição, a sobrepesca e a presença de espécies invasoras (leia mais aqui).

“Os peixes de água doce são um dos grupos de vertebrados em maior risco. A sensibilização é uma parte crítica do trabalho necessário para dar a essas espécies uma chance de sobrevivência, e é nossa esperança e expectativa que esse relatório possa, de alguma forma, promover uma maior apreciação pelos peixes de água doce”, diz Mike Baltzer, diretor executivo da Shoal.

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Foto de abertura: © Jia-Jun Zhou / Shoal

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