Matthew Shirts é um cara curioso, ávido por conhecimento e otimista. Vai fundo em suas leituras e pesquisas quando o assunto toca sua alma. Este é o caso da mudança climática, que o pegou de jeito quando ele dirigia a revista National Geographic Brasil, no início dos anos 2000, e leu uma reportagem americana fascinante que dissecava o tema.
A partir daí, quis saber mais, mais e mais. Leu muito, ouviu outro tanto, debateu com especialistas e participou de diversas conferências sobre mudanças climáticas da ONU. Em qualquer evento relacionado ao clima – sem importar o tamanho –, lá estava ele, como ouvinte ou convidado.
Até que, na pandemia, o jornalista e ativista se dedicou a escrever um livrinho muito simpático e fácil de ler (tem 16,5 x 13,5 cm e pouco mais de 100 páginas) no qual garante que ainda dá tempo de evitar o pior: Emergência Climática, que acaba de ganhar o Prêmio Jabuti na categoria Ciência.
O título completo é longo e dá o recado: Emergência Climática – O aquecimento global, o ativismo jovem e a luta por um mundo melhor. Para essa empreitada, Matthew contou com um parceiro muito bacana: o Greenpeace Brasil (contei aqui sobre a obra quando se tornou semifinalista e finalista).
O jornalista diz que desejava ganhar, claro, mas não imaginava que isso aconteceria: “Surpresa total estar entre os finalistas e, agora, vencer o Jabuti”. Não cabia em si de tanta felicidade quando conversamos, hoje.
“Eu sei que o assunto é difícil, pesado, por isso procurei ser claro e leve no livro, pra ajudar as pessoas a entenderem o que está acontecendo, e pra mostrar, em especial aos jovens – que tiveram impacto importante antes da pandemia -, que eles devem pressionar os líderes, como fizeram os americanos com Joe Biden, que o elegeram depois que ele se comprometeu com o clima”.
Na verdade, Matthew escreve como age: de forma descomplicada e muito transparente. Além de ter um bom humor delicioso. Lembro de quando trabalhávamos juntos no movimento/site Planeta Sustentável, da Editora Abril (2007/2015), e ele, coordenador desse projeto, junto com Caco de Paula, nosso diretor, dizia sempre: “Temos que falar de clima de um jeito pop e sexy, do contrário assustamos o público”. Nunca esqueci.
Desde a concepção editorial, o foco de ‘Emergência Climática’ era a juventude. O selo Claro Enigma, da Companhia das Letras, é voltado para esse público: “pensei nos estudantes que estão terminando o colégio e entrando na universidade”, diz. Mas o livrinho do Matthew é ótima leitura para pessoas todas as idades, que queiram aprender como atuar nesta crise, onde quer que estejam.
O ativista ainda contou que, na cerimônia de entrega do prêmio, se envaideceu quando Marcello Nitz, engenheiro de alimentos, doutor em engenharia química, professor do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT) e integrante do júri, revelou que gostou muito de seu livro e o indicará para seus alunos. “Fiquei muito feliz! Um reconhecimento e tanto”.
A obra competiu na final do Jabuti com quatro livros – sobre Covid-19, pediatria, o inconsciente na vida cotidiana e florestas brasileiras – e, além da visibilidade sensacional que o prêmio dá, vai receber R$ 5 mil.
“É preciso falar de gás, carvão e petróleo!”
Ao contrário do que a maioria dos especialistas e jornalistas especializados comenta sobre a realização da COP28 do clima, em Dubai, nos Emirados Arábes – um país petroleiro! – Matthew considera a escolha muito interessante para o debate.
“Vou te contar uma questão técnica… Quando escrevi o livro, fiz questão de não falar em ‘gases de efeito estufa’ – porque ‘ninguém’ [o leigo] sabe o que é -, mas destacar ‘gás, carvão e petróleo’”. E explica:
“É importante nomeá-los e dizer que representam mais de 80% das emissões no mundo. Então, fiquei muito feliz quando vi que a COP28 seria em Dubai porque a contradição traz os verdadeiros vilões à tona. E a briga está sendo essa. Tá exposto e é muito bom! Tô gostando dessa COP. É das mais legais e positivas que já acompanhei porque esse tipo de embate causa desconforto. Vai render muito”. E completa: “Em Belém vai ser diferente. Tô louco pra ver!”.
Analógico e digital
Matthew é fascinado por tecnologia e muito presente nas redes sociais, mas também um devorador de livros. Para ele, nada substitui um livro físico, com o qual se deleita antes de dormir, no ônibus, no avião, em qualquer lugar que facilite a dedicação. Tem sempre um na mochila.
“Quando viajo de avião, sempre leio. Quando a viagem acaba, dá uma felicidade enorme”.
“Venho do mundo das letras, estudei História e Literatura na universidade. Ler [livros físicos] é muito importante. Os neurocientistas contam que, ao nos dedicarmos à leitura – sem redes ou distrações – nosso cérebro se ilumina. Os jovens precisam entender isso! Tomara que meu livro alcance muitos deles”.
Por fim, o jornalista revela que, sobre os estudos que relacionam leitura e cérebro, ele aprendeu muito num podcast. “Não foi lendo!”, e ri alto. “Melhorei meu desempenho na louça, inclusive”, brinca.
Por enquanto, não há qualquer projeto de transpor o conteúdo do livrinho (chamo assim carinhosamente por causa do tamanho) de Matthew para o digital. Portanto, aproveite a promoção da Companhia das Letras, que está vendendo a obra em seu site de R$ 49,90 por R$ 34,93. Em números redondos, de R$ 50 por R$ 35. “Baita desconto!”, diria Matthew. E o Natal está chegando…
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Foto-montagem: Victor Bravo/Greenpeace Brasil (livro) e arquivo pessoal