Há mais de 22 dias, o Pantanal sofre devido aos incêndios. O bioma nem bem se recuperou do fogo que queimou a região de forma devastadora há três anos, matando 17 milhões de animais, e já está passando por mais uma grande devastação.
Este ano, já foram destruídos 311,5 mil hectares pantaneiros, o que equivale a duas cidades de São Paulo. Só neste mês, “167,1 mil hectares viraram cinzas, ou seja, 53% do que queimou o ano todo foi só em outubro”, conta o biólogo Gustavo Figueirôa, coordenador de comunicação do Instituto SOS Pantanal.
O Instituto Homem Pantaneiro (IHP) indicou, em seu Instagram, que a temperatura na região do Alto Pantanal passou dos 40º C (até 23/10).
De acordo com os satélites do FIRMS – Fire Information for Resource Management System, da Nasa, na manhã de 24/10, havia 480 focos espalhados por todo o Pantanal. Somente no Parque Estadual Encontro das Águas, localizado entre Poconé e Barão de Melgaço (que concentra a maior população mundial de onças-pintadas e é a segunda mais atingida pelo fogo) havia 175 focos, que já devastaram mais de 21,825 mil hectares de vegetação ou 20,18% da reserva, de acordo com o Laboratório De Aplicações De Satélites Ambientais (LASA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Em 2020, mais de 90% do parque foi atingido pelo fogo. Até agora, são mais de 20 dias sob ameaça.
Tempestade milagrosa
Na tarde de 24/10, uma chuva intensa e prolongada alterou, como que por milagre, as condições do bioma e do parque, reduzindo consideravelmente os focos de incêndio (na foto de destaque deste post, imagem do FIRMS/Nasa mostra região do Parque Estadual Encontro das Águas e do Parque Nacional do Pantanal sem fogo)
Tanto que, ontem pela manhã (25), a Nasa indicava que haviam 13 focos apenas, dois deles no parque estadual (abaixo). Dá pra acreditar? Veja nas imagens do parque, por satélites da Sala de Situação Central do Corpo de Bombeiros:
Esta é uma ótima notícia, mas, como alerta Figueirôa: “O perigo não acabou! Ainda existem focos ativos, mesmo depois da chuva, e eles podem ressurgir e se espalhar novamente caso volte o sol e seque o solo. Por isso, agora é a hora mais importante do combate: a hora do rescaldo!”.
Rescaldo
Isso significa que brigadistas, o Corpo de Bombeiros e agentes do Ibama/Prevfogo precisam extinguir os focos de fogo que ainda resistem e monitorar, de forma minuciosa, as áreas afetadas pelas chamas, garantindo que todo fogo seja apagado. Como, também, que qualquer novo foco seja debelado com rapidez e não se espalhe.
“Agora não é hora de baixar a guarda, pelo contrário: é hora de ir com força máxima pra acabar, de vez, com qualquer chance de essa ameaça voltar”, finaliza Figueirôa.
Chuva, helicóptero e mais agentes
O coordenador do Prevfogo de Mato Grosso do Sul, Márcio Yule, disse à reportagem do G1 que um helicóptero do Ibama chegaria hoje ao local. “Com o helicóptero, a gente vai conseguir trabalhar, priorizando a área de refúgio das onças-pintadas e, nu segundo momento, em áreas prioritárias de conservação no bioma”, declarou.
“Uma característica do bioma é que a chuva em pequena quantidade não apaga o fogo porque tem muitos focos subterrâneos. Ela só apaga encharcando o solo ou no processo de combate na abertura de linha de defesa com a construção de valas e trincheiras para que não aconteça a passagem do incêndio de uma área para outra”, explicou.
Ontem, a região recebeu cerca de 40 militares, além de três aeronaves do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil Estadual.
Leia tambem:
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– A pressão da agropecuária e as mudanças climáticas desequilibram o Pantanal, destaca estudo (setembro 2022)
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A seguir, assista ao vídeo em que o biólogo Gustavo Figueirôa conta sobre a chuva e, depois, ao registro da chuva caindo no Pantanal feito pelo engenheiro florestal e bombeiro Paulo André Silva Barroso:
Foto: