Um mapeamento inédito revelou um universo até então desconhecido no litoral brasileiro: são as Colinas Coralinas, como foram batizadas as estruturas que formam uma extensa área de recifes de corais, um ecossistema único, com grande variedade de peixes e organismos marinhos, localizado próximo à costa do Espírito Santo.
A descoberta foi feita por pesquisadores de universidades brasileiras, em parceria com a Academia de Ciências da Califórnia, nos Estados Unidos, que mergulharam na região dos montes submarinos da Cadeia Vitória-Trindade, durante expedições realizadas em 2011 e 2019.
Segundo os cientistas, como essas montanhas e ilhas formam são muito profundas e isoladas, a cerca de 1.140 km do continente, representam um verdadeiro oásis marinho, com muitas espécies endêmicas, ou seja, só existem ali e em nenhum outro lugar do mundo.
O nome Colinas Coralinas se deve à geografia da região e também à presença abundante de algas coralinas. A descrição desse novo ecossistema foi relatada em artigo científico publicado na revista científica Coral Reefs.
“Conseguimos reunir informações sobre a ecologia e a estrutura de habitat deste ambiente tão único e remoto. Encontramos uma grande quantidade de espécies de peixes, que pode ser considerada a maior do Brasil e uma das maiores do Atlântico, além de fauna muito bem preservada, com algas coralinas totalmente diferentes dos ecossistemas existentes tanto no Brasil como em outros lugares do mundo”, diz Hudson Pinheiro, um dos coordenadores do estudo, pesquisador do Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo (USP), da Academia de Ciências da Califórnia e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza*.
Além de câmeras especiais lançadas e controladas da superfície, os pesquisadores usaram equipamentos especiais de mergulho trazidos dos EUA
(Foto: Luiz Rocha/California Academy of Sciences)
Apesar da boa notícia, os pesquisadores alertam que o novo ecossistema já sofre pressões pela mineração para a fabricação de fertilizantes e, também, pela pesca. Foram encontrados nos montes submarinos recém-mapeados âncoras, vestígios de armadilhas e outros apetrechos utilizados pela indústria pesqueira.
“Os montes submarinos e as ilhas oceânicas desempenham importante papel como hotspots de biodiversidade em meio à vastidão do oceano aberto. Embora a ecologia e a evolução das ilhas tenham recebido muita atenção nas últimas décadas, compreender a dinâmica dos montes submarinos continua a ser um grande desafio”, destaca Pinheiro.
Estruturas em forma de colina, constituídas principalmente por algas coralinas,
com altura entre 60 e 70 metros e cume a 17 m de profundidade
(Foto: Hudson T. Pinheiro)
*A pesquisa de campo nas Colinas Coralinas contou com o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza
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Foto de abertura: Luiz Rocha/California Academy of Sciences