Criaturas fantásticas, os anfíbios das fotos acima, não? Eles são as novas espécies que habitam o Zoológico de São Paulo (ZOO SP) graças à dedicação e expertise de biólogos e pesquisadores: sapinho-garimpeiro (Adelphobates galacotonotus), axolote (Ambystoma mexicanum), perereca-das-folhagens (Phyllomedusa distincta), perereca-de-Alcatrazes (Scinax alcatraz) e perereca-de-capacete (Nyctimantis brunoi).
Referência no país para pesquisa, manutenção e reprodução ex situ de anfíbios, a instituição mantém estudo contínuo desde 2012, abarcando diversas espécies, entre as quais estão algumas sob ameaça de extinção como a Perereca-de-Alcatrazes, reproduzida naquele ano.
O objetivo desse trabalho é a conservação ex situ, ou seja, para formar populações de segurança que ajudem a preservar genes ou recuperar espécies em estado crítico nos seus locais de origem. “E, no caso dos animais que não figuram na lista de risco, o trabalho permite conhecer melhor as particularidades de cada grupo para replicar o processo em situações mais sensíveis”, explica o zoo.
Os anfíbios são extremamente relevantes para o equilíbrio ambiental, visto que atuam no ambiente controlando insetos e fazendo parte da cadeia alimentar de mamíferos, répteis e aves.
O Brasil é o país com a maior diversidade de anfíbios, mas, atualmente, mais de 60 espécies são consideradas ameaçadas de extinção.
Estudo publicado na revista científica Biological Conservation, divulgado no site Pesquisa Fapesp, revela a queda destas populações apenas na Mata Atlântica, nos últimos 130 anos, em geral atribuída à perda de habitat, à poluição e ao aumento da temperatura global.
Por isso, a conservação ex situ tornou-se tão importante, especialmente nos casos em que os animais ocorrem em apenas um local (espécies endêmicas) e sofrem ameaças diretas e constantes, como acontece com boa parte dos anfíbios.
Devido ao sucesso dos programas de conservação, o ZOO SP vem estabelecendo parcerias e compartilhando suas técnicas com outros zoológicos e instituições de pesquisa do país, tais como o Parque das Aves, em Foz do Iguaçu, e o Centro de Conservação de Fauna Silvestre (CECFAU), do Governo do Estado de SP.
Entre as mais celebradas reproduções está a mais recente e inédita, ocorrida no final do ano passado, quando um casal de pererecas-de-capacete trouxe ao mundo mais de 300 filhotes! Todos estão sob os cuidados das equipes do parque. Outro momento emocionante aconteceu também em 2022 com a primeira reprodução da perereca-das-folhagens.
Os novos moradores do Zoo SP
Sapinho-garimpeiro
Dendrobates tinctorius é o nome dado à espécie de sapinho colorido, chamado popularmente de garimpeiro (por preferir montanhas e riachos, como os praticantes dessa atividade) e encontrado em florestas tropicais da América Central e América do Sul, como a Amazônia e as matas do entorno do município de Serra do Navio, no centro-oeste do Amapá, onde são muito abundantes.
O espectro de cores dessa espécie vai do azul claro (como o da foto) ao amarelo com preto, passando pelo verde e quase transparente, quando o animal é mais novo.
Apesar da beleza, é preciso tomar cuidado com o sapinho-garimpeiro porque ele libera toxinas na pele prejudiciais aos seres humanos, que se tornam perigosas somente quando entram na circulação sanguínea, por meio de um ferimento, por exemplo.
Axolote
Ambystoma mexicanum é popularmente conhecido como “monstro aquático” ou “peixe que anda”, chega à fase adulta ainda com características de quando era larva. Vive em ambientes escuros e de água doce e possui três pares de brânquias externas.
Ao contrário do que sua aparência pode suscitar, o axolote não é um peixe, mas uma salamandra, fazendo parte da ordem de anfíbios caudados e com aparência de lagarto. Por isso, ele também é chamado de salamandra axolote.
É um animal marinho e, como as salamandras, é capaz de se regenerar, mas de um jeito ainda mais especial, inclusive em regiões do sistema nervoso: recupera-se de feridas sem deixar cicatriz; regenera extremidades amputadas e, em caso de lesões, sua medula espinhal se recupera completamente.
O axolote é um ser muito antigo, original do México e chegou ao país nas embarcações dos espanhóis colonizadores. Por isso, faz parte da mitologia local: dizem que a espécie é a reencarnação do antigo deus asteca Xolotl, responsável pelo fogo e pela iluminação.
E já foi muito admirado por artistas como o pintor mexicano Diego Rivera que o introduziu em murais, o poeta mexicano Octavio Paz, que falou dele em poemas, e o escritor argentino Julio Cortázar que, em 1956, escreveu um conto inspirado nesta criatura fantástica.
A espécie está em risco de extinção. Sua captura para comércio ilegal (há quem o considere como pet!) e alimentação, além da perda de habitats são fatores que levaram a IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza) a classificá-lo como ‘criticamente ameaçado’.
O lago Xochimilco, na Cidade do México, é o único lugar do mundo se encontra axolotes “selvagens”. Censo realizado de 1998 a 2008 revela que o lago reunia cera de seis mil axolotes, mas, em 2003, caíram para mil em 2003, e, em 2008, para 100. As principais ameaças, neste caso, são a poluição da água e a introdução de carpas e tilápias, seus predadores.
Daí, a grande importância do trabalho do ZOO SP em lutar por sua preservação.
Perereca-das-folhagens
Vive em áreas preservadas da Mata Atlântica do o sul do estado de São Paulo, passando pelo Paraná, norte de Santa Catarina até o estado do Rio Grande do Sul.
Tem hábitos noturnos e arborícolas. Costuma usar árvores e arbustos próximos aos cursos hídricos como abrigo e o tom verde da sua pele permite a camuflagem entre a flora a fim de dificultar a visão de predadores. Se alimenta pequenos invertebrados.
Para se reproduzir, a espécie deposita acima da superfície de lagoas temporárias, numa folha de arbusto e depois a fecha com muco, mantendo os ovos envelopados e protegidos por alguns dias. Essa folha fica sobre um corpo d’água e, quando os girinos começam a eclodir, eles se jogam diretamente na água, onde completam o desenvolvimento até virarem “mini-pererecas”.
Perereca-de-Capacete
Nativa do Brasil, pode ser encontrada do sul da Bahia até o norte de São Paulo, em área de Mata Atlântica preservada.
Tem esse nome popular e muito peculiar devido ao formato do seu crânio, que possui uma ossificação no formato de crista e apresenta micro espinhos capazes de injetar veneno em predadores por meio de “cabeçadas” usadas como defesa. Esse mecanismo a torna uma das poucas pererecas peçonhentas que existem.
Perereca-de-Alcatrazes
Encontrada no litoral norte de São Paulo, especificamente na Ilha de Alcatrazes, a 35 quilômetros da cidade de São Sebastião, a espécie é caracterizada por se reproduzir exclusivamente em bromélias.
O casal deposita os ovos no centro da planta e os girinos crescem na água que nela se acumula. Na lista de espécies em risco de extinção, é classificada como “criticamente em perigo”.
Sapo, perereca ou rã: qual a diferença?
Os anfíbios são animais vertebrados que possuem o ciclo de vida duplo com uma fase de vida aquática e a outra terrestre. Se dividem em três grupos: caudatas (possuem cauda), que incluem tritões e salamandras a exemplo do axolote; os Gymnophiona, tais como as cobras-cegas que vivem embaixo da terra; e os anuros (que não possuem cauda na fase adulta) fazem parte deste grupo os sapos, rãs e pererecas.
As três espécies compartilham muitas semelhanças. No entanto, existem características que as diferenciam, veja:
Sapos: são robustos, possuem a pele seca e rugosa e membros curtos, o que impede saltos de longa distância. Apresentam glândulas paratoides que produzem veneno utilizado como mecanismo de defesa. O mais comum no Brasil é o sapo-cururu.
Pererecas: apresentam pele lisa e úmida, membros musculosos e compridos que possibilitam grandes saltos, cintura fina e discos adesivos nas pontas dos dedos que permitem a escalação em superfícies.
Rãs: com a cintura robusta, pele lisa e úmida, as rãs possuem pernas longas e musculosas. Os dedos têm membranas que lembram “um pé de pato” e lhe conferem a habilidade de natação, por isso têm hábito mais aquático e são encontradas em lugares úmidos.
Fotos: Paulo Gil/Reserva Parques