Em 2021, o planeta perdeu, por minuto, o equivalente a dez campos de futebol de florestas tropicais primárias – áreas de floresta tropical madura, importantíssimas para a conservação da biodiversidade e o armazenamento de carbono. Os dados são da mais recente análise divulgada pelo Global Forest Watch*, uma iniciativa do World Resources Institute (WRI). E segundo o levantamento, o Brasil é o campeão, de longe, no triste ranking de países que apresentaram as maiores perdas.
No ano passado, nosso país desmatou mais de 1,5 milhão de hectares de florestas tropicais primárias. Apesar de o Brasil possuir cerca de um terço desses ecossistemas remanescentes do mundo, desde 2016 a taxa de destruição tem se mantido acima acima de 1 milhão de hectares.
“A perda de floresta primária no Brasil é especialmente preocupante, pois novas evidências revelam que a floresta amazônica está perdendo resiliência, estando mais perto de um ponto de inflexão do que se pensava anteriormente”, diz Fabíola Zerbini, diretora de Florestas, Agricultura e Uso do Solo do WRI Brasil.
Globalmente foram perdidas 3,75 milhões de hectares de florestas tropicais primárias, o que significa que 40% dessa devastação ocorreu apenas no Brasil, que ficou bem à frente do segundo colocado do ranking, a República Democrática do Congo (confira lista completa abaixo).
Este ano, o levantamento traz uma novidade. A análise separa os dados das perdas florestais provocadas especificamente pelo fogo e aquelas geradas a partir de outros fatores, como por exemplo, expansão agropecuária. Os envolvidos no estudo ressaltam que no caso do Brasil, mesmo que tenha havido uma queda na taxa de incêndios no Pantanal e na Amazônia no ano passado em relação à 2020, o país apresentou uma perda ainda altíssima de florestas.
Uma das regiões que chama mais atenção é o chamado “Arco do Desmatamento”, área onde a fronteira agrícola avança em direção à floresta e também onde são registrados os maiores índices de desmatamento da Amazônia. São 500 mil km² de terras que vão do leste e sul do Pará em direção oeste, passando por Mato Grosso, Rondônia e Acre.
Ainda de acordo com o relatório do WRI, “muitos novos focos de perda de floresta primária nesses estados abrangem clareiras em grande escala – provavelmente para pastagens de gado – ao longo de estradas existentes, como a BR-319”.
Uma análise publicada pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), em janeiro deste ano, revelou que o aumento do desmatamento na Amazônia chegou a quase 30% em 2021, o pior índice da última década.
*O Global Forest Watch é uma plataforma global de monitoramento de perda de florestas em todo o planeta, que analisa e interpreta dados fornecidos pela Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, com resolução de 30 metros, que mapeiam a perda de cobertura arbórea, ou seja, tanto de florestas naturais como de florestas plantadas e perda devido a causas naturais ou humanas. O relatório anual concentra-se em florestas primárias tropicais úmidas por serem áreas florestais de maior preocupação, por sua biodiversidade e importância para o enfrentamento da emergência climática, e também para evitar a inclusão de perda em plantações.
O GFW difere do Prodes, o sistema de monitoramento do desmatamento da Amazônia do Inpe, por ter metodologia e período de análise diferentes: o GFW vai de janeiro a dezembro, enquanto o Prodes pega de agosto de um ano a julho do ano seguinte. Apesar dessas diferenças, ambos mostram aumento da tendência da perda de florestas primárias.
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Foto: Vinícius Mendonça/Ibama