Com a proximidade do fim de ano, que aumenta a correria e o estresse – ainda em meio a uma pandemia e a uma nova variante do coronavírus, que tensiona qualquer um – a BGV, empresa de transportes públicos de Berlim se comprometeu a encontrar uma ideia inovadora para aliviar o nervosismo de seus passageiros.
E parece que a novidade tem agradado: é uma passagem de papel comestível, salpicado com gotas de óleo de cânhamo, obtido das sementes da planta canabis que, em contraste com o ingrediente ativo THC, é completamente inofensivo como o óleo de girassol ou de oliva, e provoca imenso bem-estar.
Batizada de hanfticket – em inglês seria hempticket – a passagem tem efeito relaxante e ajuda a “engolir o estresse’ e/ou ‘a raiva’. Cada uma custa 8,8 euros – aproximadamente 56 reais!! – e vem acondicionada em um envelope plástico, podendo ser utilizada durante 24 horas.
Não vai mais fazer nenhuma viagem? Então é só mordiscar ou comer a passagem inteira e aproveitar. Se der uma mordida e guardar novamente no plástico, perde a validade.
No filme de apresentação *que você pode assistir no final deste post), quem explica como foi desenvolvida a solução é um motorista de ônibus, que nos leva a uma plantação de canabis buscar a matéria-prima, muito bem selecionada, e depois nos leva ao laboratório, onde são reveladas as etapas até chegar ao produto final.
A ideia da campanha é que “quem quiser viver o Natal totalmente relaxado” deve optar pelo novo bilhete da BVG, do contrário, continua comprando o outro, tradicional. Parece que se trata de uma campanha pontual para este período de festas de final de ano.
A julgar pelas feições e posturas dos personagens – de idades variadas – no filme, deve ser realmente muito gostoso poder desfrutar de um recurso assim para aliviar a tensão.
O ticket é inofensivo e legal
A atriz que interpreta uma cientista no filme salienta que, “além de muito bom, é completamente legal“. Na divulgação para a imprensa, a empresa esclareceu que, com essa campanha, não assume nenhuma posição pública a respeito do debate em torno da legalização da maconha na Alemanha.
“Somos contra qualquer tipo de uso de drogas, seja legal ou ilegal”, declara a BVG, ao mesmo tempo que apoia “abordagens mais abertas sobre substâncias que sejam completamente inofensivas”.
Vale destacar que o novo presidente alemão – Olaf Scholz substituiu Angela Merkel na semana passada – se comprometeu em legalizar o consumo e a venda de maconha para fins recreativos no país.
Como seria uma campanha como essa no Brasil?
Faz muito sentido procurar uma forma de aliviar o estresse de quem pode fazer compras no Natal, ainda mais depois de um ano tão conturbado que ganhou, antes de terminar, uma nova variante, a Ômicron. Mas isso em países como a Alemanha e outros na Europa, que não vivem a situação de miséria a que o povo brasileiro tem sido levado no governo Bolsonaro.
Por aqui, o hanfticket talvez não fizesse muito sucesso ou seu lançamento tivesse que ter sua ideia original adaptada à realidade brasileira, ficando relegado à uma “elite” econômica – 53 reais por passagem!!! – que, na verdade, não usa metrô nem ônibus para viver essa maratona. Vai de SUVs.
Isso sem falar no conservadorismo que tenta se impor no país por meio de um governo que não defende o estado laico, mas evangélico. Certamente esse tipo de campanha não seria autorizada ou sofreria ataques de extremistas.
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Fotos: divulgação/BVG e reprodução do vídeo