Desde o primeiro dia da 26ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP26, 40 lideranças indígenas brasileiras participam incansavelmente de encontros com personalidades – como o Príncipe Charles e a Princesa Esmeralda da Bélgica e com Leonardo DiCaprio -, debates, manifestações – como a Marcha Global pelo Clima e o Global Day of Action for Climate Justice – e atos para denunciar os ataques sistemáticos do governo federal – que também aconteceram na conferência – e declarar que os povos originários são parte da solução contra a crise climática e pelo futuro do planeta.
Em 9/11, algumas dessas lideranças ocuparam as ruas de Glasgow no Ato pela Vida para falar da violências a que esses povos são submetidos diariamente pelo governo e com seu apoio. Não é à toa que Bolsonaro tem sido denunciado na Corte Internacional de Haia, por crimes contra a humanidade, genocídio e ecocídio.
“Bolsonaro não é apenas um perigo para o Brasil, Bolsonaro se tornou uma ameaça mundial. Bolsonaro é uma ameaça para o planeta”, bradou Sonia Guajajara, coordenadora executiva da APIB – Articulação dos Povos Indígenas do Brasil. “De nada vai adiantar firmar acordos aqui se não forem respeitados nossos direitos e nossos modos de vida”, completou (assista ao vídeo no final deste post).
“Nós somos parte da solução, por isso queremos ser ouvidos e consultados”, declarou Dinaman Tuxá, também coordenador executivo da APIB. “Não haverá solução se não houver diálogo com os indigenas e povos tradicionais! E uma das soluções é a demarcação de nossos territórios, por isso gritamos ‘Demarcação Já!'”.
Em seguida, Dinaman e o público gritaram: “Bolsonaro fora! Bolsonaro genocida! Bolsonaro ecocida! Bolsonaro criminoso ambiental!”.
A manifestação foi realizada em parceria com a organização Extinction Rebellion, bastante atuante no mundo. Em dado momento, uma de suas ativistas – ‘rebelde vermelha’ – se emocionou com as declarações das lideranças e foi consolada por uma delas.
As verdadeiras líderes do clima
A participação dos povos indígenas nas negociações da COP26 é uma das reivindicações das lideranças, desde o primeiro dia da conferência. Incansáveis, lembraram disso em todos os atos e encontros dos quais participaram, também com base na seguinte pergunta:
“Se os povos indígenas protegem 80% da biodiversidade planetária por que recebem menos de 1% do financiamento dedicado globalmente à redução do desmatamento? E por que não participam das negociações da COP26, com os chamados líderes mundiais?
É essa ideia que norteia os outdoors instalados, na semana passada, em ruas de Glasgow, próximas do local onde está sendo realizada a conferência do clima, que faz um convite aos passantes: Conheça as reais líderes do clima – como contamos aqui.
Lideranças ameaçadas na COP26
A jovem indígena Txai Suruí, a única representante do Brasil a falar na Cúpula de Líderes, em 1/11, segundo dia da COP26, fez um lindo discurso – muito aplaudido – e foi intimada, logo em seguida, por um funcionário do ministério do meio ambiente, que integra a delegação brasileira. Ele gritou para ela “parar de falar mal do Brasil”.
No dia seguinte, como faz diariamente em frente ao Palácio da Alvorada, no “cercadinho”, Bolsonaro – que escolheu não ir à COP26 – reclamou para seus fãs:
“Estão reclamando que eu não fui para Glasgow. Levaram uma índia para lá —para substituir o [cacique] Raoni— para atacar o Brasil. Alguém viu algum alemão atacando a energia fóssil da Alemanha? Alguém já viu atacando a França porque lá a legislação ambiental não é nada perto da nossa? Ninguém critica o próprio país. Alguém viu o americano criticando as queimadas lá no estado da Califórnia. É só aqui”.
Mas os ataques não pararam por aí: ela tem sido vítima de ameaças e violência verbal e escrita por parte de aliados do governo Bolsonaro, nas redes sociais.
Dois dias depois do discurso de Txai, mulheres indígenas também foram intimidadas por um deputado do Mato Grosso, da base governista, e rapidamente abordado por seguranças da ONU.
Uma violência e uma vergonha perante o mundo! Estas ações renderam ao Brasil o antiprêmio Fóssil do Dia, ofertado por uma rede de organizações que luta por justiça climática, a Climate Action Network (CAN), devido ao “tratamento tenebroso e inaceitável aos povos indígenas”.
Agora, assista à fala de Sonia Guajajara no Ato pela Vida, em Glasgow:
Fotos: Divulgação/APIB