Entre junho e julho deste ano, o artivista Mundano, o documentarista André D’Elia (Cine Delia) e o grafiteiro Subtu fizeram uma expedição de mais de 10 mil quilômetros por quatro grandes biomas: Amazônia, Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica.
A iniciativa integra o projeto multimídia de arte e meio ambiente Cinzas da Floresta, criado por eles – com a parceria e apoio de organizações da sociedade civil, entre elas Greenpeace Brasil, WWF-Brasil e Be The Earth Foundation – para denunciar crimes e sensibilizar para a causa ambiental.
O roteiro da expedição incluiu paradas nas cidades de Poconé (Pantanal, Mato Grosso), Colíder (Amazônia, Mato Grosso divisa com Pará), São Jorge na Chapada dos Veadeiros (Cerrado), Alto Paraíso de Goiás (Cerrado) e Amparo (Mata Atlântica, São Paulo).
Eles viram de perto a devastação provocada pelo fogo e conheceram o trabalho magnifico das brigadas voluntárias. Participaram de ações, de treinamentos e ouviram os brigadistas contarem histórias diárias de luta contra a devastação e as alterações climáticas.
Mundano coletou carvão e cinzas das queimadas com a intenção de produzir tinta para pintar mais uma releitura da obra de um grande artista e D’Elia registrou tudo em vídeo para a produção de um mini-documentário, que deve ser lançado até o final deste ano. O teaser já está circulando nas redes sociai: veja no post do Mundano no Instagram, que reproduzo no final deste texto.
Em abril de 2019, o artivista coletou lama tóxica no rio Paraopeba, em Brumadinho e pintou telas inspiradas em obras de Tarsila do Amaral e de Cândido Portinari. Em março de 2020, com o óleo derramado que coletou no litoral nordestino, recriou A Grande Onda de Kanagawa, do gravurista japonês Hokusai, 1830. Um ano e cinco meses depois do maior crime socioambiental do país, recriou a obra Operários, de Tarsila, em um mural de 800 metros no centro da cidade de São Paulo.
Agora, depois de produzir uma cartela em tons de cinza (veja alguns, abaixo) a partir do carvão e das cinzas de restos de árvores e de animais carbonizados, ele pinta um painel de quase mil metros de altura, também no centro da capital paulista, com mais uma versão de uma obra modernista de Portinari: O Lavrador de Café, de 1934.
O grafite gigante foi iniciada em 30 de setembro e deve ser concluído até meados de outubro.
“Nas cinzas, a gente encontrou ossadas, mandíbulas, dentes, espinha dorsal, então dá pra sentir a dor. As árvores foram queimadas vivas, os animais foram queimados vivos. A gente quer pegar essa dor, essas cinzas da floresta e transformar em artivismo. Pra defender, pra preservar e pra homenagear todos e todas que defendem a floresta em pé. Porque sem floresta não tem água, e sem água não tem vida”, destaca Mundano.
“O grande desafio é fazer uma releitura do lavrador de Portinari, usando os pigmentos das cinzas das florestas para homenagear todos os brigadistas”, completa o artivista.
No lugar do lavrador, Mundano desenhou um brigadista inspirado em Vinicius Curva de Vento, da Brigada Voluntária de São Jorge, que recentemente combateu os incêndios na Chapada dos Veadeiros. No documentário, o voluntário declara: “A gente se põe a serviço, se torna instrumento para proteger a natureza, o que não tem preço. É muito melhor ser brigadista voluntário do que ficar só olhando o fogo queimar”.
Assim, a nova obra de Mundano dará visibilidade a todos/as que atuam como Vinicius pela proteção e preservação das florestas e de outros ambientes naturais, e também dos que trabalham de forma incansável na maioria das vezes sem reconhecimento e com equipamentos limitados.
E o artivista salienta: “Resíduos de crimes ambientais infelizmente são matéria-prima abundante pelo Brasil. Testemunhar as queimadas foi essencial na pesquisa com as cinzas que se transformarão em uma denúncia desse tempo de destruição ambiental”.
A obra está sendo produzida na empena do Condomínio Edifício Sucupira, localizado na Rua Capitão Mor Jerônimo Leitão, 108, em frente ao início da Rua 25 de Março, com o apoio do coletivo Parede Viva, e deve ficar pronta até meados deste mês. O melhor ângulo para contemplá-la é da passarela da Avenida Prestes Maia, como na foto abaixo.
João Cândido, filho de Portinari, aprovou escolha de Mundano e revela que este é um momento muito especial para recordar e reinterpretar “os ânimos das artes” que transformam a sociedade.
“Ele está fazendo essa releitura com um tom dramaticamente social, pois está produzindo a tinta com as cinzas da floresta e vai homenagear os brigadistas. Isso tem tudo a ver com a mensagem do meu pai, com a obra dele. Fiquei muito feliz e emocionado em saber deste trabalho”.
Vale lembrar que, em fevereiro de 2022, será celebrado o centenário da Semana de Arte Moderna.
Parceiros, apoio e como ajudar as brigadas voluntárias
O projeto Cinzas na Floresta conta com a parceria das organizações Be The Earth Foundation, Greenpeace Brasil, WWF-Brasil e Bem Te Vi Diversidade, e o apoio do IPAM – Instituto de Pesquisa da Amazônia, Fundação Mais Cerrado, SOS Pantanal, ISA – Instituto Socioambiental, Sinal de Fumaça, Clima Info, SOS Mata Atlântica, Masp, Fundação Portinari, Museu Portinari e Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.
Também inclui a divulgação de campanhas de arrecadação de recursos para equipamentos, logística e alimentação, realizadas pelas brigadas voluntárias que Mundano conheceu durante a expedição.
O apoio e a participação do público são fundamentais para que os brigadistas continuem desenvolvendo esse trabalho heróico e permaneçam em constante combate às queimadas. Aqui, quatro indicações para doações:
– Brigada São Jorge: PIX/CNPJ: 07208243006169
– Brivac Fogo – Brigada Voluntária Ambiental de Cavalcante: PIX/CNPJ: 05154283000140
– Colinas do Sul: PIX/CPF: 14580355814 – (Gisele Catarino)
– Rede contra o Fogo: PIX/CNPJ: 29216266000158
Além destas, também integra este projeto a Rede Nacional de Brigadas Voluntárias (RNBV).
Acompanhe Mundano, o projeto Cinzas da Floresta e Cine Delia no Instagram. E, agora, assista ao teaser publicado por Mundano, abaixo:
Foto (destaque): reprodução Instagram Cinzas da Floresta