Sebastião Salgado é um dos vencedores da 32ª edição do Prêmio Imperial (Praemium Imperiale) concedido anualmente e desde 1989 pela Associação Japonesa de Arte. O prêmio foi criado pela família imperial japonesa em memória do príncipe Takamatsu e homenageia talentos em cinco categorias: pintura, escultura, música, arquitetura e cinema/teatro, áreas não contempladas pelo Prêmio Nobel. Vem daí a alcunha de ‘nobel das artes‘.
A fotografia também não é contemplada pelo prêmio japonês. Mas a dramaticidade e a intensidade do trabalho do fotógrafo brasileiro – um dos maiores talentos dessa área no mundo – levou o júri a inclui-lo na categoria pintura por retratar, “com grande sentido estético“, a realidade dos mais desfavorecidos e a degradação do meio ambiente na Amazônia. Sempre em preto e branco.
Para escolher seu nome, os jurados e curadores analisaram seu último projeto, Amazônia, fruto de cerca de 50 expedições ao longo de seis anos ao “coração da floresta”, que revela a riqueza de um dos maiores patrimônios naturais da humanidade, e de seus moradores: ribeirinhos e indígenas.
Sebastião Salgado é o terceiro brasileiro reconhecido pelo Prêmio Imperial: Oscar Niemeyer foi o primeiro, em 2004, e o arquiteto Paulo Mendes da Rocha, o segundo, em 2016.
Exposição e livro
Até 31 de outubro, 200 imagens da Amazônia de Salgado estão em exposição na Filarmônica de Paris (abaixo), e vão rodar o mundo. Esse trabalho também pode ser admirado no livro da Taschen, publicado em maio deste ano
Em ambos estão “a floresta tropical, os rios, as montanhas, as pessoas que ali vivem – esse tesouro insubstituível da humanidade em que o imenso poder da natureza se faz sentir como em lugar nenhum mais na Terra”.
Em 2018, Salgado cedeu 16 fotografias de Amazônia para o acervo do Supremo Tribunal Federal, inaugurando exposição homônima, com curadoria de Lélia, como contamos aqui.
“A Amazônia é a última grande porção de floresta tropical do planeta e acho que nós todos juntos temos a obrigação de mantê-la. Essas populações indígenas representam a pré-história da humanidade, e feliz o país, como o nosso, que pode conviver com sua pré-história”, disse Salgado, na abertura dessa exposição, em fevereiro de 2018. “Essas imagens representam a pureza do Brasil”.
Cerimônia virtual e outros contemplados
O Prêmio Imperial concede 15 milhões de ienes (cerca de R$ 690 mil) a cada laureado.
A lista foi divulgada ontem, 14/9, em Paris, pelo ex-presidente do Instituto Goethe e conselheiro da Associação Japonesa de Arte Klaus-Dieter Lehmann (assista ao vídeo).
A cerimônia de entrega dos prêmios costuma ser realizada em Tóquio, em outubro, com a presença do príncipe Hitachi, irmão mais novo do imperador Akihito. Mas, este ano, será realizada virtualmente devido à pandemia da covid-19.
Os outros premiados da edição de 2021 são:
– o escultor americano James Turrell, que “usa espaço e luz como meio de expressão”, conta o site DW;
– o violoncelista americano Yo-Yo Ma, filho de pais chineses residentes em Paris, que, já gravou mais de 100 álbuns e recebeu diversos prêmios, entre eles 18 Grammys;
– o arquiteto australiano Glenn Murcutt, famoso pelas casas modernistas que constrói em ambientes rurais, em perfeita integração, e que venceu o prêmio Pritzker em 2002.
Devido à pandemia, que restringiu diversas áreas da cultura como o cinema e o teatro, o júri decidiu anular a premiação dessa categoria este ano.
Outros prêmios
Vale destacar, também, que, no início deste mês, Sebastião Salgado foi premiado com o Visa de Ouro de Honra da revista francesa Figaro pelo conjunto de sua obra, durante o festival de fotojornalismo Visa pour l’Image, que aconteceu em Perpignan, no sul da França.
Em janeiro, ele foi homenageado durante a cerimônia de abertura do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, ao lado do arquiteto britânico-ganense David Adjaye OBE, como contamos aqui.
Os dois receberam o 27th Annual Crystal Award, premiação que reconhece a contribuição do trabalho de artistas, das mais diferentes áreas, para a sociedade.
Salgado foi escolhido por sua liderança na abordagem da desigualdade social e sustentabilidade. Já David Adjaye OBE por seus serviços a comunidades, cidades e ao meio ambiente.
Foto (destaque): Marcia Navarro e Renato Amoroso/ divulgação Fórum Econômico Mundial
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