Durante quase um ano, os cientistas de uma missão internacional se debruçaram sobre dados coletados de forma exaustiva no Ártico para obter novas respostas a cerca do aquecimento global e das das mudanças climáticas. E parece que obtiveram informações valiosas, mas não boas notícias.
Após oito meses do retorno dessa expedição – a maior já enviada ao Polo Norte, o cientista Markus Rex revelou que o aquecimento global pode ter ultrapassado o ponto de não retorno, tornando impossível sua reversão.
Na verdade, assim que chegou ao porto de Bremerhaven, na Alemanha, em 12 de outubro de 2020 – a bordo do quebra-gelo Polarstern do instituto alemão Alfred-Wegener –, Rex já havia alertado sobre a “velocidade dramática” do desaparecimento da camada de gelo, considerado pelos cientistas como “epicentro do aquecimento global“.
A missão batizada de Mosaic durou 389 dias, navegou 3.400 quilômetros, custou 140 milhões de euros (170 milhões de dólares) e reuniu 20 países para estudar a atmosfera, o oceano, a camada de gelo e o ecossistema com o intuito de colher dados suficientes para avaliar o impacto da mudança climática na região e no mundo.
Trouxeram mais de 150 terabytes de dados e mais de mil amostras de gelo.
‘Efeito dominó’
“No verão, observamos grandes áreas de água líquida quase até o polo, cercadas de gelo cheio de buracos, devido a um expressivo degelo”. E acrescentou:
“A camada de gelo – que é um espaço vital para os ursos polares – recuou mais rápido na primavera de 2020 do que desde o início das medições” e, durante o verão, havia metade da extensão de gelo de décadas atrás.
Se ultrapassarmos esse ponto, as consequências serão gravíssimas e virão em cascata, em “efeito dominó”, como o desaparecimento da calota polar da Groenlândia ou o degelo de áreas amplas do permafrost do Ártico, “agravando ainda mais o aquecimento”.
“O desaparecimento do gelo de verão do Ártico é uma das primeiras minas neste campo minado, um dos primeiros pontos de não retorno a que chegamos quando vamos longe demais no aquecimento global”.
Ele disse que, hoje, não podemos dizer se conseguiremos salvar a Grande Barreira de Coral na Austrália.
Apenas o estudo dos próximos anos nos permitirá saber se ainda podemos salvar a camada de gelo do Ártico – presente o ano todo graças a uma proteção do clima – ou se já atravessamos o ponto de não retorno“, advertiu ele, em Berlim, em entrevista coletiva para a imprensa, esta semana (16/6), ao lado de Anja Karliczek, ministra da Educação e Pesquisa da Alemanha.
De acordo com informações publicadas no site da missão científica chefiada por Rex, há várias centenas de publicações científicas após a análise dos elementos coletados no Ártico – com as quais os organizadores da expedição podem contar até 2023 – “que devem permitir escrever um novo capítulo para a compreensão da mudança climática”.
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Fontes: UOL, DW
Foto: Christopher Michel/Creative Commons/Flickr