O Pangasianodon hypophthalmus, conhecido popularmente como panga ou tubarão de água doce, é um peixe de uma espécie nativa da Ásia, mais especificamente do Vietnã. Em três estados brasileiros, Rio Grande do Norte, Sergipe e São Paulo, seu cultivo em cativeiro já é autorizado. Agora um projeto de lei apresentado em Tocantins quer liberar a psicultura do panga também por lá.
Psicultores defendem que a espécie, que teria sido introduzida no Brasil há cerca de dez anos, se adaptou perfeitamente ao clima do país, especialmente nos estados das regiões Norte e Nordeste. O peixe seria uma nova alternativa para aquelas pessoas acostumadas ao consumo da tilápia.
Todavia, justamente por ser uma espécie invasora exótica, biólogos alertam sobre os riscos do cultivo desse tipo de peixe no Brasil, mesmo que em cativeiro. E ainda mais, na região da bacia do Tocantins.
“O Araguaia é uma das mais importantes e a única totalmente em território nacional das sub-bacias que formam o grande Amazonas”, ressalta o biólogo Jean Vitule, professor de Ecologia do Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Ele ressalta ainda que o o panga possui grande potencial de competir com espécies nativas brasileiras, similares em em formas e hábitos, como é o caso do mapará (Hypophthalmus edentatus), um peixe encontrado na bacia amazônica.
Vitule explica que se pode perder o controle sobre a criação de espécies exóticas porque é comum acontecerem escapes de peixes criados em tanques para corpos de água naturais, como lagoas lagos, rios, riachos e várzeas. Ele cita, por exemplo, o que acontece com a tilápia.
“Quando há escapes das tilápias de tanques de cultivos, se esses indivíduos possuem parasitas, fungos ou vírus, esses organismos vão direto para os ecossitemas naturais e seminaturais. É um tipo de poluição biológica e grave, pois diferente de poluentes físicos e químicos, ela pode, por exemplo, se multiplicar no espaço e no tempo, correr nos sentidos contrários ao fluxo de rios e reservatórios entre outras coisas”, diz.
“O que se deveria perguntar para os governantes é por que investir em poucas espécies exóticas se temos a maior diversidade de peixes de água doce do planeta?”, questiona Vitule.
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Foto: Vassil/wikimedia commons