
79,5 milhões de pessoas. Este número assombroso está no novo relatório Tendências Globais do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), divulgado ontem, 18/6, em Genebra, na Suíça, e representa o dobro registrado há dez anos, quando havia 40 milhões nessa situação. Hoje, uma em cada 97 pessoas, no mundo, vive como deslocada em seu país ou refugiada.
São pessoas que tiveram que abandonar suas casas para “fugir de guerras, perseguições e violações dos direitos humanos, entre outras formas de violência“, deslocando-se dentro do próprio país ou se refugiando em países vizinhos, contou Filippo Grandi, comissário-geral do órgão. Ele alertou que este é o maior número já registrado pela agência da ONU e que “não vemos a tendência frear”.
O relatório 2020 indica que, até o final de 2019, havia pelo menos 79,5 milhões de pessoas em movimento. Um recorde vergonhoso! Desse total, entre 30 e 34 milhões de deslocados podem ser crianças e 26 milhões são refugiados, ou seja, atravessaram as fronteiras de seus países.
Em 2019, mais 8,7 milhões engrossaram a lista e, destes, 4,2 milhões pediram asilo em outros países. Grandi ponderou que outros estudos números ainda mais altos: 11 milhões de pessoas teriam passado para essa condição. E um detalhe: ainda existem 3,6 milhões de refugiados venezuelanos, registrados pela agência separadamente. Entre 2018 e 2019, o aumento de refugiados se deveu à intensificação da crise política e humanitária no país.
Todos – deslocados internos e refugiados – têm cada vez menos chance ou esperança de voltar às suas casas. Grandi confirma essa realidade, prevendo que a situação vai piorar: “A comunidade internacional está dividida e totalmente incapaz de trabalhar pela paz. Infelizmente, a situação vai continuar a se agravar e temo que no ano que vem será ainda pior”.
O alto comissário ressaltou que as migrações internacionais começaram a se elevar a partir de 2012 e se agravaram no ano passado por causa de “mais conflitos e mais violência”. Para ele, os números evidenciam que as soluções políticas adotadas para superar tais crises, que culminam com essas “expulsões”, são ineficientes e acabam reforçando o cenário que impede que elas possam voltar para casa.
Indicando que a situação é um tema global, Grandi salientou que os países em desenvolvimento são os mais afetados, enquanto os mais pobres abrigam 85% de todos os seres humanos que são forçados a fugir de suas casas.
São cinco os países que concentram 68% da população de refugiados: Síria, Venezuela, Afeganistão, Sudão do Sul e Mianmar. Os mais impactados: Afeganistão, República Centro-Africana e Mianmar. Os países classificados como críticos: República Democrática do Congo, Burkina Fasso, a região do Sahel e Síria.
Há nove anos que a Síria tem sido devastada por conflitos armados o que levou 13,2 milhões de pessoas a abandonarem suas casas. Estas representam 1/6 da população total de deslocados no mundo. Cerca de 7 entre 10 deslocados saíram de países como a Síria, Venezuela, Afeganistão, Sudão do Sul e Mianmar.
Outro dado terrível: os países que apoiam 85% do fluxo entre fronteiras são os de renda média ou baixa, não os ricos.
Pandemia agrava a situação dos deslocados
O relatório 2020 da Acnur aponta a pandemia da COVID-19 como um dos fatores de maior impacto econômico para países pobres e em desenvolvimento, o que agravará a situação dos deslocados, tanto internos como refugiados. É uma ameaça adicional, sem dúvida. A pobreza aumentará dramaticamente para todos e eles têm ainda menor chance de trabalhar e obter uma renda mínima.
O comissário-geral da ACNUR destacou, ainda, que as guerras, os conflitos e a violência não cessaram com a pandemia: “Com ou sem pandemia, as pessoas continuam a fugir porque estão ameaçadas e precisam de refúgio, de proteção”.
Grandi também lembrou que os refugiados rohingya, que fugiram da violência de Mianmar e foram para Bangladesh, estão deixando este país em direção à Malásia e a outros Estados no sudeste da Ásia. Segundo Grandi – e que esse deslocamento pode estar relacionado com a crise provocada pela pandemia.
Foto: Vincent Tremeau/ACNUR
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