Há pouquíssimo texto no livro “The Boy, the Mole, the Fox and the Horse”, “O menino, a toupeira, a raposa e o cavalo”, em tradução livre para o português. As ilustrações, de seu autor, o britânico Charlie Mackesy são simples, minimalistas, quase infantis. Seus traços só desenham o essencial, assim como suas palavras, um breve relato do encontro e dos diálogos de um menino com três animais.
Todavia, sua obra tem encantado milhares e milhares de leitores em todo mundo. O livro está na lista dos mais lidos dos jornais The New York Times e do Wall Street Journal e também foi escolhido por grandes livrarias, como a americana Barnes & Nobles, e a inglesa Waterstones, como “Book of the Year”.
Pouco menos de dois meses após o lançamento de “The Boy, the Mole, the Fox and the Horse”, em outubro de 2019, já foram vendidas mais de 250 mil cópias somente nos Estados Unidos – para se ter uma ideia da dimensão desse número, o livro da ex-primeira dama, Michelle Obama, que teve um sucesso gigantesco, vendeu 1,1 milhão de unidades no ano passado.
Mas Charlie Mackesy não vive no meio político, não é uma celebridade e nunca antes tinha escrito um livro. Sem nenhuma formação formal em artes, esse morador do sul de Londres trabalha como cartunista para a revista The Spectator e ilustrador para a Oxford University Press.
Ilustrações nas redes sociais
Em 2018, Mackesy começou a reproduzir algumas de suas ilustrações em seu perfil no Instagram. Pouco a pouco, ele foi conquistando a atenção e o coração das pessoas. Todavia, foi quando o artista postou a imagem abaixo, seu trabalho tomou uma proporção nunca antes imaginada por ele. Nela, o menino pergunta ao cavalo: “Qual foi a coisa mais corajosa que você já disse?”. E o bicho responde: “Ajude-me”.
Nas semanas e meses seguintes, o ilustrador recebeu uma enxurrada de pedidos de hospitais e outras instituições que cuidam de pessoas com problemas emocionais para o uso do desenho.
Mackesy revela que muitos dos diálogos presentes nas 128 páginas do livro, publicado pela Ebury Publishing, foram trocados entre ele e alguns amigos. A imagem que abre este post, por exemplo, foi inspirada em uma tarde compartilhada com o filho de um amigo. Nela, a toupeira questiona o menino, sentado no galho de uma árvore: “O que você quer ser quando crescer?” Ao que ele responde: “Gentil”.
Para o autor, suas ilustrações são uma maneira dele expressar dúvidas sobre a própria existência.
“Todos os quatro personagens representam partes diferentes da mesma pessoa”, explicou ele ao jornal The Guardian. “O menino curioso, a toupeira entusiasmada, mas um pouco gananciosa, a raposa que foi machucada e se distanciou da vida, com dificuldade para voltar a confiar no próximo, e o cavalo que é a parte mais sábia, a parte mais profunda de você, a alma”.
O livro, originalmente escrito em inglês, já está sendo traduzido para outras 17 línguas, incluindo, o português. Afinal, sua mensagem é universal, com valores que precisam ser redescobertos.
Nos dias atuais, em que o mundo digital e as redes sociais deram espaço para o obscurantismo, a intolerância e a violência verbal, “The Boy, the Mole, the Fox and the Horse” nos lembra que ainda há lugar para o amor, a amizade, a esperança e a gentileza em nossas vidas. Aliás, é o que mais queremos e ansiamos ter de volta.
“A mensagem simples, porém profunda, de bondade e compreensão, é um antídoto para nossos tempos muitas vezes ansiosos e incertos”, declararam os editores da Waterstone.
Obrigada, Charlie Mackesy por resgatar esses valores!
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Ilustrações: Extracted from The Boy, the Mole, the Fox and the Horse by Charlie Mackesy (Ebury Press)