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O universo dos povos indígenas do Xingu sob o olhar de Renato Soares, em exposição no Rio de Janeiro. Até 28 de fevereiro!

Texto publicado em 22/10/2019 e atualizado em 6 e 31/1/2020
A exposição foi prorrogada até 28 de fevereiro de 2020!

Renato descobriu, muito jovem, sua afinidade e amor pelos indígenas, por sua cultura e por seu modo de vida. Sentiu-se muito à vontade em suas casas, em seus rituais, com suas pinturas corporais. Primeiro, devido a uma reportagem para um grande jornal. Mas, logo, o indigenista Orlando Villas Bôas cruzou seu caminho e “adotou” aquele rapaz talentoso em seu ofício e cheio de vontade de saber tudo sobre sua jornada pelo Centro-Oeste.

Dali pra frente, nada o impediria de voltar à convivência com esses povos originais e aprender seus hábitos, suas práticas no dia a dia, sua cantoria, a pescar, fazer o fogo, falar sua língua, a tomar banho de rio logo cedo e no finalzinho da tarde…. Assim, deixou pra trás qualquer possibilidade de se fixar em um jornal para tornar-se independente e fazer o que bem entendesse. “Esse é meu jeito”, diz sempre, com sotaque mineiro.

Não demorou muito para criar o projeto que pautaria sua vida profissional e pessoal, fortaleceria sua personalidade e garantiria – de um jeito muito fluido porque é muito natural -, seu eterno retorno à sua essência: a convivência com a terra, com a natureza e com seus verdadeiros guardiões.

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Foi assim que surgiu o Ameríndios do Brasil, projeto que tem um objetivo ambicioso, como seu autor: fotografar todas as etnias indígenas do país. Com um detalhe: sem pressa, mas com o respeito e a reverência que merecem. No tempo que o coração de Renato indica.

Não, ele não passa pelas aldeias com hora marcada. Não as visita com planos a cumprir. Ele convive com cada tribo, mora com seu povo, conhece o cacique, cada integrante, cada família, o pajé, as crianças. Ah, as crianças adoram o Renato! Já vi cenas hilárias e também ouvi histórias bonitas sobre seu convívio com elas.

Só depois de conquistar a confiança de todos é que pega seus equipamentos. E começa a fotografar, mostrando pra eles como aparecem na imagem – é sempre uma alegria. E assim, passa praticamente metade de cada ano fora de sua casa em São Paulo, com seus parentes ameríndios.

No Xingu, conhece boa parte das etnias. Para algumas tribos, volta sempre que pode. Recentemente, esteve com os Waurá para acompanhar o Quarup com um grupo de fotógrafos (amadores e profissionais), que aderiram à sua quarta expedição.

Algumas das imagens que registrou nesta viagem fazem parte da exposição que montou especialmente para o Rio de Janeiro, a convite da Caixa Cultural. A mostra Ameríndios do Brasil – Antropologia da Beleza foi inaugurada em 26 de outubro, com direito a bate-papo do fotógrafo com o público sobre suas viagens realizadas nos últimos 25 anos, por 44 localidades de norte a sul do país. E abriu oficialmente para o público no dia 27. Foi programada para terminar em 22 de dezembro, mas a visitação e o interesse do público animou os administradores do espaço que prorrogaram a exposição até 18 de fevereiro.

Vale lembrar que, no Rio de Janeiro, em qualquer lugar que se vá, certamente não há outra saída se não pronunciar nomes indigenas, veja só: Sepetiba, Cachambi, Tijuca, Catumbi, Ipanema, Guaratiba, Inhaúma, Jacarepaguá, Irajá, Paraty, Itaboraí, Niterói, Itaguaçu, Itatiaia…

Beleza e antropologia

As fotos do Renato são lindas. E essa é uma de suas marcas registradas, sim. Seus retratos são fortes. Ele capta, sem cerimônia, mas com total cumplicidade, a alma de cada integrante desses povos tão ricos de história. E as paisagens? Dá vontade de mergulhar nelas. Flagrantes de momentos do cotidiano – sempre autorizados pelos retratados – são outra preciosidade. “Eu sei que minha fotografia é bonita e já fui muito criticado por isso. Mas é assim que sei fotografar. Essa é minha técnica, não importa o objeto da foto”, conta.

Não importa se a tribo tem por perto um pequeno rio ou uma imensa lagoa, se seu povo mantém rituais ricos em pinturas corporais e adereços ou figurinos mais simples, se detém um repertório vasto de canções herdadas dos antepassados ou uma seleção de pequenos cantos, se sabe contar histórias, se sua língua é original ou resgatada com alterações, se moram em ocas gigantes ou em pequenas cabanas, se têm canoas ou barcos de alumínio, se suas mulheres criam colares de miçangas ou se dedicam à cestaria.

Tudo é muito pulsante na vida indígena. E, sob o olhar de Renato essa vida ganha uma plasticidade ímpar.

Por isso, é reconhecido como o fotógrafo contemporâneo que inaugurou uma nova forma de expressão artística: a antropologia da beleza. Seu trabalho vai muito além da beleza estética. Ele nos convida a refletir sobre a luta dos povos indígenas para manter sua identidade viva e reconhecida. Ainda mais neste momento do Brasil, em que o governo federal os avilta e ameaça constantemente. Nesse cenário, suas imagens ganham status ainda mais especial. “É a beleza contra a dureza. Minha fotografia ajuda a manter essa cultura viva e integra o movimento que dá força e voz a esses povos”, ressalta ele, cioso da importância de seu trabalho.

Quem for à exposição no Rio de Janeiro, se encantará com 60 imagens de grande impacto, que traduzem a ancestralidade e a diversidade de 14 etnias da Terra Indígena do Xingu, que representam os povos de todo o Brasil.

Este é um convite para que o público se entregue à uma imersão no habitat, nos costumes e nas cores pulsantes que retratam as tribos do Xingu, “em uma legitima contribuição à preservação da memória cultural do povo brasileiro, integrando a construção de um grande acervo etnofotográfico. É um convite à celebração de nossas origens, à vida.

Agora, anote as informações completas sobre a exposição:
Em cartaz: de 27 de outubro de 2019 a 18 de fevereiro de 2020
Horário: 3a. a domingo, das 10h às 21h
Local: Caixa Cultural – Galeria 3 – Avenida Almirante Barroso, 25, Centro.
(estação carioca do metrô e do VLT.)
Entrada franca.

E aprecie algumas das imagens em preto e branco que compõem a exposição Ameríndios do Brasil – A Antropologia da Beleza. Antes, um flagrante do fotógrafo com uma das ampliações desta mostra, em que aparecem o cacique Aritana à frente de lideranças Yawalapiti, do Xingu.

Fotos: Renato Soares

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Sandra
Sandra
5 anos atrás

Fotos que falam por si, sem a necessidade de palavras. Da beleza do índio, sua cultura e sua terra, sagrados, assim como sagrado é o nosso lar civilizado, às vezes nem tanto. Fotos consentidas, não roubadas, como brancos costumam fazer com o tesouro deles, quando a cobiça os impele a ser desumanos e usurpadores de sua herança, tradição, cultura, terra, água, ouro e ritos, deles. Por isso consentiram em ser fotografados, porque índios são sábios, adivinham quem vem para roubar e quem vem para doar o que sabe e o que é, além de humano também, respeitando o espaço deles, onde tudo é precioso, o sol, a chuva, a lua, o trovão, a água e o alimento, deuses da Natureza deles, divina, que a nossa natureza pervertida quer transferir para ser como somos, como eles não querem ser. Fotos consentidas, porque tão reais quanto benévolas, eles sabem que é exatamente assim que são, puros e belos, sem o disfarce dos esgares sem verdade e sem a nossa máscara de ovelhas ocultando leões. Parabéns, Renato; as fotos só foram permitidas porque você fotografou o que eles são, depois que eles viram que é você.

LUCIOLA ZVARICK SOARES
LUCIOLA ZVARICK SOARES
5 anos atrás

Lindo texto, Mônica! Sensível e preciso! A exposição Ameríndios do Brasil tem esse caráter de mostrar a beleza onde ela se revela naturalmente. E Renato Soares, como pouco, nos presenteia, com luzes e sombras, com o seu olhar generoso sobre os povos originários!

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