Eu sou único. Sério. Sou o último rinoceronte branco macho no planeta Terra. Não quero parecer muito presunçoso, mas o destino da minha espécie depende – literalmente – de mim. Eu funciono bem sob pressão. Gosto de comer mato e me refrescar na lama. Não tenho problemas. 1,80 m e 2 mil kg, se interessar.
O perfil bem humorado acima foi colocado no aplicativo de relacionamentos Tinder e faz parte da campanha “The Most Eligible Bachelor in the World” (O Solteiro Mais Cobiçado do Mundo, em português) da organização do Quênia Ol Pejeta Conservancy para tentar arrecadar dinheiro para a realização de uma inseminação artifical.
O solteiro buscando ajuda no Tinder é Sudan. Ele é o último macho de rinoceronte branco do norte sobrevivente no mundo. Com 45 anos, já está velho demais para reproduzir sozinho. Os biólogos da Ol Pejeta fizeram várias tentativas para estimular o acasalamento com outras duas fêmeas (também as últimas restantes) – Fatu e Najin -, mas nada deu certo.
A solução encontrada pela ONG agora é tentar uma inseminação in vitro. O problema é o custo: em torno de 9 a 10 milhões de dólares. Para conseguir levantar este dinheiro surgiu a parceria com o Tinder. Usuários do aplicativo em 190 países estão sendo convidados a fazer doações (de 25 a 500 dólares) para ajudar a salvar os rinocerontes brancos do norte da extinção.
A campanha chamou tanto a atenção dos usuários, que nas primeiras horas depois da postagem do perfil, o aplicativo saiu do ar.
“Isto representa nossa última chance para salvar a espécie, já que todas as tentativas de reprodução anteriores foram um fracasso”, afirmou Richard Vigne, CEO da Ol Pejeta Conservancy. “Salvar os rinocerontes brancos do norte é crítico, se quisermos, um dia, reintroduzi-los de volta à África Central”.
Última esperança do rinoceronte branco do norte
Pesquisas com inseminação artifical já estão sendo feitas em diversas instituições dos Estados Unidos, Itália, Japão e Alemanha, para que possam existir, pelo menos, dez filhotes de rinocerontes brancos nos próximos cinco anos. “Eles possuem características genéticas únicas, que lhes conferem a capacidade de sobreviver nesta parte da África, onde poderiam novamente viver no meio selvagem”.
Existem cinco espécies de rinocerontes, três na Ásia e duas na África subsaariana: de java, de sumatra, indiano, negro e branco. Este último, é dividido em duas subespécies, o branco-do-norte, como Sudan, e o branco-do-sul.
No passado, os rinocerontes brancos do norte eram encontrados em regiões de países como Uganda, Congo, Sudão. Eram cerca de 2 mil indivíduos livres na natureza na década de 60. Mas a crescente demanda pelos chifres do animal, usados como medicamento na China, impulsionou a matança da espécie. Nos anos 80, foi decretado que ela era considerada em risco grave de extinção.
Apesar dos esforços de organizações ambientalistas, em 2010, não havia mais rinocerontes brancos do norte vivos na natureza e pouquíssimos restavam em zoológicos. Há dois anos, o número chegou a somente quatro animais, mas com a morte de um deles em San Diego, sobraram apenas Sudan, Najin e Fatu.
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Imagem: divulgação