Humanidade destruiu 10% das áreas selvagens do planeta nos últimos 25 anos

Humanidade destruiu 10% das áreas selvagens do planeta nos últimos 25 anos

Apesar dos esforços de conservação e proteção ao meio ambiente nas últimas décadas, um estudo divulgado, na semana passada, mostra que a destruição e degradação da natureza continua ocorrendo em um ritmo alarmante. Elaborado por pesquisadores da University of Queensland, na Austrália, o artigo “Catastrophic Declines in Wilderness Areas Undermine Global Environment Targets” foi publicado na revista Current Biology.

De acordo com os cientistas, de 1990 até hoje, foram destruídos 3,3 milhões de km2 de área selvagem do planeta, algo como se dois Alaskas inteiros tivessem simplesmente desaparecido. O volume da destruição representa 10% das áreas selvagens que ainda restam na Terra.

O que os pesquisadores australianos definem como “áreas selvagens” não são regiões pristinas (virgens), mas ainda bastante intocadas. Nestas grandes extensões de terra estão localizados importantes biomas e ecossistemas, habitats de um imenso número de espécies da fauna e flora. São lugares essencias para a sobrevivência de minorias, algumas das populações mais marginalizadas, tanto economica como politicamente, como os povos indígenas, por exemplo.

Para fazer a atual análise, os cientistas australianos compararam mapas aéreos das principais regiões de florestas do mundo (como você pode ver na ilustração ao final deste post).

Uma das constatações mais chocantes do estudo aponta que “apesar do governo brasileiro ter conseguido diminuir muito as taxas de desmatamento”, a Amazônia é responsável por 30% de toda a perda de áreas selvagens ocorrida nos últimos 25 anos. Em segundo lugar, aparecem as florestas da África Central, que também estão sendo dizimadas.

A área da Bacia Amazônica foi reduzida de 1,8 milhão de km2  para 1,3 milhão de km2. A Floresta de Ycayali, no Peru, é uma das mais degradadas. Habitat de mais de 600 espécies de aves e primatas, tem sido devastata por empresas produtoras de óleo de palma e pelo plantio de cacau.

No Brasil, sabemos que a destruição da Floresta Amazônica é provocada pelo avanço da atividade agropecuária sobre a região. Cada vez mais, o plantio da soja e a criação de gado para produção de carne avançam sobre a mata. Há ainda a derrubada ilegal de árvores pelo setor madeireiro e de mineração.

Apesar de, há muitos séculos, o ser humano modificar e impactar o meio ambiente, nunca antes se viu uma degradação tão grande provocada pelo homem.

As áreas que estão sendo destruídas prestam serviços ambientais insubstituíves para a nossa sobrevivência no planeta Terra. Florestas são fundamentais para a proteção da biodiversidade; sequestro e captura de carbono (a retirada de CO2 da atmosfera, gás liberado pela queima de combustíveis fósseis – gasolina, diesel e carvão – que provoca o aquecimento global) e regulação do clima (transpiração das árvores é importante para a formação de chuva).

Os pesquisadores fazem alertas ainda mais assustadores. Afirmam que se a destruição continuar, em um século não haverá mais áreas selvagens na Terra. São justamente nestes lugares que vivem alguns dos animais que correm mais risco de serem extintos, entre eles, rinocerontes, elefantes e quatro dos seis grandes primatas – gorila de Grauer, Western gorila, orangotango de Borneo e o da Sumatra -, considerados pela Lista Vermelha da organização ambiental Conservação Internacional como criticamente ameaçados.

“O que é realmente preocupante sobre este estudo é que uma vez destruídas estas áreas selvagens, elas nunca mais voltarão. Não poderemos recuperá-las”, afirmou James Watson, um dos autores da pesquisa, em entrevista ao jornal The Guardian.

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Foto: domínio público/pixabay

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.