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‘Martírio’, premiado documentário de Vincent Carelli, estreia nos cinemas em 13 de abril


O documentário Martírio, do cineasta e indigenista Vincent Carelli (codirigido por Ernesto Carvalho e Tita, abaixo), que conta a saga dos índios Guarani-Kayowaa para retomar suas terras, foi lançado no ano passado, no Festival do Cinema de Brasília, foi exibido em algumas sessões especiais, já percorreu inúmeros festivais e foi premiadíssimo. Agora, finalmente, estreia em circuito comercial pelo país, em 13 de abril. Ele chega a 20 cidades brasileiras por meio do projeto Sessão Vitrine Petrobras.

Dolorido e necessário, é um convite para que nos tornemos mais conscientes da dura e violenta realidade dos povos indígenas no Brasil, a partir da resistência da etnia Guarani-Kayowaa contra o poderoso aparato do agronegócio. Nos provoca a refletir, mas vai além: é corajoso e nos convida ao enfrentamento.

Segundo filme de uma trilogia (que começou com Corumbiara* e terminará com Adeus, Capitão, que está em desenvolvimento), ‘Martírio’ é narrado na primeira pessoa por Carelli, que traz sua memória afetiva e militância junto aos Guarani-Kayowaa. Nele estão o testemunho e as lembranças de mais de um século de massacres e da omissão do Estado brasileiro frente ao genocídio no Mato Grosso do Sul.

Pra transformar o filme em uma verdadeira aula de história para qualquer idade, Carelli e equipe valeram-se de arquivos históricos e de imagens produzidas por Carelli ao longo de dez anos. Ele remonta as origens das políticas indígenas desde a Guerra do Paraguai, passando pela integração dos índios ao sistema de trabalho (dos brancos!!), até os massacres promovidos pelo agronegócio e a bancada ruralista hoje.

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O que vemos na tela é a insurgência pacífica e obstinada dessa etnia numa grande marcha pela retomada de seus territórios sagrados através da câmera de Carelli, que registrou o início do movimento em 1980. Ele nos apresenta um conflito de forças desproporcionais, revelando as origens do genocídio. Os próprios índios nos mostram a luta empreendida, sua resistência (muitas vezes, espiritual) e contam sobre sua profunda ligação com a terra sagrada a qual pertencem.

Soco no estômago


Assisti ‘Martírio’ durante a Bienal de Cinema Indígena (Aldeia SP), que aconteceu em junho de 2015, em São Paulo. Mergulhei e me deixei levar pela narrativa intensa de Carelli ( com codireção de Tita e Ernesto Carvalho, ao lado) sem perceber que foi condensada em mais de duas horas. Não percebi passar o tempo. Me emocionei, chorei, me debati por dentro e odiei com as minhas entranhas. Quando acabou, aplaudi muito, com total entusiasmo e em pé, como todos que naquela sala estavam. Acredito ser impossível sair o mesmo dessa projeção. Então, prepare-se…, melhor não! Vá de peito aberto.

‘Martírio’ é um soco (bem dado) no estômago, um grito de socorro, uma denúncia urgente, mas também uma reverência aos povos indígenas, em especial aos Guarani Kaiowa, seus protagonistas.

Vídeo nas Aldeias

Este é o nome do projeto lindo e precursor que Vincent Carelli criou em 1986 para produzir audiovisuais sobre os indígenas no Brasil e, com eles, apoiar sua luta e fortalecer sua identidade, seus territórios e sua cultura.

Em 1997, o Vídeo nas Aldeias (ou VNA) realizou a primeira oficina de formação de produção audiovisual na aldeia Xavante de Sangradouro. Distribuiu equipamentos na aldeia para gerar mobilização e conhecimento. Algumas tribos se aproximaram de outras depois de tomarem conhecimento de sua existência em alguns vídeos de Carelli.

Foi uma experiência e tanto, levada para outras tribos, inclusive para o registro de violência contra esses povos. Em ‘Martírio’, Carelli também usa de imagens produzidas pelos Guarani-Kayowaa para contar sua história.

Agora, assista ao trailer de ‘Martírio’ e, em seguida, veja se sua cidade foi contemplada com a exibição do filme de Carelli e consulte outros textos relacionados ao documentário (publicados aqui, no Conexão Planeta, ou em outros sites) e que vale muito a leitura!

Veja em que cidades e cinemas ‘Martírio’ será exibido:
– São Paulo (Espaço Itaú de Cinema Augusta e Caixa Belas Artes)
– Rio de Janeiro (Espaço Itaú de Cinema Botafogo)
– Niterói (Cine Arte UFF)
– Belo Horizonte (Cinema Belas Artes), Santos (Cinespaço Miramar),
– Porto Alegre (Cine Bancários e Espaço Itaú de Cinema Porto Alegre)
– Curitiba (Cineplex Batel, Cinemateca de Curitiba e Espaço Itaú de Cinema Curitiba)
– Vitória (Cine Metrópolis)
– Brasília (Cine Brasília e Espaço Itaú de Cinema Brasília)
– Goiânia (Cine Cultura Goiânia)
– Salvador (Espaço Itaú de Cinema Glauber Rocha)
– Palmas (Cine Cultura Palmas)
– São Luís (Cine Praia Grande),
– João Pessoa (Cine Banguê e Cinespaço Mag Shopping),
– Recife (Cine São Luíz, FUNDAJ Cinema do Museu),
– Teresina (Cine Teresina),
– Maceió (Cine Arte Pajuçara),
– Fortaleza (Cinema do Dragão),
– Aracaju (Cine Vitória),
– Rio Branco (Cine Teatro Recreio),
– Belém (Cine Líbero Luxardo).

Leia também:
– É no trato com os índios que o Brasil se revela (Maria Rita Kehl entrevista Vincent Carelli)
– Martírio, um filme que o Brasil precisa ver (artigo de Felipe Milanez para sua coluna no site da Carta Capital)
– Martírio: um filme que o Brasil precisa ver (Felipe Milanez entrevista Vincent Carelli)
– Brasília, terra em transe (O crítico de cinema José Geraldo Couto comenta sobre Martírio, que assistiu no Festival de Brasília)
– Os índios que abalaram Brasília (O jornalista Jotabê Medeiros entrevista Vicent Carelli sobre Martírio)

*O primeiro filme da trilogia de Vincent Carelli é Corumbiara, que conta sobre o massacre de índios na Gleba de Corumbiara, em Rondônia, em 1985, denunciada pelo indigenista Marcelo Santos. 

Fotos: Divulgação

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Mara Albissú
7 anos atrás

“Es un monstruo grande y pisa fuerte
Toda la pobre inocencia de la gente”. (Solo Le Pido a Dios)

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