*Por Claudio Angelo
A Amazônia acaba de ganhar um novo sistema de monitoramento por satélite, que finalmente une as características dos dois sistemas oficiais existentes: rapidez e alta resolução. Batizada Deter B, a tecnologia permite acompanhar o ritmo da devastação em tempo quase real, mas também possibilita enxergar desmatamentos pequenos, que hoje respondem pela maior parte das derrubadas na floresta. Com isso, não será mais preciso esperar um ano para saber qual é a taxa acumulada de perda de vegetação.
Hoje o país tem três sistemas de monitoramento plenamente implantados, dois do governo e um do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia). O Prodes, do Inpe, dá a taxa oficial de desmatamento uma vez por ano, medida de agosto a julho com resolução de 30 metros. Ele usa o satélite americano Landsat, que no entanto padece de uma “síndrome de Barrichello”: suas imagens são demoradas de adquirir e de processar.
O Deter, também do Inpe, é usado para gerar alertas de desmatamento que orientam a fiscalização do Ibama. Ele se utiliza de imagens do sensor Modis, embarcado nos satélites americanos Terra e Aqua. O Modis tem passagens semanais sobre a Amazônia, o que lhe dá agilidade. Mas é míope: não consegue enxergar nada com menos de 250 metros, portanto é ruim para ver desmatamentos menores que 25 hectares – que têm virado o padrão. O SAD (Sistema de Alertas de Desmatamento), do Imazon, também usa imagens do Modis, mas com um processamento diferente.
Essa miopia torna o Deter impróprio para fazer cálculo de área desmatada – embora desde 2005 o governo faça uso político do sistema, para gerar estimativas de taxa anual sempre que o desmatamento está em queda. Com a pulverização do corte raso em áreas pequenas, tem sido cada vez mais difícil prever a taxa anual do Prodes apenas acompanhando o Deter.
Com o Deter B, esse problema acabou. O segredo é que o novo sistema usa dois novos sensores, de 56 metros e 64 metros de resolução, embarcados respectivamente no satélite indiano ResourceSat-2 e no sino-brasileiro CBERS-4. As espaçonaves dão ao Inpe duas imagens por semana de cada local monitorado, com resolução que ainda não é a mesma do Landsat, mas que avança significativamente em relação ao Modis.
“A correspondência com o Prodes é praticamente de um para um”, disse ao OC Dalton Valeriano, coordenador de Observação da Terra do Inpe e responsável pela montagem do Deter B. “O Deter A só permitia falar de alertas, agora dá para falar em desmatamentos”, disse Valeriano durante a apresentação do sistema, nesta quinta-feira, no Ministério do Meio Ambiente.
Após a apresentação de Valeriano, a ministra Izabella Teixeira anunciou o primeiro dado do Deter B: entre agosto do ano passado e abril deste ano, foram perdidos 3.613 quilômetros quadrados de floresta, ou 2.200 quilômetros quadrados a menos do que em todo o ano anterior. “Não é trivial ter esse dado”, disse a ministra. “Temos um novo patamar de instrumentos de gestão.”
Segundo Amintas Brandão, do Imazon, o dado ainda não permite dizer se a taxa será maior ou menor do que a do ano passado, já que maio, junho e julho são meses fortes de derrubada. Um problema no satélite indiano impediu que os dados de agosto a abril do ano anterior fossem compilados pelo Deter B para comparação.
CERRADO
Também na quinta-feira foi anunciada a estratégia de monitoramento de todos os biomas brasileiros, que o governo promete desde 2009. “A cobrança será intensa e contínua enquanto não demonstrarmos capacidade de olhar o país como um todo”, disse Thelma Krug, diretora de políticas contra o desmatamento do Ministério do Meio Ambiente.
O Cerrado, principal bioma ameaçado pelo desmatamento hoje, terá seu próprio Prodes a partir de 2016, e monitoramento contínuo, como o do Deter, a partir de 2018. Em 2010, ainda no governo Lula, o Deter do cerrado havia sido prometido para 2011. O monitoramento de todos os biomas deve funcionar a partir de 2018. Já este ano, porém, a plataforma MapBiomas, do Observatório do Clima, deverá permitir olhar as mudanças de cobertura florestal de todos os biomas do país.
*Texto publicado originalmente em 06/05/2016 no site do Observatório do Clima
Foto: Neil Palmer/CIAT for Center for International Forestry Research (CIFOR)/Creative Commons/Flickr