Um dos maiores fotógrafos da atualidade, o mineiro Sebastião Salgado – assim como outras milhares de pessoas no país – ficou extremamente consternado com a tragédia ambiental e social que se abateu sobre a região de Mariana, no interior de Minas Gerais, destruída pela lama tóxica com resíduos de minério, proveniente do rompimento da barragem da empresa Samarco, e que agora se alastra ao longo do Rio Doce, deixando pelo caminho centenas de animais mortos.
Salgado e a esposa Lélia estão à frente do Instituto Terra, que tem como missão a recuperação e conservação ambiental. Na sexta-feira (13/11), a entidade divulgou um comunicado público sobre o Rio Doce, em que pede ações urgentes.
No documento, o Instituto Terra informa que seu corpo técnico elaborou um projeto de recuperação para o Rio Doce, que “prevê a criação de um fundo, com recursos financeiros subsidiados pelas empresas responsáveis pelo desastre (Samarco, BHP e Vale) que possibilite, além da recuperação de nascentes, absorver todos os investimentos e ações destinados à reconstrução das condições ecológicas, bem como gerar recursos contínuos para projetos sociais, econômicos e de geração de emprego e renda em toda a região que constitui essa bacia hidrográfica”.
Ainda segundo o comunicado, o projeto já foi debatido com os governadores de Minas Gerais e Espírito Santo. Na própria sexta-feira, Sebastião Salgado foi recebido pela presidente Dilma Rousseff, em Brasília, a quem apresentou a proposta pessoalmente. Após a reunião, o fotógrafo disse que a presidente tinha achado a ideia excelente e se comprometeu a criar um comitê para negociar com as empresas responsáveis.
Em entrevista à TV Gazeta, do Espírito Santo, Salgado deu mais detalhes sobre a iniciativa. Revelou que o projeto prevê a recuperação de todas as nascentes do Rio Doce, bem como as matas ciliares do Vale e toda sua reserva legal.
Sebastião Salgado e o Vale do Rio Doce
O mais celebrado fotógrafo mineiro tem uma relação profunda com o Rio Doce. Cresceu ali, na fazenda de gado do pai, no município de Aimorés. Depois de anos viajando pelo mundo e registrando imagens impactantes que o tornaram conhecido internacionalmente, decidiu voltar ao Brasil. No premiado documentário Sal da Terra, que conta sua trajetória, o fotógrafo confessa que após fazer a cobertura do genocídio de Ruanda, entrou em uma crise profunda e se sentiu descrente da humanidade. “Minha alma estava doente”, diz no filme.
Recuperado da tristeza, o fotógrafo lançou um novo projeto – Gênesis – um contundente e belíssimo retrato da natureza ainda intocada e majestosa do planeta. Em paralelo, Salgado e a esposa se depararam com a tão querida Fazenda Bulcão devastada pelo desmatamento e a seca. Em 1998, reuniram parceiros e arrecadaram recursos para começar a recuperação da terra.
O resultado foi impressionante. Foram restaurados mais de 7 mil hectares de áreas degradadas e produzidas em viveiros 4 milhões de mudas de espécies de Mata Atlântica para abastecer tanto a fazenda dos Salgado quanto os projetos do Instituto Terra na região.
Trazer vida novamente ao Rio Doce será um processo difícil e de longo prazo. Nos últimos dias, a mídia tem mostrado imagens chocantes de peixes mortos. As populações ribeirinhas estão desesperadas. E várias cidades do Vale tiveram o abastecimento interrompido porque a água do rio está contaminada com metais pesados. O fundo, proposto pelo Instituto Terra, é fundamental para a recuperação do Vale. E as empresas envolvidas no desastre têm dever moral de fazer tudo o que for possível para devolver a água e o verde à região de Mariana.
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Foto: Félix Bernet/Creative Commons/Flickr