PUBLICIDADE

Pantanal perde 13% das matas em 15 anos

Pantanal

O maior esforço já feito de mapeamento da cobertura vegetal do Brasil traz algumas más notícias: em apenas 15 anos, entre 2001 e 2015, o país perdeu 20% de sua área de manguezais, em parte destruídos pela expansão urbana. O Pantanal, bioma brasileiro mais preservado, assiste a uma conversão da vegetação natural, onde o uso de pastagens naturais é alterado para pastagens plantadas com vegetação exótica – 13% área (incluindo gramíneas e florestas) virou pasto no mesmo período. E o Cerrado teve perdas proporcionalmente três vezes mais elevadas do que a Amazônia. Mas há também esperanças: a quase extinta Mata Atlântica passa por um renascimento, tendo ganho 2,5 milhões de hectares (o equivalente a quase uma Bélgica) neste século.

Os dados, inéditos, foram revelados pela segunda coleção de mapas do MapBiomas (Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo no Brasil), iniciativa do Observatório do Clima em colaboração com 18 instituições, entre universidades, ONGs e empresas de tecnologia. Os mapas, lançados na sexta-feira (28/04), em Brasília, mostram como o território brasileiro se transformou ao longo do século XXI, com imagens de satélite que vão de 2000 a 2016.

A nova série de mapas permitirá pela primeira vez acompanhar a evolução da ocupação do território em todos os biomas brasileiros ao mesmo tempo – hoje essa informação só está disponível para a Amazônia e Mata Atlântica e, de dois em dois anos, para o Pantanal – e calcular com maior precisão as emissões de gases de efeito estufa dele resultantes. Mas também possibilitará saber quanta floresta está se regenerando no Brasil, informação crucial para monitorar o cumprimento das metas nacionais no acordo do clima de Paris (a NDC).

PUBLICIDADE

A volta gradual da floresta atlântica é um exemplo. O bioma, que teve sua cobertura original reduzida a 12,5%, cresceu de 276 mil quilômetros quadrados em 2001 para 301 mil quilômetros quadrados em 2015.

O estado campeão de regeneração foi o Paraná (como já haviamos mostrado aqui), que ganhou 5 mil quilômetros quadrados de mata, principalmente por recuperação de áreas de preservação permanente, como margens de rios. Mas quem ganhou mais mata em relação à área total do estado foi o Rio de Janeiro: 17,8% de florestas a mais em 2015 em comparação com 2001 (um crescimento de 10 mil para 12 mil quilômetros quadrados).

“Não é que exista uma grande área de recuperação; são áreas pequenas, que foram abertas no passado para agricultura ou pastagem e foram abandonadas ou por serem inadequadas (relevo, solo, isolamento, etc.) e não sustentar atividades agropecuárias, ou por causa da migração da população rural para as grandes cidades, ou para atender a Lei da Mata Atlântica, de 2006, que estabeleceu proteção especial ao bioma. Essas florestas estão começando a voltar, em parte naturalmente e, em partes isoladas, induzidas por diversas iniciativas”, diz Marcos Reis Rosa, da ArcPlan, coordenador de Mata Atlântica e Pantanal do MapBiomas.

O crescimento de florestas secundárias na Mata Atlântica está longe de significar que o bioma esteja salvo: o desmatamento nas matas primárias permanece, em taxas relativamente menores, mas ainda inaceitáveis para um bioma do qual já resta pouco de cobertura original. Mesmo assim, trata-se de uma boa notícia, já que florestas secundárias sequestram carbono (mitigando o aquecimento global), protegem fontes de água e criam corredores entre fragmentos.

A mesma sorte não teve o Pantanal. No período observado, a maior planície alagável do mundo perdeu 14 mil quilômetros quadrados, com a vegetação natural caindo de 86% para 73%. O Pantanal era muito preservado por ter grandes extensões de pastagens naturais, onde o gado convivia com a vegetação nativa. Neste século, porém, foi intensificada a derrubada de áreas de mata, as chamadas “cordilheiras”, para a plantação de pastagens e intensificação da pecuária.

Outro dado que surpreendeu os pesquisadores foi a perda dos manguezais: no período de 2001 a 2015, eles tiveram redução líquida de 20% no país. Entre os culpados estão a expansão urbana e o assoreamento de estuários.

O mangue é um ecossistema insubstituível. Primeiro, por servir de berçário a espécies de peixes, crustáceos e moluscos que mantêm a economia de várias regiões brasileiras. Segundo, por proteger a costa contra o efeito da elevação do nível do mar, um dos piores impactos do aquecimento global. Os manguezais são uma barreira natural contra as ressacas, que já estão mais fortes e devem ficar ainda piores ao longo deste século.

O MapBiomas também deve ajudar a solucionar uma questão que perturba a comunidade científica brasileira há tempos: qual é o desmatamento anual no Cerrado, segundo maior bioma brasileiro e palco principal da expansão da nossa fronteira agrícola.

Devido às características do bioma, formado por florestas, savanas e campos abertos, o Cerrado tem desafiado as medições por satélite, já que nem sempre essas formações são facilmente mapeadas. A equipe do MapBiomas já conseguiu estimar as perdas nas áreas de Cerrado arbóreo e de savana, que cobrem 74% da área do bioma. “É um esforço inédito nesta escala e nesta abrangência”, disse Ane Alencar, pesquisadora do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), que coordena a equipe responsável pelo cerrado no MapBiomas.

No período de 2001 a 2013, a perda total em savanas e florestas do Cerrado foi de 6.700 quilômetros quadrados por ano, em média, o que dá um total acumulado de 8% de perda em relação à área total dessas duas formações. É uma taxa três vezes mais rápida do que na Amazônia, se comparada ao total remanescente do bioma (o Cerrado restante tem um terço do tamanho da Amazônia).

Segundo Alencar, além da perda de carbono e da erosão da biodiversidade – o Cerrado é a savana mais biodiversa do planeta –, o desmatamento verificado nas áreas florestais do bioma também pode impactar o abastecimento de água. “O papel das florestas no Cerrado é resguardar os mananciais, já que todas as principais bacias do país têm nascentes no bioma. O desmatamento nessas florestas tem impacto direto na segurança hídrica. 

Computação em nuvem

Para gerar os mapas de todo o país, o MapBiomas lançou mão de dois recursos que nunca haviam sido empregados em conjunto no entendimento do uso do solo no Brasil. O primeiro é o trabalho em rede, com especialistas da academia, do setor privado e de organizações ambientais. O segundo é a computação em nuvem, o que multiplica o poder de processamento de dados do projeto. Isso é feito a partir da plataforma Earth Engine, do Google – a mesma que alimenta o Google Earth –, numa parceria estabelecida em 2015.

“Tecnologicamente, a parceria com a Google foi o pulo do gato. A computação em nuvem permite gerar mapas anuais de forma automatizada, mais barata e muito mais rápida”, diz Tasso Azevedo, do Observatório do Clima/SEEG, coordenador geral do MapBiomas. “Isso não substitui outros sistemas de monitoramento, mas complementa-os, para dar um quadro mais completo de como nosso território vem se transformando.”

*Texto publicado originalmente em 28/04/2017 no site do Observatório do Clima

Foto: Raphael Milani/Creative Commons/Flickr

Comentários
guest

0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários
Notícias Relacionadas
Sobre o autor