Apesar das áreas tropicais ocuparem somente 40% do planeta, elas abrigam mais de três quartos de todas as espécies de animais e plantas, incluindo quase todos os corais de águas rasas e mais de 90% das espécies de aves existentes. A grande maioria destes locais é habitat de espécies que são endêmicas dali, ou seja, não existem em nenhum outros lugar do mundo e muitas delas, ainda são desconhecidas da ciência.
Entretanto, a biodiversidade dos trópicos está em colapso. O alerta foi dado por uma equipe de pesquisadores internacionais, incluindo brasileiros, no artigo The future of hyperdiverse tropical ecosystems, publicado pela renomada revista Nature. O estudo faz parte de uma série de artigos em uma edição especial sobre os trópicos.
“No atual ritmo de descrição de novas espécies – em torno de 20 mil por ano – podemos estimar mais 300 anos para catalogar a biodiversidade do planeta”, analisa a brasileira Cecília Gontijo Leal, bióloga do Museu Paraense Emílio Goeldi e uma das autoras do artigo.
O estudo analisou os quatro ecossistemas tropicais – florestas, savanas, lagos e rios e recifes de corais -, considerados os mais diversos do planeta, que estão seriamente ameaçados pelo impacto do desmatamento, da sobrepesca e das mudanças climáticas. Além disso, estas regiões sofrem com o crescimento das populações e a ação fraca de governos para protegê-las.
Desmatamento na Amazônia
“A captura massiva de animais selvagens ilegalmente traficados resultou na perda anual de milhões de indivíduos de espécies conhecidas, entre elas, aves como o bicudo (Sporophila maximiliani), ocardeal-amarelo (Gubernatrix cristata), o bicudinho (Sporophila crassirostris) e o pintassilgo-do-nordeste (Spinus yarrelli), alvos frequentes de traficantes, e afetou muitas outras espécies sobre as quais pouco sabemos”, afirma o pesquisador Alexander Lees, da Universidade Metropolitana de Manchester, no Reino Unido.
Ainda segundo ele, várias espécies de pequenas aves cantoras estão em risco iminente de extinção global devido à captura para o comércio de animais. “Por conta disso, as florestas tropicais onde vivem estão cada vez mais silenciosas.”
E não é somente o meio ambiente dos trópicos que sofre as consequências deste desequilíbrio completo. Ele abala e causa prejuízos nas vidas de milhões de comunidades que vivem ali. É o caso, por exemplo, das populações que vivem em áreas de corais. “Embora cubram apenas 0,1% da superfície do oceano, os recifes fornecem recursos pesqueiros e proteção costeira para 200 milhões de pessoas”, explica Jos Barlow, líder do estudo e professor da Universidade de Lancaster, também no Reino Unido, com mais de duas décadas de trabalhos realizados na Amazônia brasileira.
A degradação dos corais impacta a vida de milhares de comunidades pesqueiras
“A degradação ambiental de rios e florestas tropicais retira alimento e nutrientes que são utilizados pela maioria dos peixes que, que por sua vez, servem como principal fonte de proteínas para os moradores ribeirinhos”, complementa Victoria Isaac, pesquisadora da Universidade Federal do Pará.
Apesar da situação alarmante citada pelo grupo de cientistas, eles acreditam que ainda há tempo de reverter este cenário e impedir que a biodiversidade dos trópicos seja perdida para sempre. Eles recomendam mudanças definitivas nos esforços internacionais que visam à promoção de modelos sustentáveis de desenvolvimento e por intervenções eficazes voltadas à conservação e restauração dos habitats tropicais. “Estes ambientes têm sido o lar e o refúgio da esmagadora maioria da biodiversidade da Terra por milhões de anos”, diz Joice Ferreira, da Embrapa Amazônia Oriental.
Além disso, os pesquisadores enfatizam que é necessário fortalecer as instituições de pesquisa nos trópicos. “Apesar de algumas exceções notáveis, a grande maioria dos dados e pesquisas relacionados à biodiversidade está concentrada em países desenvolvidos e não tropicais”, critica Joice.
Infelizmente, não é o que vem sendo feito pelo atual governo federal, que diminuiu as verbas para a ciência e a pesquisa. No ano passado, uma das maiores instituições de história natural do mundo, o Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém, veio a público se manifestar contra a falta de repasses financeiros (leia mais aqui).
E não foi só isso. O orçamento para o Meio Ambiente no Brasil, em 2018, é o menor dos últimos cinco anos. Um levantamento realizado pelas organizações não-governamentais WWF-Brasil e Associação Contas Abertas revelou que os gastos, ou deveríamos dizer, investimentos, no setor são os menores desde 2013.
Por isso, nas próximas eleições, pense duas, três, quatro e dezenas de vezes antes de dar seu voto a alguém. Pesquise sobre o passado de seu candidato e leia sobre suas propostas de governo. O futuro do nosso país e da nossa biodiversidade está nas nossas mãos!
*Com informações da Rede Amazônia Sustentável (RAS), formada por cientistas de dezenas de instituições do Brasil e do exterior e liderada por Embrapa Amazônia Oriental, Museu Paraense Emílio Goeldi, Universidade de Lancaster, no Reino Unido, e Instituto Ambiental de Estocolmo (SEI, na sigla em inglês), na Suécia.
Fotos: Alexander Lees e Shaun Wilson (corais)
Inútil “colocar tranca na casa arrombada” , em vão “chorar pelo leite derramado”, estamos colhendo o que plantamos em séculos de indiferença para com a Natureza e os seres que vivem nela. Uma tragédia previsível essa, de baleias mortas, entupidas com plástico e aves nadando no lixo que produzimos para elas; só mesmo um novo Noé para salvar os animais em uma nova Arca, se é que ela vai conseguir flutuar no mar das misérias humanas de desumanos, nem racionais e nem superiores, que falharam estrondosamente no quesito preservação da vida e das espécies e agora comem o pão que o diabo amassou porque é apenas isso o que resta.