Foi na natureza que a pesquisadora Pilar Blancafort do Instituto de Pesquisa Médica Harry Perkins, na Austrália, viu um possível tratamento para o câncer de mama. E conseguiu resultados promissores, publicados um artigo científico na revista Nature Precision Oncology. Ela descobriu que o veneno de abelhas mata células de um tipo de câncer bastante agressivo, o triplo-negativo, que atualmente tem opções de tratamento limitadas.
“Na pesquisa baseada em descobertas, vamos à mãe natureza para entender o que ela faz. Essa é a importância da pesquisa biomédica que fazemos em nosso laboratório – pegamos algo que existe na natureza e o aplicamos para combater cânceres difíceis de tratar e outras doenças”, revela.
Ao lado de outra cientista, sua aluna de PhD Ciara Duffy, elas usaram o veneno de 312 abelhas e zangões e testaram em laboratório seu efeito sobre células cancerígenas. E constataram que ele provocou uma destruição rápida das mesmas.
“Ninguém havia analisado anteriormente os efeitos do veneno da abelha ou da melitina (uma molécula encontrada no veneno) em todos os diferentes subtipos de câncer de mama e células normais”, diz Ciara. “Testamos um peptídeo muito pequeno com carga positiva no veneno das abelhas chamado melitina, que pudemos reproduzir sinteticamente, e descobrimos que o produto sintético espelhava a maioria dos efeitos anticâncer do veneno das abelhas”, explicou.
De acordo com as pesquisadoras, a melitina destruiu completamente as membranas das células cancerosas em 60 minutos e reduziu substancialmente as mensagens químicas que são essenciais para o crescimento e a divisão celular.
A descoberta é encorajadora, mas serão necessárias ainda novas pesquisas. “As próximas etapas requerem uma colaboração multidisciplinar e um investimento significativo de recursos”, dizem as especialistas. Elas pretendem agora avaliar se o veneno da abelha também poderia ser utilizado contra o câncer de ovário.
Esta não é a primeira vez que o veneno de abelhas é estudado para o tratamento de câncer. Em 1950, já havia sido feita uma pesquisa com o mesmo fim, mas analisando o crescimento de tumores em plantas. No caso desta mais recente, realizada pelas cientistas da Austrália, foram utilizadas abelhas melíferas (Apis mellifera), também conhecida como abelha-europeia).
O câncer de mama triplo negativo representa, em média, 15% dos casos desse tipo de doença no mundo. Comparado a outros subtipos, ele é mais frequente em mulheres jovens, em geral, com menos de 35 anos. O que faz esse tumor mais complicado é ser negativo para os três biomarcadores mais importantes na classificação e definição do tratamento: receptor de estrógeno, receptor de progesterona e HER2.
*Com informações da Harry Perkins Institute e do Hospital A.C.Camargo
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Foto: Krzysztof Niewolny on unsplash