Valente estava completamente apático, debilitado e desidratado quando foi encontrado em agosto de 2024 pela equipe da organização Onçafari. O jovem macho de anta tinha queimaduras severas nas quatro patas e nas pontas das orelhas. Ele era mais uma das vítimas dos incêndios que destruíram 80% da área do refúgio ecológico Caiman, no município de Miranda (MS). No Pantanal todo, o fogo devastou mais de 2,6 milhões de hectares no ano passado.
Durante cinco meses, o animal passou por um tratamento intensivo, que incluiu o uso de pomadas cicatrizantes, ozonioterapia, laserterapia e pele de tilápia em suas lesões. “De agosto a dezembro nos dedicamos assiduamente a melhorar a saúde do Valente”, afirma Ricardo Arrais, veterinário do Onçafari.
E o esforço valeu a pena. O macho conseguiu se recuperar plenamente e em janeiro de 2025 foi transferido para um recinto de reabilitação, onde pode se preparar para a volta à natureza. Lá ele ganhou peso, mas também se exercitou bastante.
“O recinto tem 1 hectare de área e características próximas ao seu habitat natural, com acesso à vegetação nativa e a um grande açude, proporcionando oportunidades para o nado. Isso foi essencial para a readaptação dele”, revela Lilian Rampim, bióloga e coordenadora de Operações da Base Caiman Pantanal.
E no último dia 25 de abril, após receber brincos de rastreamento para que possa ser monitorado, Valente foi reintroduzido na vida selvagem. “Quando avaliamos que ele estava em forma e apto a se alimentar por conta própria, fugir de predadores ou embate com outras antas, soltamos ele definitivamente na mesma região em que foi resgatado. Agora, seguimos com acompanhamento posterior para entender como está o dia a dia dele, que segue saudável e bastante explorador”, ressalta Ricardo.
História de Valente ganha o mundo
A trajetória dessa anta brasileira, que agora tem pouco mais de um ano de idade, ganhou o mundo através das lentes do fotógrafo Fernando Faciole. A imagem de Valente foi uma das finalistas do prêmio internacional Environmental Photography Award, promovido pela Fondation Prince Albert II de Monaco.
“Valente é um símbolo de resistência e esperança diante das tragédias ambientais que assolam o bioma Pantanal todos os anos”, disse Faciole ao Conexão Planeta.
Foto: Fernando Faciole
A anta (Tapirus terrestris) é o maior mamífero terrestre da América do Sul. Pode pesar entre 200 e 300 kg. Herbívora, ela é conhecida como jardineira da natureza pois, ao se alimentar dos frutos das árvores e arbustos, espalha as sementes pelo caminho.
No mundo todo, existem quatro espécies de antas conhecidas pela ciência: a anta-da-montanha (Andes), a anta-centro-americana (América Central), a anta-malaia (Indonésia), além da T. terrestris observada em vários países da América do Sul. Todas estão ameaçadas de extinção, segundo a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza, (IUCN na sigla em inglês).
A reintrodução de animais na natureza é uma das oito frentes de atuação do Onçafari, que também atua com ecoturismo e pesquisa científica nos quatro biomas brasileiros: Amazônia, Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica.
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Foto de abertura: Carol Prange / divulgação Onçafari
