As escolhas feitas agora são críticas para o futuro dos nossos oceanos e da criosfera (todas aquelas superfícies do planeta Terra cobertas por gelo e neve). Esta frase é o principal alerta do documento divulgado hoje (25/09), em Mônaco, pelos cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), órgão das Nações Unidas.
O relatório especial “O oceano e a criosfera em um clima em mudança” foi escrito por mais de 100 autores, de 36 países, que analisaram e estudaram cerca de 7 mil publicações científicas sobre o tema.
“O oceano e a criosfera estão absorvendo o calor das mudanças climáticas há décadas e as consequências para a natureza e para a humanidade são amplas e severas”, ressalta Ko Barrett, vice-presidente do IPCC. “As rápidas mudanças no oceano e nas partes congeladas do nosso planeta estão forçando pessoas de comunidades costeiras e remotas a alterar fundamentalmente seus modos de vida”, acrescentou.
Aproximadamente 670 milhões de pessoas moram em regiões de montanha e outros 680 milhões em zonas costeiras. Há ainda 4 milhões de habitantes no Ártico e pequenos estados insulares em desenvolvimento abrigam 65 milhões de pessoas. Todos eles dependem diretamente dos ecossistemas próximos de onde vivem.
O estudo aponta que o aquecimento global já atingiu 1 °C acima do nível pré-industrial, devido a emissões passadas e atuais de gases de efeito estufa.
“Há evidências esmagadoras de que isso já resulta em profundas consequências para esses ecossistemas e suas comunidades. O oceano está mais quente, mais ácido e menos produtivo. O derretimento das geleiras e camadas de gelo está causando o aumento do nível do mar e os eventos extremos costeiros estão se tornando mais graves”.
Aumento do nível do mar
Embora o nível do mar tenha subido globalmente cerca de 15 cm durante o século 20, atualmente ele sobe duas vezes mais rápido – 3,6 mm por ano, mostra o relatório.
Os pesquisadores destacam que isso continuará a acontecer por séculos e esse aumento poderá chegar entre 30 e 60 cm até 2100 – mesmo que as emissões de gases de efeito estufa sejam radicalmente reduzidas e o aquecimento global limitado a 2oC.
“Nas últimas décadas, a taxa de aumento do nível do mar acelerou, devido ao crescente degelo proveniente da Groenlândia e da Antártica” explica Valérie Masson-Delmotte, co-presidente do Grupo de Trabalho I do IPCC.
Tempestades mais frequentes e fortes
O mais recente
relatório do IPCC indica também que o aumento do nível do mar irá tornar mais comuns
os extremos climáticos nos oceanos, como furacões, tufões e ciclones tropicais,
colocando em risco a sobrevivência de populações em cidades costeiras e ilhas.
A previsão é que essas tragédias, que aconteciam geralmente uma vez a cada
século, irão ocorrer anualmente nesses locais, a partir de 2050.
Um exemplo recente de como o aquecimento global já traz ameaças para a vida
dessas comunidades é o que aconteceu nas Bahamas, devastada pelo furacão Dorian,
classificado na categoria 5, a mais alta na escala desses desastres.
O Dorian provocou a morte de 50 pessoas, outras milhares ainda estão desaparecidas e derrubou mais de 10 mil casas. As ilhas de Abaco e Grand Bahamas foram praticamente destruídas. Pouco sobrou em pé por causa da força da chuva e do vento, que chegou a quase 300 km/h. Segundo Hubert Minnis, primeiro-ministro do país, a reconstrução deve levar anos.
Olho do furacão Dorian, visto do espaço
Mudança nos ecossistemas marinhos
E não são apenas os seres humanos, obviamente, que estão e irão sofrer, ainda mais, no futuro, com os impactos provocados pelas mudanças no clima, causadas pelas atividades do homem na Terra.
De acordo com o relatório, o aquecimento e a alteração na química da água dos oceanos já perturbam as espécies marinhas e as pessoas que dependem deles.
“Em 2100, o oceano absorverá de 2 a 4 vezes mais calor do que entre 1970 e o presente, quando (e se) o aquecimento global for limitado a 2°C e até, 5 a 7 vezes mais, com emissões maiores. As altas temperaturas reduzem a mistura entre as camadas de água e, como conseqüência, o suprimento de oxigênio e nutrientes para a vida marinha”, afirmam os pesquisadores.
Ainda segundo os cientistas internacionais, as ondas de calor marítimas dobraram em frequência desde 1982 e aumentaram em intensidade. Nas últimas três décadas, os oceanos absorveram 20 a 30% das emissões de dióxido de carbono (CO2), induzidas pelo ser humano, acarretando na acidificação das água do oceano.
O impacto nos lugares mais frios do planeta
O levantamento realizado pelo IPCC mostra que geleiras e mantos de gelo nas regiões polares e montanhosas estão perdendo massa, contribuindo para uma taxa crescente de aumento do nível do mar, juntamente com o aquecimento das águas dos oceanos.
“Esses lugares podem parecer distante para muitas pessoas, mas nós dependemos e somos influenciados por eles direta e indiretamente de muitas maneiras – nas questões climáticas, na segurança alimentar e hídrica, na energia, no comércio, no transporte e no turismo,”, diz Hoesung Lee, presidente do IPCC.
“Se nós reduzirmos as emissões bruscamente, as consequências para essas populações ainda serão desafiadoras, mas provavelmente melhor ‘gerenciáveis’ para aqueles mais vulneráveis”.
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