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Tartarugas recebem transmissores acústicos em projeto de monitoramento no litoral brasileiro

Tartarugas recebem transmissores acústicos em projeto de monitoramento no litoral do Paraná

O monitoramento das tartarugas-verdes (Chelonia mydas) no litoral paranaense passa a contar com a tecnologia de monitores acústicos. Para isso, algumas delas foram capturadas e passaram por avaliação de saúde. Após essa etapa, elas receberam a instalação dos dispositivos e foram soltas no entorno da Ilha das Cobras, uma unidade de conservação e área de concentração dessa espécie no Brasil.

O transmissor, fixado na carapaça, permitirá aos pesquisadores mapear áreas usadas pelos animais, analisar comportamentos e identificar os locais de agrupamento, contribuindo para as iniciativas de conservação em toda a região.

A pesquisa com tartarugas marinhas é feita desde 2007 pelo Laboratório de Ecologia e Conservação (LEC-UFPR) e desde 2014 em parceria com o Programa de Recuperação da Biodiversidade Marinha (Rebimar*), iniciativa da Associação MarBrasil.

Tartarugas recebem transmissores acústicos em projeto de monitoramento no litoral brasileiro
Pesquisadores fazem a captura das tartarugas, que passam por exames e depois ganham
os transmissores acústicos
Foto: Gabriel Marchi

Em 2024, o estudo ganhou um novo parceiro, o Projeto de Conservação da Megafauna Marinha (MegaCost), mais uma iniciativa do MarBrasil e da LEC/UFPR, junto com o grupo do Projeto Meros do Brasil, e financiado pelo FUNBIO. Os transmissores acústicos, já utilizados para monitorar peixes, serão agora empregados também no estudo das tartarugas marinhas.

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Cada transmissor emite uma frequência acústica específica, permitindo a identificação individual dos animais ao passarem pelos receptores. Atualmente, há onze deles instalados no Complexo Estuarino de Paranaguá (PR) e em áreas adjacentes de Santa Catarina e São Paulo, a maioria localizada na região da Grande Reserva Mata Atlântica.

“Periodicamente, retiraremos os receptores da água para baixar as informações coletadas. Esses dados permitirão triangular as localizações registradas no mapa, identificando com precisão as áreas por onde as tartarugas marinhas circulam. Isso é possível porque os animais precisam passar a, no máximo, 300 metros dos receptores para que seja feito o registro”, explica a pesquisadora Camila Domit, coordenadora dos estudos sobre tartarugas no litoral paranaense.

Tartarugas recebem transmissores acústicos em projeto de monitoramento no litoral brasileiro
Tartaruga passa por avaliação de saúde
Foto: Gabriel Marchi

Há receptores instalados ao redor da Ilha das Cobras, em frente ao Complexo Portuário de Paranaguá, na área do Parque Nacional Marinho de Currais e nas balsas naufragadas na zona costeira do Paraná e do norte de Santa Catarina. Esses dispositivos formam uma rede de monitoramento acústico da biodiversidade marinha no litoral do Paraná, que será integrada à rede nacional. Essa conexão é possível porque receptores semelhantes estão em operação em outros pontos da costa brasileira, em projetos dedicados ao estudo de outras espécies marinhas, como exemplo, o trabalho de longo prazo com os meros.

“Com isso, poderemos fortalecer o monitoramento de espécies migratórias ao longo de todo Brasil e ampliar a nossa capacidade de coleta de dados com qualidade. Estamos implementando esta tecnologia em etapas, porque os equipamentos são caros e importados”, completa a pesquisadora.

Tartarugas recebem transmissores acústicos em projeto de monitoramento no litoral brasileiro
Transmissor instalado na carapaça de uma tartaruga
Foto: Rebimar/ LEC UFPR

DNA Ambiental

Durante a ação realizada nos últimos dias pela equipe de biólogos, oceanógrafos, veterinários e voluntários, além da captura, instalação de transmissores e exames de saúde, outra novidade foi a aplicação da metodologia de DNA Ambiental (eDNA), que abrange dois aspectos principais.

O primeiro envolve a coleta de amostras de água para identificar a presença de tartarugas marinhas por meio de vestígios genéticos liberados no ambiente. O segundo foca na análise de microrganismos presentes na água, especialmente aqueles que podem representar potenciais patológicos (doenças) e, de alguma forma, afetar a saúde das tartarugas e de outros organismos marinhos.

“Além disso, analisamos o sangue das tartarugas marinhas para identificar alguns marcadores de mutação genética, ou seja, que mostram o contato elass com contaminantes químicos que potencialmente causam alterações em sua saúde”, explica Domit.

Material genético recolhido
Foto: Gabriel Marchi

Captura, avaliação de saúde e soltura

As ações com tartarugas marinhas são realizadas com um barco equipado como um ambulatório móvel. Enquanto parte da equipe cai na água, a outra fica a postos na embarcação para receber os animais. Entre os equipamentos, está a rede de emalhe, confeccionada por um pescador artesanal de Pontal do Paraná, especificamente para este trabalho e com características para a captura eficiente e garantir o bem-estar dos animais, facilitando a retirada das tartarugas da rede.

O manejo precisa ser rápido para evitar que as tartarugas se afoguem, pois, como têm pulmões, elas precisam subir à superfície para respirar.

Uma equipe trabalha a bordo do barco, enquanto outra fica dentro da água
Foto: Gabriel Marchi

Após ser retirada da rede, a tartaruga é levada para o barco de apoio, onde passa por um “check-up” completo. O médico veterinário inicia com uma avaliação externa geral, focando na identificação de lesões ou tumores na pele do animal. Mais de 40% das tartarugas-verdes juvenis da região apresentam tumores, característicos da fibropapilomatose. Essa doença, causada por um vírus presente na água, está diretamente relacionada à qualidade ambiental: quanto mais degradado o habitat, maior a incidência da fibropapilomatose nas tartarugas marinhas.

Animal com um tumor no olho
Foto: Gabriel Marchi

Além de avaliar a presença e gravidade de tumores, a equipe mede o tamanho e a massa corporal de todas as tartarugas capturadas. Também são coletadas diversas amostras biológicas para exames e análises complementares e mais específicas que são conduzidas no laboratório da UFPR e em parceiros. Por fim, cada tartaruga recebe uma anilha metálica com um número exclusivo, registrado na base de dados nacional do Centro TAMAR/ICMBIO.

O anilhamento permite que o animal seja reconhecido caso seja recapturado em campanhas futuras no Paraná ou em pesquisas realizadas em qualquer lugar do mundo. Com todas as informações registradas, é hora de fazer a soltura e devolver o animal ao local onde foi capturado. Todo o trabalho é autorizado pelo ICMBIO e pelo Instituto Água e Terra (IAT).

Anilha garante que indivíduo possa ser reconhecido e monitorado ao longo dos anos
Foto: Gabriel Marchi

Nesta edição, a ação de monitoramento de tartarugas marinhas será registrada para o conteúdo da série “Amazônia Azul: um mar de descobertas”. A série de seis episódios é co-dirigida e co-produzida por Rodrigo Mac Niven e Andre Baseggio, e pela Produtora Golf Audiovisual, do Paraná.  A série deve estrear no segundo semestre de 2025.

Chega a hora da soltura, com o transmissor acústico já instalado
Foto: Rebimar/ LEC UFPR

*O Programa de Recuperação da Biodiversidade Marinha (Rebimar) é uma iniciativa da Associação MarBrasil, desenvolvida com o patrocínio do Governo Federal, através do Programa Petrobras Socioambiental

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Foto de abertura: Gabriel Marchi

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