Texto atualizado em 15/11/2023
A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, e a secretária de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas (Seart), do mesmo ministério, a cacique Juma Xipaia, estão entre as 13 personalidades eleitas novas imortais pela Academia Brasileira de Cultura (ABC), que tomaram posse em 14/11, em cerimônia no campus da Fundação Cesgranrio, no Rio de Janeiro.
Sonia e Juma são as primeiras indígenas a ocuparem cadeiras vitalícias – 16 e 49, respectivamente -, na instituição criada em 2021 para o fortalecimento do setor cultural no Brasil, com a missão de reunir personalidades de diferentes setores artísticos e promover a valorização da memória cultural brasileira.
Nesse ano, além da pandemia, o país passava pelo terceiro ano da desastrosa gestão de Bolsonaro, que atacou deliberadamente a cultura. A criação da academia – cujo presidente é o educador Carlos Alberto Serpa de Oliveira – foi uma resposta da classe cultural e artística a esse momento.
Com o tempo, os membros da Academia se deram conta da importância da representatividade para que a instituição refletisse a pluralidade brasileira, em termos culturais e étnicos.
No convite enviado aos novos imortais, Serpa Oliveira declarou:
“Assim como em outras áreas do conhecimento, a cultura também merecia uma representação igualmente sólida e dedicada, tendo como seu principal propósito o pensamento crítico, a defesa incansável e a coordenação estratégica de iniciativas e projetos, tanto no domínio privado como no âmbito político, visando o crescimento e florescimento contínuos deste setor fundamental para a identidade e o progresso do Brasil”.
Na cerimônia, acrescentou:
“Estamos imensamente felizes por ter congregado personalidades tão diversas de nossa cultura. Acreditamos que nossos ideais não apenas sobreviverão, mas florescerão. Com nossas mãos entrelaçadas e beneficiados por nossa rica experiência em diversas esferas culturais, trabalharemos incessantemente para tornar a cultura uma presença eterna na vida de nossos compatriotas. Nosso compromisso é proteger e incentivar a todos que, como nós, dedicam suas vidas à cultura em suas múltiplas formas. Unidos, nascemos com um ideal sólido e coeso”.
Sonia e Juma foram escolhidas devido ao papel que desempenham como ativistas na luta pelos povos indígenas.
Para patrono, a ministra escolheu Paulo Paulino Guajajara – indígena que integrava os Guardiões da Floresta na Aldeia Arariboia, no Maranhão, e foi assassinado em 2019. Já a cacica do povo Xipaia homenageou o ativista indígena Marçal de Souza ou Tupã-Y, líder da etnia Guarani-nhandevá, assassinado em 1983 e condecorado pelo governo federal com a honra de Herói Nacional do Brasil.
A primeira imortal transgênero negra
Além de Sonia e Juma, a pluralidade brasileira também está representada pela cantora, compositora e atriz Liniker, a primeira mulher transgênero negra a integrar a instituição, pela cadeira 51, antes ocupada por Elza Soares. A nova lista também é composta por outras personalidades negras sobre as quais falo mais adiante.
Em seu Instagram, a artista anunciou a novidade assim: “Eu ainda nem sei o que falar com tamanha honraria que recebo. Assumir esse lugar, a cadeira 51, que foi de Elza Soares, nossa eterna voz, no Brasil em que vivemos, com os recortes que perpassam meu corpo, é surreal e gigantesco. Nunca pensei que seria possível ser considerada assim, por não imaginar mesmo, por ser distante”.
“No meu peito se encontra um certo silêncio preenchido por emoção, por imaginar minha trajetória até aqui, pensando em tudo o que eu já escrevi e ainda escreverei, cantarei, interpretarei, assimilarei e construirei junto à cultura brasileira”. E finalizou:
“À minha família, aos meus amigos, meus amores, meus fãs, à Academia Brasileira de Cultura e a toda a minha ancestralidade, obrigada! Isto não é apenas um post numa rede social. Aqui, vemos a história sendo escrita junto a um mar de novas possibilidades que se abrem para tantas pessoas no Brasil. Nós estamos aqui e nós existimos”.
Outros novos imortais
Junto com Sonia Guajajara, Juma Xipaia e Liniker, tomam posse hoje outras dez personalidades do cenário cultural:
– Cadeira 24: cantora Daniela Mercury / Patrono: Gonzaguinha;
– Cadeira 28: cantora e Ministra da Cultura Margareth Menezes / Patronesse: Emilinha Borba (na cerimônia de posse, foi anunciado que esta era a cadeira de Elza Soares até janeiro de 2022, quando morreu; fiz contato com a ABC para esclarecer a informação, mas ainda não obtive resposta).
– Cadeira 30: cantora Alcione / Patronesse: Ângela Maria;
– Cadeira 34: escritora Conceição Evaristo / Patrono: Machado de Assis;
– Cadeira 42: poeta, filósofa e psicanalista Viviane Mosé
– Cadeira 48: gestor e produtor cultural Antenor Neto / Patrono: Pixinguinha;
– Cadeira 52: atriz Glória Pires / Patrono: Antônio Carlos Pires;
– Cadeira 53: diretor teatral José Luiz Ribeiro / Patrono: Murilo Mendes.
– Cadeira 54: atriz Luana Xavier / Patronesse: Chica Xavier (sua avó) e
– Cadeira 56: atriz Vanessa de Giácomo / Patrono: Chico Anísio.
Eles se juntam ao outros 55 membros, entre eles a bailarina Ana Botafogo, o cantor Zeca Pagodinho, a jornalista Fátima Bernardes, as atrizes Elisa Lucinda, Christiane Torloni, Lilia Cabral, Beth Goulart e Rosamaria Murtinho, o ator Ney Latorraca, o escritor Gabriel Chalita e o maestro Isaac Karabtchevsky.
Formação e dinâmica
Os membros fundadores da Academia Brasileira de Cultura são personalidades do panorama cultural brasileiro – apresentadores, artistas plásticos, atores, escritores, gestores culturais, músicos, profissionais da dança e políticos -, que defendem um objetivo comum: impulsionar a arte brasileira.
A cada dois ou três meses, os imortais se encontram na sede da ABC, no Rio de Janeiro, para compartilhar conhecimento, discutir questões culturais e definir diretrizes para projetos futuros.
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Fotos: Ricardo Stucker/PR (Sonia) e divulgação Instituto Juma Xipaia
