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“Só os psicopatas são capazes de brincar com a vida dos outros“, diz Marina Silva sobre declaração violenta de senador contra ela

“Só os psicopatas são capazes de brincar com a vida dos outros“, diz Marina Silva sobre declaração violenta de senador contra ela

Solidariedade é uma das palavras que mais têm marcado as redes sociais no Brasil esta semana. O motivo é a declaração violenta proferida por um senador desqualificado, na semana passada (14), contra Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima. O ato deplorável aconteceu em evento fechado na Federação do Comércio do Estado do Amazonas (Fecomércio AM), mas que só se tornou conhecida na terça-feira (19).   

“Imagina, vocês, o que é ficar com a Marina por seis horas e dez minutos sem ter vontade de enforcá-la”, disse o senador Plínio Valério (PSDB/AM), em tom jocoso e dando risinhos, ao comentar sobre a participação da ministra na CPI das ONGs (2023) e por discordar dela.

Indignada com o fato, durante o programa semanal Bom dia, Ministra (TV Brasil), na última quarta, ela desabafou: “Sofri agora, pela manifestação de um senador, que fez uma afirmação de que era muito difícil, para ele, ficar conversando comigo durante seis horas sem me enforcar. Eu fico imaginando, alguém que é ministra do Meio Ambiente, alguém que, de certa forma, conhecida dentro e fora do país, ter que ouvir uma coisa dessa de alguém incitando a violência por discordar de alguém. Porque isso é uma forma de incitar a violência contra uma mulher”.

Para Marina, o comentário não teria sido feito se ela fosse homem. “Dificilmente talvez isso seria dito se o debate fosse com um homem. Foi dito por que é com uma mulher, uma mulher preta, de origem humilde e uma mulher que tem uma agenda que, em muitos momentos, confronta os interesses de alguns que, no meu entendimento, deveria ficar apenas no espaço da divergência política”, acrescentou Marina.

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Ela tem total razão. Esse tipo de discurso de incitação à violência contra uma mulher é crime! Está na legislação brasileira (LeiI Nº 14.192, de 4/8/2021) mas a maioria dos homens acostumados a esse tipo de comentário, ignora. Ou acredita na impunidade.

Desde terça-feira (, “pipocaram” pela internet mensagens de total repúdio à agressão e de solidariedade à Marina, assinadas por ministras/os, comentaristas, feministas, parlamentares, agentes de órgãos ambientais federais e organizações, entre outros.

Ontem, dez parlamentares (nove mulheres e um homem) de nove partidos (PT, PDT, PSB, Rede, União Brasil, Podemos, Solidariedade, PC do B e PSoL) acionaram o Conselho de Ética do Senado contra o senador.

“O teor de sua fala ultrapassa os limites da imunidade parlamentar, uma vez que não possui qualquer relação com sua atuação como representante do Estado do Amazonas, mas sim um evidente caráter de violência de gênero“, destaca um trecho do texto. 

“A fala não apenas minimiza e desqualifica a presença da Ministra Marina Silva no cenário político, como também reforça um discurso de incitação à violência contra a mulher, um crime tipificado na legislação brasileira e que tem sido amplamente combatido, sobretudo no contexto da política nacional”. 

“Fala irônica ou despretensiosa, não quero julgar”

A representação contra Valério é ainda mais importante após o “puxão de orelha” muito suave que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, deu no senador, em público.

Chamou sua fala de “inadequada” e “infeliz”, também de “irônica ou despretensiosa”, justificando que foi proferida “em tom de brincadeira”. “Não concordo com muitas posições ideológicas da ministra em relação ao país, mas acho que o meu querido colega […] precisa fazer uma referência em relação a essa fala, até mesmo justificar se foi uma fala equivocada”. 

E Alcolumbre completou: “Estamos vivendo um momento tão difícil que uma fala de um senador da República, mesmo de brincadeira, agride, infelizmente, o que nós estamos querendo para o Brasil”.

Inadmissível que isso ainda aconteça com uma mulher na política no Brasil; em especial com uma mulher com uma trajetória tão rica e positiva para o país, como a de Marina.

Na TV, a jornalista Miriam Leitão criticou a benevolência de Alcolumbre. “O ambiente da política, em relação à mulher, é um ambiente violento. Muitas pessoas já passaram por isso, muitas mulheres morreram por isso. Então é preciso ter uma rejeição mais forte. É preciso ter indignação!”. 

Em artigo publicado em O Globo, destacou: “O senador tem essa fúria toda contra a ministra do Meio Ambiente porque sempre ficou incomodado pelo trabalho dela em defesa da Amazônia e contra o desmatamento. A taxa de desmatamento caiu fortemente e o crime foi combatido nos primeiros dois anos do exercício do cargo de ministra do Meio Ambiente. Por sua atuação como gestora, a ministra foi ameaçada”. E Leitão finalizou:

“Este é um daqueles momentos em que os Poderes constituídos precisam reagir exatamente para coibir a violência política contra a mulher, que já deixou tragédias no Brasil”.

“Figura de linguagem”

Para se defender, o tal senador (essa gente só se torna conhecida por ações repugnantes, não por feitos pelo povo brasileiro, que é sua missão no Congresso) declarou que usou “uma figura de linguagem para expressar meu sentimento de indignação ao ouvir a ministra Marina Silva dizer, na CPI das ONGs, que não se pode construir uma estrada apenas para a população passear de carro”.

Vale destacar aqui, que, com os poderes que seu cargo lhe confere, a ministra impediu a pavimentação da BR-319 devido aos impactos socioambientais da obra na região. O senador não concorda com ela porque é desenvolvimentista e tem seus interesses, mas alega que quer acabar com o isolamento dos amazonenses.

Valério declarou que não faria de novo, mas não se arrependeu do que fez porque foi brincadeira. E reclamou da “reprimenda pública” de Alcolumbre. Para ele, bastava que conversassem, só os dois, de forma reservada. O sujeito não tem noção de respeito nem da responsabilidade que seu cargo exige. É, sim, um desqualificado que tem muito a aprender. No mínimo, a pena pelo que fez deve ser a perda do cargo.  

“Parlamentar irrelevante”

“Marina realiza trabalho competente no ministério, que em dois anos já resultou numa redução de 46% do desmatamento em relação a 2022. É mulher. É negra. É da Amazônia. Isso tudo a torna alvo preferencial de ataques misóginos e racistas, vindos especialmente de homens que defendem o que há de mais arcaico e degradante ao meio ambiente, à economia e às relações sociais do país”, declarou, ontem, o Observatório do Clima (OC), que reúne 133 organizações, em solidariedade à Marina.

“Os ataques do senador demonstram a truculência e o desespero de um parlamentar irrelevante, que não merece o mandato que tem. A resposta da ministra deixa claro que ela não se abalará por isso. Mas não pode terminar assim. Esperamos que o Congresso faça o seu trabalho e puna exemplarmente Plínio Valério por seus crimes”.

“Em relação à declaração de que “foi uma brincadeira”, o OC também sentencia: “Não foi! A violência de gênero na política é uma estratégia antiga, assim como dizer que foi só uma piada. Atitudes como a do senador são combustível para o racismo e a violência política, principalmente contra as mulheres. Violência política contra a mulher é crime!”.

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Com informações do G1, de O Globo, da CNN Brasil.

Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil

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