Atualizada em 1/9/2023, com a nova campanha
Este mês, em todo o país, a campanha Setembro Amarelo – promovida desde 2014 anualmente, durante o ano todo, pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), com o apoio do Conselho Federal de Medicina (CFM) – é intensificada com o intuito de elevar a consciência sobre a importância de cuidar da saúde mental e de buscar/adotar formas para prevenir o suicídio.
Trata-se da maior campanha anti-estigma do mundo, que, em 10 de setembro, celebra o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Este ano, o lema é Se precisar, peça ajuda!, e diversas ações já estão sendo desenvolvidas.
Embora alguns países – são 38, apenas! – já tenham adotado a prevenção do suicídio como pauta imprescindível em seus programas de governo, muitos ainda se mantêm alheios e/ou encaram o tema como tabu.
“O suicídio é um fenômeno complexo, que pode atingir indivíduos de diferentes origens, sexos, culturas, classes sociais e idades”, destaca a campanha.
Se precisar, peça ajuda!
É imprescindível falar sobre o assunto para que as pessoas que passam por momentos difíceis e de crise busquem ajuda e entendam que a vida sempre vai ser a melhor escolha.
“Quando uma pessoa decide terminar com a própria vida, seus pensamentos, sentimentos e ações apresentam-se muito restritivos, ou seja, ela pensa constantemente sobre o suicídio e é incapaz de perceber outras maneiras de enfrentar ou de sair do problema. Essas pessoas pensam rigidamente pela distorção que o sofrimento emocional impõe”, explica a campanha.
Informar-se para aprender e ajudar essas pessoas é a melhor saída para lutar contra problema tão grave, por isso, a campanha produziu uma cartilha especial sobre Como Ajudar?.
É essencial que as pessoas próximas a um/a potencial suicida saibam identificá-lo/a e o ajudem. Isso é possível a partir de uma escuta ativa e sem julgamentos, revelando sua disponibilidade para ajudar, demonstrando empatia. Mas outra ação importante é levar essa pessoa ao médico psiquiatra, profissional que sabe como manejar a situação e salva o/a paciente.
Menos suicídio no mundo, mais nas Américas
A partir de pesquisas realizadas nos países signatários, a Organização Mundial de Saúde – OMS identificou uma realidade estarrecedora: todos os anos, morrem mais pessoas como resultado de suicídio do que devido a doenças como HIV, malária ou câncer de mama – ou, mesmo, em consequência de guerras e homicídios.
Além disso, entre os jovens de 15 a 29 anos, o suicídio foi a quarta causa de morte, perdendo apenas para acidentes no trânsito, tuberculose e violência interpessoal, nessa ordem.
Dados da Secretaria de Vigilância em Saúde, divulgados pelo Ministério da Saúde em setembro de 2022, entre 2016 e 2021 houve aumento de 49,3% nas taxas de mortalidade de adolescentes de 15 a 19 anos, chegando a 6,6 por 100 mil, e de 45% entre adolescentes de 10 a 14 anos, chegando a 1,33 por 100 mil.
A quantidade de pessoas que tiram suas próprias vidas, varia muito conforme país, região e gênero (foram considerados apenas homens e mulheres).
No Brasil, os homens são mais vulneráveis: a cada 100 mil, 12,6% cometem suicídio; a cada 100 mulheres, são 5,4%. Em países de alta renda, as taxas entre os homens são ainda mais altas: a cada 100 mil, 16,6%. Já entre as mulheres, as taxas de suicídio aumentam em países de baixa e média renda: a cada 100 mil, 7,1%.
No mundo, a taxa de suicídio vem diminuindo cerca de 36%, no entanto, os números variam muito conforme a região:
– redução de 17% na região do Mediterrâneo Oriental;
– 47% na região europeia e
– 49%, no Pacífico Ocidental.
Em países da Europa, houve declínio nas taxas de suicídio e observou-se aumento dessas taxas em países do Leste Asiático, América Central e América do Sul. No continente americano (norte, central e sul), entre 2000 e 2019 – portanto antes da pandemia -, essas taxas aumentaram 17%.
De acordo com pesquisa realizada pela OMS, em 2019, foram registrados mais de 700 mil casos de suicídio em todo o mundo. E a organização faz um alerta: não se pode esquecer de que há episódios subnotificados, estimados em cerca de um milhão!
Só no Brasil, nesse mesmo ano, foram 14 mil casos de mortes por suicídio, ou seja, a cada dia, em média, 38 pessoas tiraram a própria vida.
Outra característica importante de ressaltar é que praticamente 100% dos casos de suicídio registrados estavam relacionados a doenças mentais, principalmente não diagnosticadas ou tratadas incorretamente. Isso significa que a maioria dessas mortes poderia ter sido evitada se os pacientes tivessem acesso a tratamento psiquiátrico e a informações de qualidade, se tivessem sido acolhidas.
Menos preconceito, mais diálogo
Com base nesse cenário e por seus impactos devastadores, o suicídio deve ser urgentemente encarado por todos – sociedade e governos – como um problema de saúde pública.
A partir de pesquisas realizadas nos países signatários, a Organização Mundial de Saúde (OMS) identificou uma realidade estarrecedora: todos os anos, morrem mais pessoas como resultado de suicídio do que devido a doenças como HIV, malária ou câncer de mama – ou, mesmo, em consequência de guerras e homicídios.
É preciso que nos livremos de preconceitos a cerca do tema para podermos dialogar abertamente, nos mantendo alertas, acolhendo e levando acesso e cuidado a todos que precisam.
Informar-se para aprender a ajudar o próximo é a saída mais efetiva para contribuir na luta contra esse problema tão grave. A escuta ativa, sem julgamentos, com empatia, o acolhimento e a prontidão para levar a pessoa a um psiquiatra – que é quem saberá lidar com a situação -, são formas de ajudar a salvar quem pensa em se matar.
Não é possível interferir na vida alheia, mas é possível ficar atento/a e identificar quando alguém precisa de ajuda, oferecendo condições para que essa pessoa encare sua aflição de forma a transformá-la e superá-la, evitando um desfecho trágico.
De qualquer forma, ainda existe uma questão que não é abordada no contexto da campanha Setembro Amarelo: a da injustiça social.
A partir de 2020, com a pandemia, se intensificaram os casos de prejuízo à saúde mental, devido ao isolamento. E esse cenário foi ainda pior porque o país estava sendo muito mal conduzido econômica e socialmente e voltou ao mapa da fome da ONU – do qual havia saído em 2014.
O Brasil tinha, até o ano passado, 33 milhões de famintos e milhares de pessoas vivem nas ruas, ainda como reflexo da política econômica liberal implementada há seis anos e da qual começamos a nos livrar com o governo Lula. A classe dita média também perdeu poder aquisitivo, sem falar nos aposentados. E o resgate dessa situação é um processo longo e as sequelas são inegáveis.
A importância da ‘posvenção’
Com o acompanhamento devido, as pessoas que manifestam a intenção de se matar, podem desistir e nunca tentar o suicídio. Por outro lado, de acordo com informações da campanha, as que já tentaram têm de cinco a seis vezes mais chance de atentar contra a própria vida novamente.
Elas continuam potencialmente capazes de praticar o ato outras vezes. Por isso, a atenção e o cuidado nesse período – que os especialistas chamam de posvenção – são tão importantes quanto a prevenção.
De acordo com a campanha, a posvenção inclui habilidades e estratégias para cuidar de si mesmo ou ajudar outra pessoa a se curar após a experiência de pensamentos e tentativas suicidas.
Como se informar e ajudar
O site da campanha Setembro Amarelo dispõe de material completo para auxiliar quem tem interesse de participar da luta de prevenção ao suicídio e contribuir com esta causa: diretrizes para divulgar e participar da campanha de 2023 e materiais como logo, panfleto, cartaz, camisetas…
Além de orientar para prevenir (por meio da cartilha Suicídio – Informando para Prevenir), dá orientações para casos de emergência (chamar o Samu pelo 192, imediatamente, por exemplo).
O site ainda tem informações importantes sobre doenças mentais e suicídio, comenta sobre fatores de risco e sinais de alerta e divulga uma carta para os pais sobre automutilação e suicídio.
Livro
Por fim, gostaria de sugerir a leitura do livro Viver é a Melhor Opção, lançado pelo jornalista e ambientalista André Trigueiro em 2015, pela Editora Candeia, mas que continua superatual.
Trigueiro é espírita e luta para esclarecer ela prevenção do suicídio e cedeu os direitos autorais da obra para o Centro de Valorização da Vida (CVV), do qual já foi voluntário. O livro foi escrito com a participação de sua esposa, Ana Claudia Guimarães.
Foto (destaque): Kleiton Santos/Pixabay