Restos de cascas de batata, cebola, cenoura, frutas e sobras de outros alimentos, o chamado lixo orgânico, ganharam uma nova e surpreendente utilidade nas ruas da capital da Alemanha. Após coletados nas casas dos moradores de Berlim, estes resíduos são processados numa usina e transformados em biogás, que já abastece 50% da frota de caminhões de lixo da Berliner Stadtreinigung (BSR).
A usina de geração de energia tem capacidade para processar cerca de 60 mil toneladas de lixo orgânico por ano. A planta, inaugurada em 2013, faz parte de um grande projeto da cidade para aumentar o uso de biocombustíveis.
Uma vez dentro da usina, os microrganismos contidos no lixo orgânico liberam biogás bruto, durante o processo de fermentação do material biodegradável. O biogás é então transformado em gás natural biológico, também chamado de biometano.
Com o uso de biogás nos 150 caminhões de lixo, a BSR deixou de consumir 2,5 milhões de litros de diesel por ano, reduzindo assim a liberação na atmosfera de 6.200 toneladas de dióxido de carbono (gás apontado como sendo o principal responsável pelo aquecimento global), além de óxido de nitrogênio, sulfúrio e outras partículas poluentes.
Energia limpa e natural
O processo de decomposição do lixo orgânico depende basicamente de umidade e calor. Restos de plantas e comida, deixados em lixões ao ar livre, começam a se decompor espontaneamente, após algum tempo. Por isso mesmo, o biogás é um tipo de energia limpa e natural, todavia, ainda pouco utilizada.
Na Europa, entrentato, ela já se tornou mais popular. Em 2008, visitei em Zurique, na Suíça, uma empresa que trabalhava há 20 anos com resíduos orgânicos, principalmente aqueles provenientes de jardins e cozinhas.
A Kompogas, uma das quatro maiores empresas do mundo no setor, transforma o green waste em novos subprodutos. Para isso, utiliza um reator de fermentação, que trabalha através de um processo anaeróbico (com ausência de oxigênio). “É um processo biológico, que ocorre também na natureza, mas aqui fazemos de uma maneira controlada e intensiva. Não é nenhum milagre”, afirmou na época Peter Knecht, responsável pelas licenças internacionais da empresa.
Na Suíça existem dez fábricas Kompogas em funcionamento, cinco somente na região de Zurique, a maior cidade do país. Elas recebem o lixo orgânico vindo de comunidades municipais, hotéis, supermercados e redes de lanchonetes. Afinal, todos esses clientes são responsáveis por dar um destino ao lixo produzido por eles. Para essas companhias e prefeituras fica mais barato reciclar o lixo orgânico do que simplesmente “jogá-lo no lixo”.
A era dos gases
Não há setor no mundo que gere mais emissões de gases de efeito estufa que o energético. Por esta razão, especialistas acreditam que estamos numa fase de transição. A nova era será a dos gases.
Para reduzir as emissões de dióxido de carbono e diminuir a dependência nas fontes de energia chamadas sujas, os Estados Unidos, por exemplo, estão investindo fortemente na extração do gás de xisto. “Gasoso é o estado avançado da matéria”, afirma Cícero Bley Jr, engenheiro agrônomo e um dos maiores nomes do setor no Brasil. “Quanto mais densa a matéria, menos avançada ela é até do ponto de vista de agregação de valor”. Tudo o que perde em densidade, aumenta em eficiência.
Ainda segundo Bley Jr., a mais gasosa das riquezas é o hidrogênio. Mas só conseguiremos dominar esta tecnologia daqui a 50 ou 100 anos, ele calcula. “Para entrar na era do hidrogênio, vamos ter que saber o que fazer com o biogás primeiro”.
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Fotos: divulgação