Mesmo numa área de preservação, dentro de um parque nacional, animais selvagens ainda sofrem os impactos das atividades humanas. Um estudo realizado dentro do Parque de Kibale, em Uganda, na África, apontou que as fezes de quatro espécies de primatas apresentam resíduos de poluentes, como pesticidas e substâncias usadas na fabricação de plástico.
O grupo de pesquisadores de várias instituições internacionais coletou fezes de chimpanzés (Pan troglodytes), babuínos-anúbis (Papio anubis), macacos colobus vermelhos (Piliocolobus tephrosceles) e macaco-de-cauda-vermelha (Cercopithecus ascanius). Após a análise, foram detectados 97 tipos diferentes de substâncias, na sua maioria, pesticidas organoclorados (OCPs), retardadores de chama bromados (BFRs) e ésteres organofosforados (OPEs), empregados na produção de plástico.
“Infelizmente para esses primatas, os benefícios de habitar uma área ‘protegida’ não incluem proteção contra a poluição química. A atividade humana ao redor do parque, e até mesmo o turismo e a pesquisa dentro dele, podem introduzir produtos químicos potencialmente nocivos”, diz Tessa Steiniche, pesquisadora da Universidade de Indiana (EUA) e principal autora do artigo científico que relata a descoberta. “É provável que nosso estudo tenha abordado apenas superficialmente o conjunto de produtos químicos que esses primatas estão encontrando”, lamenta.
Fêmeas e filhotes dessas espécies de primatas são as mais afetadas. Segundo os cientistas, a presença desses poluentes pode estar associada com o aumento de estresse e níveis de certos hormônios entre eles. Essas substâncias podem estar afetando algumas funções e impactando seu crescimento e desenvolvimento.
Compostos como retardadores de chamas, por exemplo, fazem com que em primatas mais jovens haja uma redução do estradiol, hormônio relacionado com a atividade sexual, e aumente o cortisol, associado com estresse.
Em estudos anteriores com outras espécies de animais, essas classes de substâncias também se mostraram prejudiciais ao funcionamento do fígado, cérebro e sistema imune.
“Eu e meus colegas estamos interessados em examinar mais de perto as fontes de exposição química em Kibale, bem como explorar por que diferentes espécies são mais ou menos suscetíveis a certos poluentes”, revela Tessa. “Também será essencial incluir mais dimensões sociais em nossa pesquisa, para que as comunidades vizinhas tenham as ferramentas e os recursos necessários para tomar melhores decisões sobre o uso e descarte de produtos químicos”.
Chimpanzés estão entre os animais ameaçados de extinção na Lista Vermelha da União Internacional da Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). Vivem em florestas na África Central e já desapareceram de quatro países onde eram encontrados no passado.
*Com informações e entrevistas contidas no texto divulgado no site do Natural History Museum
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