A preguiça é bastante conhecida por seus movimentos lentos, quase em slow motion. Por isso, é difícil de acreditar que se atacada por um jaguatirica, a primeira consiga sobreviver, mas… Vídeos gravados por armadilhas fotográficas no meio da selva amazônica revelam que quando precisam, esses simpáticos animais podem surpreender!
Preguiças vivem a maior parte do tempo no alto das árvores. Apesar de ter sua dieta baseada em folhas, frutos e seiva, todavia algumas espécies descem ao solo para buscar outros alimentos. Foi o que aconteceu durante a gravação obtida pela câmera instalada na Estación de Biodiversidad Tiputini, no Equador.
A preguiça-de-dois-dedos (Choloepus didactylus) estava num “saladero”, uma área que mais parece um pântano, rica em minerais, onde acredita-se que ela complementa sua alimentação com essas substâncias, lambendo o chão.
Todavia, de repente, uma jaguatirica aparece e a ataca de surpresa. Mesmo com uma velocidade menor, a preguiça reage com suas garras. Em seguida, no vídeo, é possível ver que ela tenta fugir se arrastando por um tronco de madeira, mas a jaguatirica não desiste. Nem a preguiça.
“Num primeiro momento, a jaguatirica primeiro tenta morder a preguiça por trás, no pescoço, e a preguiça se vira e ataca de volta. Depois, a preguiça está se afastando lentamente da jaguatirica na parte inferior de um tronco que cruza o saladero. A jaguatirica segue, e a preguiça fica atenta, não deixando que ela se aproxime”, diz Anthony Di Fiore, professor de antropologia da Universidade do Texas, que estuda preguiças há mais de 30 anos.
Ao lado de outros pesquisadores das Universidades de los Andes, na Colômbia e San Francisco, de Quito, Di Fiore assina o artigo científico na publicação Food Webs, em que eles relatam o ataque e o inesperado final.
“Eventos de predação raramente são registrados em armadilhas fotográficas, e esse caso em particular pode ser considerado incomum, visto que as preguiças geralmente lambem os minerais durante a noite. Além disso, não está claro como as jaguatiricas são capazes de capturar preguiças e outros animais arbóreos e isso registra evidências de que a predação de vertebrados arbóreos por jaguatiricas também pode ocorrer no solo. Finalmente, o comportamento antipredatório exibido pela preguiça-de-dois-dedos demonstra que existem riscos intrínsecos para os predadores ao tentar capturar presas”, dizem os autores do artigo..
Por causa da localização da câmera, os cientistas não sabem exatamente quão machucada a preguiça ficou. Mas acreditam que ela conseguiu sobreviver, já que não encontraram nenhuma carcaça próximo dali dias depois.
“Tanto as preguiças-de-dois-dedos quanto as jaguatiricas são animais difíceis de estudar”, diz Di Fiori. “Eles são quietos, esquivos e difíceis de encontrar e observar na natureza. Este vídeo fornece um instantâneo de aspectos interessantes da história natural de ambas as espécies, mostrando uma possível relação presa-predador que raramente tem sido considerada e mostrando atividade diurna para a preguiça predominantemente noturna. O vídeo também destaca o risco que animais predominantemente arborícolas, como preguiças, correm quando descem ao chão da floresta para lamber minerais”.
A jaguatirica, também conhecida como ocelote, mede cerca de 75 centímetros e pesa em torno de 20 kg. É uma espécie de mamífero carnívoro pertencente à família dos felídeos. Possui uma distribuição ampla por toda a América Latina, inclusive no Brasil, mas com exceção do Chile.
De hábitos solitários com atividade predominantemente noturna – o que faz da cena acima ainda mais rara -, durante o dia dorme em ocos de árvores ou em arbustos. Tem grande habilidade para subir em árvores, saltar e nadar. Alimenta-se de pequenos e médios vertebrados, como cutias, pacas, macacos, preguiças, além de roedores, aves e répteis.
*Com informações e entrevistas do site da Universidade do Texas
Foto de abertura: reprodução vídeo