Leôncio foi encontrado atropelado em uma estrada do oeste do Paraná, em julho de 2019. A jovem onça-parda tinha uma fratura muito grave no fêmur, cortes na face e estava inconsciente. Em estado crítico, não abria nem a boca e nem os olhos. Segundo Pedro Henrique Teles, médico veterinário do Refúgio Biológico de Itaipu, um dos profissionais responsável pelos primeiros socorros ao animal, a pergunta que toda a equipe se fazia era: “Vamos fazer eutanásia ou dar uma segunda chance para ele?”.
A decisão foi por fazer de tudo para salvar a vida de Leôncio e hoje, quase três anos depois, graças à união de diversas organizações público e privadas*, essa história teve um final feliz. Na sexta-feira, 22/04, dois anos e nove meses após o atropelamento, ele foi devolvido à natureza.
“O Leôncio é o resultado da mão de cada um que está aqui hoje, de cada parceiro, de cada instituição”, agradece Teles.
Para garantir que Leôncio se recuperasse plenamente e tivesse a habilidade de subir em árvores e caçar de novo, ele recebeu uma placa, um pino e 16 parafusos na perna.
Quando sua condição de saúde melhorou – foram encontrados ainda vários tiros de chumbinho pelo seu corpo -, a onça-parda foi transferida para um recinto de aclimatação, com 850 m2, no meio de um ambiente natural, e dentro de uma propriedade rural particular. Durante os seis meses em que ficou “hospedado” ali, monitorado por câmeras fotográficas, foi possível perceber que havia outras onças-pardas na região.
“Nos mais de 70 anos em que a família gerencia a propriedade, nunca tivemos um ataque de onça, nem ao rebanho e nem aos animais menores, como animais de estimação ou galinhas. Isso porque a onça já tem, no ambiente preservado, uma biodiversidade significativa, que supre as necessidades dela. A convivência é possível”, diz Giovanna Machado, presidente do IGLMBio, um instituto dedicado à preservação da biodiversidade.
Leôncio precisou ser anestesiado 16 vezes durante seu tratamento
(Foto: Sara Cheida)
Na semana passada, antes de ganhar a liberdade, Leôncio recebeu um colar GPS, com o qual será possível fazer seu monitoramento e se certificar que ele está se readaptando bem à vida selvagem.
Além disso, houve também um preparo junto com moradores da região. “Conversamos, visitamos as propriedades no entorno avaliando a vulnerabilidade, orientamos sobre o manejo adequado de animais domésticos para evitar a predação e nos colocamos à disposição das pessoas para ajudar. Ajudando a evitar conflitos, ajudamos o Leôncio a sobreviver”, conta a equipe do Projeto Onças do Iguaçu, que esteve presente no primeiro atendimento ao animal e ao longo de todo o trabalho realizado desde 2019.
O momento em que Leôncio saiu do recinto e seguiu para a mata
Muitos foram os envolvidos nesta jornada e todos agora celebram a volta desse animal à natureza.
“Bom, dizem que os gatos têm sete vidas. O Leôncio já gastou pelo menos duas! Leôncio, que essa mata te receba de volta, te acolha e proteja, e que você possa passar suas cinco vidas restantes feliz e majestoso nessa região que é seu lar”, diz Yara Barros, coordenadora executiva do Onças do Iguaçu.
Leôncio, um gato de muitas vidas!
(Foto: Rubens Fraulini)
*O processo de tratamento e soltura de Leôncio contou com a participação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Itaipu Binacional, Instituto Água e Terra (IAT) Instituto Giovanna e Licínio Machado de Biodiversidade (IGLMBio), UFPR – Campus Palotina, Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap) e Projetos Onças do Iguaçu.
Foto de abertura: Rogério Cunha de Paula
