Segundo a classificação da Lista Vermelha, da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), que avalia as condições de sobrevivência de milhares de espécies de animais e plantas no planeta, quando uma espécie é considerada ‘criticamente em perigo’ ou ‘criticamente ameaçada’, isso significa que ela está a um passo de entrar em extinção na natureza. E infelizmente esse é o caso de quase 1/3 de todas as espécies de lêmure, no Madagascar, na África, de acordo com o último relatório da entidade.
Ainda de acordo com o levantamento, 103 das 107 espécies sobreviventes de lêmure estão ameaçadas de desaparecer devido, principalmente, à caça e ao desmatamento em Madagascar. Cada vez mais áreas são devastadas para a expansão da agricultura e também, pelas indústrias madeireiras, que produzem carvão.
Entre as espécies recém-listadas como “criticamente em perigo’ estão o Sifaka de Verreaux (Propithecus verreauxi) – que aparece na imagem que abre esta reportagem – e o lêmure rato Berthe (Microcebus berthae), o menor primata do mundo.
“Esta atualização da lista expõe a verdadeira escala de ameaças enfrentadas por primatas em toda a África. Também mostra que o Homo sapiens precisa mudar drasticamente sua relação com outros primatas e com a natureza como um todo ”, alerta Grethel Aguilar, diretor-geral interino da IUCN. “No centro desta crise está uma necessidade extrema de criar meios de subsistência mais sustentáveis e alternativos para substituir a atual dependência ao desmatamento e ao uso insustentável da vida selvagem”.
Houve uma redução de 50% na população das últimas três gerações
do lêmure-dorabo-de anéis (Lemur catta)
Baleia do Atlântico Norte e hamster europeu também estão em perigo
O mais recente monitoramento da IUCN também traz luz sobre outras duas espécies que sofrem com as atividades humanas no planeta e apresentam um declínio preocupante em suas populações.
A baleia do Atlântico Norte (Eubalaena glacialis) passou da categoria ‘em perigo’ para ‘criticamente em perigo’. Estimativas indicavam que restavam apenas 250 indivíduos adultos no final de 2018 ainda vivos. Desde 2011, houve uma queda de 11% na população da espécie.
O desaparecimento desse gigante dos mares se deve a colisões com embarcações e as capturas acidentais em redes de pesca, além de uma taxa baixa de reprodução nos últimos 30 anos.
São pouco mais de duas centenas de baleias do Atlântico Norte
Até então abundante no Velho Continente, os cientistas tentam compreender ainda o motivo do desaparecimento do hamster europeu (Cricetus cricetus). Uma das suspeitas, assim como no caso das baleias, é que as fêmeas têm apresentado baixíssima fertilidade. No passado, elas davam à luz a cerca de 20 filhotes em cada ninhada. Atualmente, a média é de cinco a seis hamsters.
Alguns dos motivos seriam a mudança de seus habitats rumo ao cultivo de monoculturas, expansão dos centros urbanos, crise climática e poluição.
“Salvar o cada vez mais crescente número de espécies ameaçadas de extinção requer mudanças estruturais, apoiadas por ações para implementar acordos nacionais e internacionais. O mundo precisa agir rapidamente para deter o declínio da população de espécies e impedir extinções causadas por seres humanos, com uma ambiciosa estrutura de biodiversidade pós-2020”, ressalta Jane Smart, diretora global do Grupo de Conservação da Biodiversidade da IUCN.
O hamster europeu: cada vez as fêmes têm menos filhotes
Lista Vermelha das Espécies em Extinção 2020
Número de espécies analisadas – 120.372
Número total de espécies ameaçadas – 32.441
Extintas – 882
Extintas na natureza – 77
Criticamente em perigo – 6.811
Em perigo – 11.732
Vulnerável – 13.898
Quase ameaçadas – 7.211
Entenda as siglas da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas
– Extinto (EX): não existe mais nenhum indivíduo da espécie;
– Extinto na natureza ( EW): todos os indivíduos vivos da espécie encontram-se em cativeiro, não sendo possível verificá-los em seu habitat;
– Criticamente em perigo (CR): espécie apresenta chance extremamente elevada de entrar em extinção na natureza;
– Em perigo (EN): espécie possui grande chance de entrar em extinção na natureza;
– Vulnerável (Vulnerable – VU): espécie tem chance de entrar em extinção na natureza;
– Quase ameaçado (NT): espécie não está ameaçada, mas esforços devem ser realizados em prol de sua conservação;
– Pouco preocupante (LC): espécie estudada não possui grandes riscos de entrar em extinção na natureza no momento;
– Dados deficientes (DD): não existem dados suficientes que evidenciem o grau de conservação da espécie;
– Não avaliado (NE)
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Fotos: divulgação IUCN