Desde 2017, a Finlândia lidera o Relatório Mundial da Felicidade deste ano: o World Happiness Report 2023, produzido anualmente pela Rede de Soluções de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ONU).
O levantamento, divulgado hoje, 20/3, Dia Internacional da Felicidade (instituído há dez anos pela organização), se baseia em dados colhidos pela Gallup World Poll nos três anos anteriores, ou seja, de 2020 a 2022, levando em conta índices fundamentais para o bem-estar como distribuição de renda, expectativa de vida, apoio social, educação, sistema da saúde, igualdade, liberdade para tomar decisões importantes, confiança, ter alguém com quem contar e generosidade. Também considera a influência da tecnologia da informação, o tipo e a performance do governo, as normas sociais e a ausência de corrupção, porque tudo isso influencia pessoas e comunidades, grupos.
Sim, em alguns casos, as medidas são subjetivas, mas a avaliação se pauta principalmente pela qualidade de vida das pessoas, e isso é notório.
Não se trata, portanto, de uma análise que privilegia a questão econômica ou mesmo a ética, mas também a justiça social, a honestidade, a confiança e a saúde.
Mais de 150 países participaram da pesquisa e o país nórdico continua sendo o mais feliz do mundo e está à frente da Dinamarca, Islândia, Israel (que subiu cinco posições), Holanda Suécia, Noruega, Suíça, Luxemburgo e Nova Zelândia.
Os dez primeiros colocados pontuam bem no que tange à expectativa de vida saudável, ao apoio do estado às questões sociais, à generosidade em uma comunidade na qual todos cuidam uns aos outros, à liberdade da qual desfrutam para poder tomar decisões importantes, à baixa corrupção e ao PIB per capita.
Na verdade, até o 20º lugar, a situação não mudou muito desde 2022. Austrália (12), Canadá (13), Irlanda (14), Estados Unidos (15) e Reino Unido (19) se mantêm nessa classificação, com uma grande novidade: a Lituânia, que tomou o lugar da França (o país caiu uma posição).
Brasil cai de novo
No ranking divulgado no ano passado (referente ao período de 2019 a 2021), o Brasil já tinha perdido onze posições (foi de 29º para 38º). Entre os motivos certamente esteve a volta ao Mapa da Fome, às perdas de direitos trabalhistas, a ascensão da terceirização, o aumento da violência (em especial do feminicídio), a instabilidade econômica, entre outras medidas desumanas da gestão de Bolsonaro.
Agora, com dados que incluem a performance de 2022, caiu mais onze posições, indo para 49º lugar, abaixo do Cazaquistão, da Sérvia, do Chipre, Japão e da Croácia, e acima de El Salvador, Hungria, Argentina (52), Honduras e Uzbequistão.
Entre os países da América do Sul, o Brasil está atrás do Uruguai (28), Chile (35), Nicarágua (40) e da Guatemala (43). No ranking dos países latino-americanos, a classificação muda um pouco e o Brasil fica atrás da Costa Rica (23), Uruguai, Chile, México (36), Panamá (38), Nicarágua e Guatemala. Nesta região, a Argentina é a única nação que perde para nós em felicidade.
E pensar que, no ranking divulgado em 2016, o Brasil estava entre os 16 países mais felizes do mundo! Comparando com a edição anterior – que foi realizada em 2013 -, o país havia conquistado oito posições, mas parece que, a partir do ano do impeachment, correu em direção à infelicidade. Primeiro, derrubou uma presidenta democraticamente eleita. E, depois escolheu errado seu governante.
No relatório de 2020 (realizado com dados de 2017 a 2019, dos governos Temer e Bolsonaro), o país já tinha caído e figurava na 29ª posição. Em 2021, caiu para 38º lugar. A queda foi grande.
Os mais tristes
Entre os dez últimos do ranking da felicidade mundial (que vai até a posição 109), estão países asiáticos e africanos, com predominância destes: Marrocos (100), Irã (Ásia), Senegal, Mauritânia, Burkina Faso, Namíbia, Turquia, Gana, Paquistão (Ásia) e Niger (109).
E o que todos têm em comum? São devastados pela guerra e pela fome e enfrentam dificuldades financeiras gigantescas. Este é o resultado inevitável da desigualdade, da concentração de renda, do capitalismo.
E, por falar em guerra, como estão Rússia e Ucrânia no novo ranking? A primeira está na 70ª posição, e a segunda, na 92ª.
É indiscutível que o bem-estar dos ucranianos foi atingido de forma fulminante pelo conflito, mas “apesar da magnitude do sofrimento e dos danos, as avaliações de vida em setembro de 2022 permaneceram mais altas do que após a anexação de 2014”, aponta o relatório.
Foto (destaque): Priscilla Du Preez/Unsplash