
Em 1836, o naturalista britânico Thomas Cantor descreveu pela primeira vez a maior serpente venenosa do mundo, a cobra-real (Ophiophagus hannah), encontrada em florestas da Ásia, em países como China, Butão, Nepal, Cambodia, Tailândia e a Índia. Podendo atingir mais de 5 metros de comprimento, a espécie é considerada uma predadora do topo de cadeia e come, inclusive, outras cobras.
Pois agora, 188 anos depois de sua descrição, pesquisadores de várias instituições internacionais acabam de publicar um estudo revelando que não há apenas uma espécie de cobra-real, mas na verdade, quatro! A descoberta foi divulgada no European Journal do Taxonomic.
Para chegar a essa conclusão, os cientistas avaliaram 148 espécimes, usando diversos parâmetros, e fizeram a análise filogenética molecular de todas elas.
Na verdade, em 2021, o mesmo grupo de pesquisadores, liderado Gowri Shankar, do Instituto de Biodiversidade e Conservação do Meio Ambiente da Universidade de Sarawak, na Malásia, já tinha publicado um estudo que apontava que existiam quatro diferentes populações distintas geograficamente de cobra-real, com uma variação genética que variava de 1 a 4%.
A partir dessa confirmação final, as quatro espécies dessa serpente passam a ser:
– cobra-real-do-norte (Ophiophagus hannah), com ampla distribuição, incluindo o norte e o leste da Índia, Mianmar, partes da China e grande parte do sudeste da Ásia continental;
– cobra-real-Sunda (Ophiophagus bungarus) também com ampla distribuição, incluindo a Península Malaia, os arquipélagos da Indonésia e da Malásia e partes do sul e centro das Filipinas;
– cobra-real-dos-Gates-Ocidentais (Ophiophagus kaalinga), restrita à cordilheira dos Gates Ocidentais, na Índia e;
– cobra-real-Luzon (Ophiophagus salvatana), observada apenas em Luzon, a principal ilha das Filipinas.
Os pesquisadores explicam que a classificação em diferentes espécies implica não apenas em estratégias de conservação, pois umas podem estar mais ameaçadas do que outras, mas também na produção de soro antiofídico para todas elas, já que até hoje, só existia o produzido para a Ophiophagus hannah.
Cobras venenosas e as mudanças climáticas
Um outro estudo, publicado em maio deste ano, alertou que cobras peçonhentas devem migrar para novas áreas com aumento da temperatura global.
De acordo com a pesquisa, que tem como autor principal o professor do Departamento de Biologia da Universidade Federal de Sergipe, Pablo Martinez, prevê-se que as mudanças climáticas possam ter impactos profundos na distribuição de espécies de algumas das serpentes mais perigosas do mundo, incluindo reduções na biodiversidade e alterações nos padrões de envenenamento de seres humanos e animais domésticos.
A projeção mostra que Nepal, Níger, Namíbia, China e Myanmar serão justamente alguns dos países mais suscetíveis a presenciar a chegada de cobras peçonhentas de nações vizinhas, em um planeta com temperaturas mais altas.
Segundo a a Organização Mundial da Saúde (OMS), que considera o envenenamento por picadas de cobras como uma doença tropical negligenciada, entre 1,8 milhão a 2,7 milhões de casos são registrados anualmente. E esses números podem aumentar. E muito.
*Com informações adicionais do site Mongabay
——————–
Acompanhe o Conexão Planeta também pelo WhatsApp. Acesse este link, inscreva-se, ative o sininho e receba as novidades direto no celular
Leia também:
Em uma única mordida, cobra australiana ejeta quantidade de veneno capaz de matar 400 pessoas: um recorde que salva vidas!
Cobras peçonhentas devem migrar para novas áreas com aumento da temperatura global
200 serpentes, entre elas algumas das mais venenosas do mundo, são capturadas em mega operação contra o tráfico de animais
Foto de abertura: Max Tibby via Wikimedia Commons