
O alerta para o que poderia ser o pior evento de branqueamento de corais da história foi feito no mês passado, mas há poucos dias veio a confirmação. O Coral Reef Watch, braço da Agência de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA), anunciou oficialmente que o planeta enfrenta o quarto evento global – fenômeno provocado pelo aumento da temperatura da água do mar e que faz com que os corais percam as algas que lhes dão cor e das quais eles dependem para se alimentar. Como resultado, os recifes ficam brancos e muitas vezes, acabam morrendo.
Especialistas explicam que quanto menor o intervalo entre as grandes ondas de calor oceânicas, causadas pelo aquecimento global, menor a chance de recuperação dos recifes. Este é o quarto evento global de branqueamento já registrado e o segundo nos últimos dez anos. O primeiro deles foi observado em 1998.
Um evento global só pode ser considerado como tal quando atinge recifes dos Oceanos Atlântico, Pacífico e Índico.
“De fevereiro de 2023 a abril de 2024, um branqueamento significativo de corais foi documentado nos Hemisférios Norte e Sul de cada grande bacia oceânica”, afirmou Derek Manzello, coordenador do Coral Reef Watch da NOAA.
Segundo a agência americana, desde o ano passado houve branqueamento de recifes em 53 países, em locais como a Flórida (EUA), Caribe, México, Costa Rica, Panamá, Colômbia e Brasil, até o Mar Vermelho, ilhas do Pacífico e Golfo Pérsico.

Imagem desoladora: pesquisador mergulha sobre corais totalmente esbranquiçados nas Ilhas Keppels
Foto: Eoghan Aston / © Australian Institute of Marine Science
Branqueamento na maior barreira de corais do mundo
A preocupação é enorme na Grande Barreira de Corais, na Austrália, a maior do mundo. Lá o evento observado atualmente já é o quinto documentado desde 2016. Além disso, os corais australianos foram impactados ainda por dois ciclones e enchentes severas.
Segundo um relatório divulgado pelo Instituto de Ciências Marinhas da Austrália, os efeitos cumulativos sobre os corais neste verão foram maiores do que nos verões anteriores. Monitoramento aéreo feito em 1 mil recifes indicou que 73% da área do parque marinho sofreu branqueamento.

Imagem acima mostra um coral saudável que sofreu branqueamento em outubro do ano passado,
mas conseguiu se recuperar meses depois
Fonte: NOAA
Apesar de alguns corais conseguirem se recuperar após o impacto, a longo prazo, teme-se pelo pior.
“A Grande Barreira de Corais registrou aumentos na cobertura de corais em níveis elevados nos últimos anos, indicando que ainda é um sistema resiliente. Contudo, esta resiliência tem limites”, destaca David Wachenfeld, diretor do programa de pesquisas do Instituto de Ciências Marinhas da Austrália.
“A Grande Barreira de Corais é um ecossistema incrível e, embora tenha demonstrado repetidamente a sua resiliência, este verão foi particularmente desafiador”, completa Roger Beeden, cientista chefe da Reef Authority, órgão responsável pelos recifes da Austrália. “A mudança climática é a maior ameaça à Grande Barreira e aos recifes de coral em todo o mundo.”

A Grande Barreira de Corais sofre com o quinto evento de branqueamento dos últimos oito anos
Foto: Grance Frank / © Australian Institute of Marine Science
O branqueamento de corais é uma anormalidade que acarreta não apenas prejuízos ambientais, mas também econômicos e sociais nas comunidades das regiões onde eles estão situados.
“À medida que os oceanos do mundo continuam a aquecer, o branqueamento dos corais torna-se mais frequente e severo. Quando estes eventos são suficientemente graves ou prolongados, podem causar a mortalidade dos corais, o que prejudica as pessoas que dependem deles para a sua subsistência”, alerta Manzello.
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Foto de abertura: Veronique Mocellin / © Australian Institute of Marine Science