O jingle ficava grudado na cabeça: “Lixo que não é lixo, se-para-ra!”. Sou nascida em Curitiba e apesar de ter morado muitos anos fora da cidade, estava lá quando no final da década de 80 foi lançada a primeira campanha, pioneira no país, para implementar a coleta de resíduos recicláveis. Com o engajamento positivo da população, a capital paranaense se tornou modelo para a reciclagem no Brasil e no mundo.
Trinta anos depois, a prefeitura de Curitiba está relançando a campanha, que ainda usa os mesmos personagens, criados pelo ilustrador Ziraldo, mas que agora ganham novos companheiros na “Família Folhas”.
“É um momento importante, com desafios ainda maiores para a cidade e para todo o planeta. A família volta para nos relembrar como separar mais e melhor os nossos resíduos e a importância da reciclagem”, explica a secretária municipal do Meio Ambiente de Curitiba, Marilza do Carmo Oliveira Dias.
Apesar do sucesso da iniciativa, Curitiba recicla apenas ainda 22,5% das 52 mil toneladas de resíduos coletadas por mês, que são encaminhadas para o aterro sanitário do município vizinho de Fazenda Rio Grande. O objetivo da nova campanha é aumentar também essa porcentagem.
Através de materiais informativos, a ideia é deixar mais claro para os curitibanos o que realmente pode ser reciclado e como isso deve ser feito. Até hoje, ainda há dúvidas. Quais? Caixa suja de pizza pode ou não ser reciclada? Pode!, a gordura não tem problema, mas os restos de queijo ou outros ingredientes devem ser retirados.
Outro exemplo é o isopor, que no passado não era reciclado, mas agora já há tecnologia e interesse da indústria para reaproveitá-lo.
Caminhões já estampam os novos personagens da “Família Folhas”
(Foto: Ricardo Marajó/SMCS)
A Família Folhas cresceu e está mais diversa
Todo o material da nova campanha é ilustrado com os simpáticos integrantes da Família Folhas, uma referência clara à associação entre a preservação do meio ambiente e a nossa responsabilidade em dar um destino correto ao lixo que geramos.
Além dos quatro personagens originais, o grupo agora ganhou novos integrantes: Fofis se tornou mãe solo de um menino e de uma adolescente PcD (pessoa com deficiência), enquanto Fifo virou o “pai” do pet Folha Folheco, um cãozinho adotado.
“Neste novo cenário temos a inclusão e os novos modelos de convivência social”, explica Ziraldo.
O gibi “Família Folhas”: novos personagens, mais informações
(Foto: Hully Paiva/SMCS)
Seguem abaixo esclarecimentos que fazem parte da campanha e podem servir para outras cidades brasileiras também:
O que separar
Basicamente, há duas categorias essenciais de lixo: o úmido e o seco. Eles precisam ser acondicionados em embalagens distintas umas das outras, para melhorar a eficiência do processo.
O lixo úmido é o formado por restos de comida e rejeitos de banheiro, principalmente. Parte dos restos de comida podem ser destinados à compostagem – e, portanto, ter outra utilidade.
Lixo úmido deve ser acondicionado em sacos pretos para ser enviado à coleta comum. Já o lixo seco é aquele composto basicamente por embalagens, que devem ser livres de contaminação (portanto, precisam estar limpas) antes de ser enviado para coleta. O material deve ser acondicionado em sacos coloridos (outra cor que não seja a preta) ou, ainda, em caixas de papelão.
Que horas descartar?
Tanto o lixo domiciliar comum quanto o reciclável devem ser colocados na lixeira para recolhimento nos horários próximos da passagem dos caminhões de coleta – as duas têm dias e horários distintos e por região.
Isso evita, por exemplo, que um animal revire o material e suje a rua (o que, de quebra, pode atrair bichos como ratos e baratas).
Cada região tem os seus dias e horários específicos de coleta. Está em dúvida de quando passa na sua casa? Consulte o site (coletalixo.curitiba.pr.gov.br).
Isso é importante, vale reforçar: horário próximo tem de ser próximo! Se a coleta passa à noite, por exemplo, nada de colocar o lixo de manhã ou cinco horas antes.
Precisa limpar
As embalagens do lixo reciclável não devem estar com restos de comida ou sujos ao serem encaminhadas para reciclagem.
Se não estiver limpo, o material perde seu valor comercial – além de atrair vetores de doenças (como ratos) e causar mau cheiro.
Portanto, é preciso limpá-lo. O material pode ser limpo no momento de lavar a louça, aproveitando a água que já seria utilizada.
Não precisa passar esponja com detergente; tirar os excessos com água já resolve. O excesso também também pode ser retirado com um guardanapo já utilizado
E se for de papelão? Claro, não dá pra lavar, mas é preciso raspar os restos de comida, molho etc.
Itens como remédios ou produtos de limpeza requerem atenção especial.
Recicla ou não recicla?
Um guia rápido para os materiais mais comuns:
Caixa e sacola de plástico
Recicla. Depois de retirar todo o resíduo de alimento do recipiente plástico, ele pode ser destinado ao lixo reciclável.
Embalagem de isopor
Recicla. Assim como acontece com o plástico, é preciso retirar todo o resíduo das embalagens de isopor e destiná-las limpas e secas.
Marmita de alumínio
Recicla. Mantém-se o cuidado de retirar bem os resíduos de alimentos para destinar as marmitas de alumínio para reciclagem.
Talher descartável
Recicla. Mas, sempre que possível, reutilizar.
Guardanapo e papel toalha
Pode reciclar, desde que estejam limpos. Se forem usados apenas para secar água, por exemplo, assim que secarem, podem ser destinados à reciclagem. Mas aqueles que foram usados e estão com gordura e outros tipos de sujeira devem ir para o lixo comum.
Embalagens de remédios
Uma parte recicla, outra não. As caixinhas de papel que servem de embalagem devem ser encaminhadas para reaproveitamento. Já as cartelinhas de comprimidos vazias e os vidros ou tubinhos de plástico de remédio não podem ir para a reciclagem, já que contém resquícios de produtos químicos. Muitas farmácias têm locais específicos para receber esse material. No sistema do município, o descarte deve ser feito no caminhão do Lixo Tóxico (veja o cronograma no site https://coletalixo.curitiba.pr.gov.br/lixo-toxico). Nunca descartar o conteúdo de remédio no lixo comum.
Produtos de limpeza e higiene
Embalagens de papelão, metal e plástico que tenham sido adquiridas com estes produtos podem ser separadas e encaminhadas para a reciclagem desde que não haja nenhum resíduo que, em geral, contém componentes químicos. Ou seja, limpar bem antes de encaminhar.
Lixo eletroeletrônico
Monitores, computadores, notebooks, aparelhos de TV, fax, de telefonia fixa, celulares, entre outros equipamentos sem uso ou estragados são encaminhados corretamente por meio de mutirões de recolhimento mensais realizados pela Secretaria do Meio Ambiente. Resíduos deste tipo podem, ainda, ser apresentados à coleta do Lixo que Não É Lixo (um item) ou levados aos Ecopontos mistos (são 11 na cidade). Três regionais da cidade também instalaram pontos fixos para coleta: Boqueirão, Tatuquara e Cajuru. O material é encaminhado a associações do Ecocidadão, que fazem a separação correta. Eletroeletrônicos descartados de maneira incorreta ou em aterros sanitários podem causar poluição ambiental em função de seus componentes tóxicos.
Embalagens de salgadinho
Recicla – Apesar de ser complicado, em função de envolver vários tipos de plástico, é possível encaminhar para a separação, sim. O mercado não é muito receptivo ao produto, mas assim como com o isopor, podem aparecer novas tecnologias para facilitar e popularizar a reutilização do material.
Óleo de cozinha
Recicla – Óleo usado em frituras, de origem animal ou vegetal, pode ser encaminhado para a coleta seletiva ou para o Câmbio Verde, com o líquido bem acondicionado em garrafas pet. Ecopontos e caminhões do Lixo Tóxico também recebem o resíduo.
Trabalho de reciclagem de resíduos em Curitiba
(Foto: Hully Paiva/SMCS)
Ainda hoje, somente 22 milhões de brasileiros têm em suas cidades programas de coleta seletiva, o que representa 18% da população. E só 2,1% dos resíduos coletados em todo o país são reciclados.
Entre os países que têm o índice mais alto de reciclagem estão Alemanha, Coreia do Sul, Bélgica, Áustria e Suíça.
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Foto de abertura: Pedro Ribas/SMCS