Os botos brasileiros são conhecidos como os “Embaixadores dos Rios da Amazônia”. Na América do Sul e na Ásia, há várias espécies deste animal, um golfinho de água doce, mas é em nosso país que que se encontra a maior população deles do planeta. A região da Floresta Amazônica é habitat de duas espécies destes mamíferos aquáticos: o boto cor-de-rosa (Inia geoffrensis), também conhecido como boto-vermelho e o tucuxi (Sotalia fluviatilis).
Todavia, após estudos feitos ao longo dos últimos anos, pesquisadores se surpreenderam ao constatar a presença desses botos em alguns rios do Amapá, em áreas onde não se tinha a confirmação de sua existência.
Através de visitas de campo, pesquisas bibliográficas e depoimentos com comunitários e ribeirinhos, pesquisadores do WWF-Brasil, do Instituto Mamirauá e do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA) conseguiram comprovar a presença dos botos numa extensão de 4.224 km dos rios do estado, inclusive, no Cassiporé, isolado no extremo norte e e sem conexão continental com outros rios.
A equipe está intrigada como eles podem ter chegado ali. “Acreditamos que em épocas de grande vazão do rio Amazonas tenha sido possível uma migração destes animais por uma região próxima à costa onde, durante esses períodos, o forte fluxo de água doce forma a pluma do rio Amazonas”, diz Marcelo Oliveira, especialista em conservação do WWF-Brasil.
O monitoramento também revelou a presença de outra espécie nessa área do Amapá, o boto-cinza (Sotalia guianensis), que é um animal marinho costeiro, entretanto, existem vários registros de entrada dele em rios Amazônicos.
“Tudo é novo, pois não havia nada publicado sobre estes animais naquela região; estamos escrevendo a história dos mamíferos aquáticos do Amapá agora”, diz Miriam Marmontel, líder do Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.
Os moradores da região foram essenciais para a pesquisa. Foram eles que relataram que os botos podiam ser observados nos rios. O objetivo agora, com o novo conhecimento da distribuição geográfica dessas espécies, é delinear melhores estratégias de conservação.
Um grupo de tucuxis no rio Tapajós
Segundo a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN na sigla em inglês), o boto-cinza é classificado como um animal com “dados insuficientes”, por isso não se sabe se ele está ameaçado de extinção ou não. Já o boto-cor-de-rosa e o tucuxi são considerados “em perigo”. Isso significa que as espécies possuem grande chance de entrar em extinção na natureza.
No Amapá, especificamente, entre as principais ameaças aos botos estão a construção de usinas hidrelétricas, que isolaram algumas populações da espécie e mudaram a vazão do rio, assim como a criação de búfalos, que acabaram divergindo os canais do Araguari, reduzindo a força de suas caças.
Outro grande problema, do qual já falamos aqui, é o despejo de metais pesados no rio e a contaminação dos botos por eles, sobretudo, com mercúrio (leia mais aqui).
Boto-cor-de-rosa numa floresta inundada no rio Ariau, afluente do rio Negro, na Amazônia
*Texto atualizado em 30/07/21 para corrigir a informação de que o boto-cinza seria uma espécie de rio. A informação está errada. Ele é um animal marinho costeiro
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Fotos: naturepl.com _ Mark Carwardine (abertura), Kevin Schafer (última) e Adriano Gambarini (tucuxis)/(WWF)
o boto-cinza (Sotalia guianensis) é marinho costeiro. Não é de água doce e ocorre em todo o litoral do Brasil até o sul onde está o seu limite de distribuição meridional
Oi Rafael,
Obrigada pela mensagem.
Você tem toda razão. Já corrigimos o texto. Valeu pelo alerta!
Abraço,
Suzana