O pequeno tubarão epaulette, descoberto recentemente nos recifes ao redor da Grande Barreira de Corais, chamou a atenção de pesquisadores da Florida Atlantic University (FAU) ao quebrar as regras de sobrevivência da espécie.
Em geral, os tubarões epaulette – catalogados em 2000 – suportam curtos períodos de baixo oxigênio e de CO2 elevado, como também temperaturas que se alteram à medida que os recifes ficam isolados com a maré vazante.
No entanto, o tubarãozinho em questão caminha dentro e fora d’água usando as barbatanas como remos e contorcendo seu corpo, e ainda suporta ambientes sem oxigênio (anoxia completa) por cerca duas horas, sem qualquer efeito adverso. Além disso, aguenta temperaturas muito altas do oceano.
Por suas habilidades incomuns nos estágios iniciais de vida, tornou-se tema de estudo inédito (publicado pela revista Integrative & Comparative Biology, da Oxford Academy), que conta com a colaboração da James Cook University da Macquaire University, da Austrália.
Adaptação e sobrevivência
O tubarão epaulette consegue se mover de maneira eficiente entre micro-habitats em condições ambientais desafiadoras, como as citadas, o que pode impactar sua sobrevivência. Mas quase não há estudos sobre seus movimentos corporais(cinemática), principalmente nos estágios iniciais de vida, e eles podem ser importantes respostas às mudanças climáticas.
Ou seja, a espécie deve estar se transformando, assim que nasce, para garantir sua sobrevivência em ambientes cada vez mais hostis.
A pesquisadora Marianne E. Porter da FAU, principal autora do estudo, destaca que as características locomotoras dos animais definem sua sobrevivência, protegendo-os de predadores, tanto do ar quanto do mar. E podem estar relacionadas também ao seu desempenho fisiológico sob condições ambientais desafiadoras, provocadas pelas alterações do clima, “um tópico importante para estudos futuros”.
Para compreender como a espécie responderá às futuras condições dos oceanos, que já sofrem muito com o aquecimento global, os cientistas resolveram estudar as diferenças entre tubarões recém-nascidos e juvenis. E se surpreenderam.
As diferenças corporais das duas fases – recém-nascidos têm barriga saliente onde carregam alimentos e a perdem quando se tornam jovens, tornando-se longilíneos – não alteraram os movimentos dos tubarões, como pensavam.
Porter conta que esse estudo leva a uma melhor compreensão sobre a capacidade do tubarão epaulette – e talvez de espécies relacionadas – “de se mover dentro e fora de condições desafiadoras em seus habitats”, oferecendo insights sobre os mecanismos que permitem que “os animais compensem as restrições para atender necessidades locomotoras e demandas ecológicas”.
A habilidade deste pequeno tubarão, com menos de um metro de comprimento – que vive num dos ecossistemas mais agredidos pelas alterações climáticas – pode dar pistas sobre a resiliência possível e urgente da vida nos oceanos, no presente e num futuro próximo.
Agora, assista ao vídeo de autoria do pesquisador Connor Gervais (um dos coautores do estudo) que mostra os movimentos sinuosos e o uso das barbatanas por um tubarão epaulette recém-nascido e outro, jovem:
Fonte: Florida Atlantic University/FAU
Foto (destaque): Divulgação/FAU